Padre Júlio Lancellotti recebe ameaça por fazer o bem: 'Petista vagabundo! Seu dia de reinado vai acabar'
Líder religioso é conhecido por seu trabalho de ajuda às pessoas em situação de rua
"Não nos cansemos de fazer o bem. Pois, se não desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita. Portanto, sempre que pudermos, devemos fazer o bem a todos, especialmente aos que fazem parte da nossa família na fé". Trata-se de uma passagem cristã. A escritura está no livro de Gálatas, capítulo 6, versículo 9.
No Brasil, um líder religioso ganhou destaque justamente por seguir esses dogmas cristãos. Padre Júlio Lancellotti, da paróquia de São Miguel Arcanjo, em São Paulo, é conhecido por seu trabalho de ajuda às pessoas em situação de rua, incluindo a evangelização, doação de alimentos e abrigo para moradores sem teto.
É também pelo seu combate contra a pobreza e desumanização do ser humano que o padre recebe ameaças de apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Neste domingo, uma carta foi deixada na porta da igreja em que ele prega. O bilhete, escrito à mão, acusa Lancellotti de defender os ‘direitos dos bandidos’ e usar os fiéis em favor próprio.
"Padreco de merda, pensa que aqui é partido político; defensor dos direitos dos bandidos; petista vagabundo, usa o povo para te favorecer. Seu dia de reinaldo (sic) aqui vai acabar, pode esperar”, diz a mensagem.
Padre Júlio Lancellotti se pronunciou: "Bilhete que hoje estava na porta da igreja, encontrei logo cedo, colocaram com o portão fechado".
Logo depois da postagem, vários seguidores do religioso, incluindo famosos, prestaram apoio ao sacerdote.
"Você é um revolucionário. Seu trabalho nos inspira diariamente", escreveu Monica Martelli. "Força sempre . Sua luta é a mesma dos homens e mulheres de bem!", apoiou o ator Jandir Ferrari. "Meu querido!!! Força e Fé!! E polícia pra te achar quem fez isso", afirmou a apresentadora Astrid Fontenelle.
O pároco ganhou destaque neste mês após o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que proíbe a remoção forçada de pessoas em situação de rua e o recolhimento de seus bens. A pauta no STF partiu de uma das principais lutas de Julio Lancelotti pelos direitos desta parcela da população. Ateriormente, a Justiça de São Paulo tomou uma decisão semelhante que inclui um veto à ‘arquitetura hostil’ – prática que altera espaços públicos para que pessoas não possam se sentar, deitar-se ou montar acampamentos.
Lancellotti também ganhou destaque neste mês ao criticar duramente a sugestão do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), em criar escolas rurais para servir de internato para essa parcela da população de rua. O governador recuou da proposta após ser duramente rechaçado e receber comparações aos campos de concentração.
Nas redes sociais, parlamentares demonstraram apoio ao padre. Veja abaixo: