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Soco na mesa e Bolsonaro em pânico: Freire Gomes, o general linha-dura que ameaçou prender o presidente da República, caso houvesse golpe

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Publicado em 15/03/2024 às 17:49

Alterado em 17/03/2024 às 08:18

General Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército Foto: Alan Santos/PR

Teria sido tensa, longa e ruidosa a reunião em que o então comandante do Exército, general Freire Gomes,  socou a mesa e, sem "arregar" para o chefe, ameaçou prender Bolsonaro, caso ele voltasse a falar em ruptura constitucional. Bolsonaro teria ficado vermelho feito pimentão, e com cara de pânico.

É o que se comenta na alta cúpula da caserna há muito tempo, e o que, pelo menos em parte, foi confirmado pelo  tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, em depoimento à Polícia Federal (PF). O teor do depoimento teve o sigilo derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da matéria no STF, nesta sexta (15).

"Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", disse o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB). 

Ainda segundo Baptista Jr, Freire Gomes desincentivou Bolsonaro a se valer de teses jurídicas estranhas para dar um golpe, como a decretação de estado de sítio, estado de defesa, ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 

Segundo relatório da PF, Baptista Jr. disse que, em reunião com Bolsonaro, ele próprio deixou claro que se opunha a qualquer plano golpista e que não havia mais possiblidade do então presidente permanecer no cargo. 

"Em outra reunião de comandantes das Forças com o então presidente da República, o depoente deixou evidente a Jair Bolsonaro que não haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer no poder após o término do seu mandato. Que deixou claro ao então presidente Jair Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no poder", diz o relatório da PF sobre o depoimento. 

Carlos-Almeida Baptista Júnior acrescentou ter participado de cinco ou seis reuniões com Bolsonaro e os outros comandantes das Forças Armadas, após a eleição presidencial de 2022. O tenente-brigadeiro disse ter alertado o presidente que não havia fraude nas urnas eletrônicas, tese defendida pelos apoiadores de Bolsonaro para justificar a permanência no poder. 

Segundo contou a PF, o ex-comandante disse que Bolsonaro era atualizado sobre os trabalhos do representante da Aeronáutica na Comissão de Fiscalização das Eleições, sendo avisado que nenhuma fraude havia sido encontrada na votação do primeiro ou do segundo turno. 

O único que "colocou as tropas à disposição" de Bolsonaro, de acordo com Baptista Jr., foi o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha. 

Indagado sobre quando lhe foi apresentada uma minuta para a decretação de golpe, Baptista Jr. disse que o documento foi exibido aos comandantes das Forças Armadas em reunião no Ministério da Defesa, em 14 de dezembro de 2022, pelo então titular da pasta, general Paulo Sérgio de Oliveira. 

De acordo com o relato do ex-comandante da Aeronáutica, Oliveira colocou a minuta sobre uma mesa e disse que gostaria de apresentar o documento "para conhecimento e revisão". 

"Que o depoente entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; Que, diante disso, o depoente disse ao Ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; Que a Força Aérea não admitiria tal hipótese (Golpe de Estado)", diz a transcrição do depoimento de Baptista Jr, feita pela PF. 

Pelo depoimento do ex-comandante da FAB, o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, "expressou que também não concordaria com a hipótese de analisar o conteúdo da minuta". Baptista Jr. disse ter se retirado da sala em seguida, mas acrescentou que, enquanto esteve na reunião, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, "não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da minuta". 

Baptista Jr. disse ainda aos investigadores que, ao comunicar o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que não aderiria a nenhuma "virada de mesa", este teria ficado "atônito" com a afirmação. (com Agência Brasil)

Biografia

General Freire Gomes nasceu na cidade de Pirassununga, estado de São Paulo, em 31 de julho de 1957. Na Academia Militar das Agulhas Negras, foi declarado aspirante a oficial da Arma de Cavalaria em 15 de dezembro de 1980. Como oficial-general, foi Comandante da Brigada de Operações Especiais e do Comando de Operações Especiais, em Goiânia (GO), e 1º Subchefe do Comando de Operações Terrestres (COTER), em Brasília (DF).

Em 31 de julho de 2014, foi promovido a general de divisão, sendo nomeado Comandante da 10ª Região Militar, em Fortaleza (CE). Posteriormente, assumiu o cargo de Secretário-Executivo do GSI/PR, em Brasília (DF). Em 31 de julho de 2018, foi promovido ao posto de general de exército e nomeado para o cargo de Comandante Militar do Nordeste, em Recife (PE). Ao passar o Comando do CMNE, assumiu o cargo de Comandante de Operações Terrestres, em Brasília (DF), no qual permaneceu até assumir o Comando do Exército em 1º de abril de 2022.

Sob seu comando, o Exército exerceu a presidência do 35º ciclo da Conferência dos Exércitos Americanos; participou do maior exercício de simulação virtual, Exercício Viking 2022, coordenado com o Reino da Suécia, e do exercício combinado com o Exército dos Estados Unidos da América, CORE 22. Em seu comando, foi aprovada a criação do Colégio Militar da Vila Militar, no Rio de Janeiro (RJ); foi assinado o contrato para aquisição e início da implantação do Projeto Viatura Blindada de Combate de Cavalaria Média Sobre Rodas; a 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea foi transformada em Comando de Defesa Antiaérea do Exército; e foi celebrado, entre o Exército Brasileiro e o estado de Pernambuco, o Acordo de Cooperação da Nova Escola de Sargentos do Exército.