Voz da ligação que afastou Eduardo Appio da Lava-Jato não é dele, diz parecer técnico

Parecer foi foi assinado por técnico em Fonética da Universidade Federal de São Carlos (SP)

Por GABRIEL MANSUR

Juiz Eduardo Appio tem incomodado por ter pensamento antagônico ao de Sergio Moro

A voz da gravação telefônica que tirou o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba - e consequentemente dos processos da Operação Lava Jato - pode não ser de Appio. A informação consta em laudo técnico obtido nesta segunda-feira (5) pela Revista Fórum.

O documento foi assinado pelo professor Pablo Arantes, coordenador do Laboratório de Fonética da Universidade Federal de São Carlos (SP).

A escala adotada pelo TRF-4 para atestar sua interpretação a respeito da ligação telefônica tem nove pontos, que vão de -4 a +4, passando pelo zero. Eles se dividem, em resumo, da seguinte forma:

  • o -4 deve ser usado quando as evidências contradizem muito fortemente a hipótese de mesma origem em duas gravações;
  • o +4 cabe diante de evidências que confirmam muito fortemente a hipótese de mesma origem;
  • o nível 0 se aplica a situações em que as evidências são inconclusivas, ou seja, não ajudam a confirmar ou a rejeitar a hipótese.

Segundo o perito, o laudo no qual o TRF-4 se baseou para afastar Appio não é conclusivo.

“Com base nas análises técnicas realizadas e na minha experiência profissional como doutor na área de linguística, especialista na área de fonética, pesquisador na área de fonética forense e autor de diversos artigos e outras publicações na área, afirmo que o nível 0 seria o adequado para o caso, não se podendo corroborar, nem contradizer a hipótese de mesma origem para as vozes”, diz o trecho do laudo.

As razões para essa conclusão, segundo o professor, “são a inespecificidade e baixo poder discriminatório das características linguísticas identificadas e analisadas no Laudo”.

Arantes sustenta que os pontos de maior segurança do laudo utilizado pelo TRF-4 permitem dizer que os dois falantes são do sexo masculino e recorrem a alguma variedade linguística entre as diversas registradas na “região sul”.

Eles poderiam estar inseridos, portanto, em um universo de aproximadamente 15 milhões de pessoas.

Defesa se manifesta

O parecer entra no contexto de uma nova petição protocolada pelo escritório Warde Advogados, que faz a defesa de Appio, e pede "imediata reintegração à condição de Juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba".

“O peticionário (Eduardo Appio) não promoveu a referida ligação telefônica a João Eduardo Barreto Malucelli. Frise-se: o peticionário, com veemência, consigna que não realizou o diálogo que lhe é imputado através da realização de uma apressada perícia que desrespeitou a cadeia de custódia. Os celulares através dos quais foram realizados os supostos diálogos sequer foram apreendidos e periciados", diz trecho da petição.

O laudo aumenta a suspeita de que o afastamento de Appio foi armado para proteger nomes como o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, que estariam na mira de novas investigações relacionadas aos processos da Lava Jato.

Após o afastamento de Appio, a juíza Gabriela Hardt, grande parceira de Moro, voltou a ser responsável pela 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná e reassumiu a Operação Lava Jato. Foi Gabriela quem "copiou e colou" a sentença de Moro no caso do triplex do Guarujá para condenar Lula em relação ao Sítio de Atibaia.

Afastamento

O juiz Eduardo Appio foi afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba depois que uma investigação apontou que ele pode ter acessado um processo com o contato do filho de Marcelo Malucelli, desembargador afastado da operação Lava Jato, e feito uma ligação fora do horário jurídico.

O receptor da ligação teria sido João Eduardo Barreto Malucelli, que integra, como sócio, a Wolff & Moro Sociedade de Advogados, escritório de advocacia de Sergio Moro e sua esposa, a deputada federal Rosângela Moro (União-SP).

Marcelo Malucelli é o desembargador que tentou impedir, antes de se declarar suspeito, o depoimento de Rodrigo Tacla Duran, que acusa Sérgio Moro e Deltan Dallagnol de extorsão, à 13ª Vara Federal. Foi ele também quem derrubou uma decisão da jurisdição que havia revogado ordem de prisão contra o ex-advogado da Odebrecht.