Jair Bolsonaro espalhou medo com mensagens sobre 'sangue' e 'guerra civil'
Ex-presidente foi classificado pela PF como "difusor de mensagens com conteúdo de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas"
Quanto mais se cava, mais complicada fica a situação Jair Bolsonaro (PL). A Polícia Federal descobriu que a ordem para disparo de fake news encaminhada ao empresário Meyer Nigri, e revelado nesta segunda-feira (22), não foi a única mensagem compartilhada pelo então chefe do Executivo com o intuito de espalhar uma onda de desconfiança entre os eleitores.
A PF identificou que Bolsonaro repassou ao menos 18 textos ao fundador da construtora Tecnisa ao longo do ano passado, contendo ataques ao Judiciário e mentiras sobre urnas eletrônicas e vacinas contra a Covid-19. As mensagens eram repassadas depois a outros empresários. Bolsonaro foi classificado pela PF como "difusor de mensagens com conteúdo de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas".
Segundo reportagem de Aguirre Talento, no portal Uol, o contato atribuído ao ex-presidente tratou em ao menos duas mensagens sobre uma possível "guerra civil" e "derramamento de sangue" no caso de derrota nas eleições do ano passado. Bolsonaro foi intimado pela Polícia Federal para prestar depoimento sobre o assunto, no próximo dia 31, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter prorrogado a investigação.
"O terminal identificado como utilizado pelo presidente da República Jair Bolsonaro encaminhou diversas mensagens contendo ataques às instituições, especialmente o Supremo Tribunal Federal, ao sistema eletrônico de votação e às vacinas desenvolvidas para combate à covid-19. Após receber o conteúdo, Meyer Nigri realizou a disseminação de tais mensagens para diversos grupos e chats privados de WhatsApp. Resumidamente, os fatos apontam para a atuação do presidente da República Jair Bolsonaro como difusor inicial das mensagens", diz a investigação da PF, obtida pelo jornalista.
Uma das mensagens repassadas a Nigri, no dia 21 de junho de 2022, tem um vídeo atacando Moraes e o sistema de votação, com um suposto esquema de fraudar eleições. O dono da Tecnisa entrou na mira da PF após uma reportagem do site Metrópoles, naquele mês, mostrar o envio de mensagens de teor golpista a um grupo que continha outros sete empresários.
"A ESTRATÉGIA, O PODER, A QUALQUER CUSTO. O POVO TÁ ESPERTO. Compartilhem. A PF precisa ver isso. TEREMOS SANGUE!!! GUERRA CIVIL", diz o texto que acompanha o vídeo, que foi enviado por Bolsonaro com a frase: "Eis o enredo das eleições de 2022. Você confia nos 3 min(istros) do TSE/STF?". Nigri recebeu a mensagem e encaminhou para dois grupos, além de contatos privados.
Segundo o site, para os investigadores, a mensagem encaminhada a Nigri no dia 21 de junho de 2022 pode “vincular o ex-presidente aos atos golpistas do dia 8 de Janeiro“.
Mas não foi só. No dia 8 de agosto, nova mensagem propagada por Bolsonaro afirma que "o STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil". O texto, que circulou em grupos bolsonaristas, continha uma série de fake news sobre a corte e as eleições.
Mentiras sobre as urnas
Além de ataques contra o sistema de votação, o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro propagou fake news contra as vacinas da Covid-19, segundo a PF, que foram disseminadas por Nigri.
Uma das mensagens, enviada por Bolsonaro em 1º de maio de 2022, dizia: "Hackers impediram Bolsonaro de ganhar as eleições de 2018 no 1º turno. Mas não agiram da mesma forma no 2º turno porque o PT não lhes pagou a metade do prometido logo após o 1º turno". A informação é falsa. O TSE chegou a determinar a Bolsonaro que apresentasse provas de fraudes na eleição de 2018, e ele nunca as apresentou.
Em 21 de julho de 2022, Bolsonaro encaminhou a Nigri uma imagem de uma publicação em rede social com ilações sobre possíveis fraudes no sistema eletrônico de votação, afirmando que a fraude supostamente ocorreria no momento de transmissão da totalização de votos por estado.
Mentiras sobre a vacina
O ex-presidente também encaminhou ao empresário Meyer Nigri, ao menos quatro vezes, notícias falsas sobre as vacinas da covid-19. Todas diziam que as vacinas não eram seguras e apresentavam efeitos colaterais nunca comprovados. Segundo o UOL, a PF considerou esse fato relevante porque Bolsonaro já foi alvo de uma outra investigação sobre a divulgação de notícias falsas da vacina.
O outro lado
Ao site, a defesa de Nigri negou ser dono de uma rede de desinformação e alega que “apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias”.
Bolsonaro, por sua vez, admitiu a ordem para o disparo de fake news, porém minimizou a gravidade do caso.
"Eu mandei para o Meyer, qual o problema? O (ministro do STF e então presidente do TSE Luís Roberto) Barroso tinha falado no exterior (sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021), eu sempre fui um defensor do voto impresso", disse.