INFORME JB
Plano da Swat? Fora da casinha, Marcos do Val diz que atuou ‘dois anos para prender Moraes’
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 05/09/2023 às 17:04
Alterado em 05/09/2023 às 19:51
A Polícia Federal (PF) interceptou mensagens em que o senador Marcos do Val (Podemos-ES) diz ter "trabalhado por dois anos" para prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O diálogo de WhatsApp encontrado no celular do parlamentar remete a fevereiro deste ano.
No dia 2 daquele mês, o bolsonarista conversou com uma pessoa identificada como "Elmo", que disse ao parlamentar: "o que precisar de nós é só falar. Se precisar estar aí com você, é só falar. Tamo junto na alegria e na tristeza”.
Como resposta, o bolsonarista, que tem sua trajetória catapultada pelo fato aparentemente extraordinário de ser instrutor da SWAT nos Estados Unidos, afirma: "Estou há dois anos trabalhando para prender Alexandre de Moraes”.
Pouco depois, Elmo encerra: “Batalha dura”. Segundo apurou a coluna de Paulo Cappelli, do Metrópoles, o interlocutor seria irmão de Do Val.
O celular do congressista foi apreendido no âmbito do inquérito da PF que apura uma suposta trama de golpe de estado, que teria contado também com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).
Foi com base nas mensagens encontradas no telefone interceptado que investigadores da PF pediram a prisão de Do Val a Alexandre de Moraes, em junho. Após ser alvo de busca e apreensão, o ex-policial passou mal e, depois, pediu licença médica de 115 dias.
'Bolsonaro impressionado'
Contumaz propagador de mentiras e discurso de ódio nas redes sociais, Do Val, em outra conversa, essa com seu pai, Humberto, se gaba de ter "provocado" a imprensa para mobilizar a sociedade para pedir a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de Janeiro.
“Olha os relatórios do que provocamos na imprensa brasileira em um único dia! Superou as expectativas, e a primeira fase foi concluída. Essa missão foi provocar a imprensa e a sociedade para pedir aos seus representantes no Congresso as assinaturas para a abertura da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) sobre o dia 08 de janeiro!”, escreveu Do Val no fim da tarde do dia 25 de fevereiro.
Em seguida, ele diz ao pai que estava sendo parabenizado por "generais" e sobre qual seria o objetivo dos bolsonaristas na Comissão Mista Parlamentar de Inquérito.
“Disse que não imaginava que faria isso e os generais não paravam de ligar para ele, para dizer que descobriram as minhas ações e parabenizando. Disse que a CPMI iria dar início ao fim do Lula e Xandão. Lula acredito que conseguimos impeachment, o Xandão vai perder a força e vai mergulhar”.
Neste momento da conversa, Do Val não detalha a Humberto quem foi o general que “disse”. Na sequência, ele finaliza: “Bolsonaro está muito feliz. E impressionado de eu ter feito tudo sozinho”.
'Afastamento do ministro'
No pedido de prisão preventiva de Marcos do Val feito a Alexandre de Moraes, policiais citaram suposta tentativa do senador de atrapalhar as investigações. No celular apreendido, a PF destacou mensagens enviadas pelo parlamentar ao senador Sérgio Moro e ao deputado Eduardo Pazuello explicando como pretendia afastar Moraes do inquérito dos atos golpistas.
Os investigadores relatam que Do Val compartilhou com os dois parlamentares uma cópia de sua oitiva à Polícia Federal:
“Esse meu depoimento, eu incluo o ministro AM [Alexandre de Moraes] e tecnicamente ele é obrigado a sair da relatoria dos Atos antidemocráticos”, diz uma primeira mensagem.
Em seguida, Do Val continua:
“Temos que passar para os influenciadores que o Senador do Val abriu o caminho para o afastamento do ministro e para o impeachment do Lula”.
Em nenhum momento, a PF aponta qualquer irregularidade por parte de Moro ou Pazuello no referido caso.
'Núcleo duro na PGR'
Um outro diálogo destacado pela PF faz referência ao procurador-geral da República, Augusto Aras. No relatório, os investigadores afirmaram que Do Val dizia a interlocutores ter um “núcleo duro” na Procuradoria-Geral da República para dar “início a ações criminais contra Moraes”.
A Polícia Federal, contudo, pontuou que os diálogos com integrantes da PGR passaram longe de retratar qualquer relação de proximidade.
“Em nenhum momento foram identificadas mensagens que possam traduzir a formação de uma espécie de equipe entre o Senador e a PGR, a fim de tomarem alguma medida contra o Ministro Alexandre de Moraes. Na verdade, nas conversas com esses interlocutores, Do Val envia o mesmo repertório de mensagens que encaminha para uma variedade de contatos”, diz a PF no relatório enviado ao ministro do STF.
“Não há sequer resposta ou diálogos que permitam demonstrar proximidade entre Do Val e os Procuradores da República sobre o assunto. Augusto Aras, por exemplo, reserva-se no direito de responder Do Val em mais de uma vez com a mensagem: ‘Prerrogativas de Senador hão de ser defendidas pelo Senado'”.