JUSTIÇA

Caso Cancellier: Dino vai apurar possíveis abusos que culminaram em prisão e suicídio de ex-reitor da UFSC

Na quinta-feira, o TCU descartou qualquer irregularidade cometida pelo educador em 2017; ele foi preso de forma arbitrária na Operação Ouvidos Moucos

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 09/07/2023 às 15:36

Alterado em 09/07/2023 às 16:23

Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-reitor da UFSC, se matou em 2017 após ser alvo indevido da Polícia e Justiça federais Foto: Divulgação/UFSC

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou, nesse sábado (8), que vai adotar "as providências cabíveis" para apurar possíveis irregularidades e abuso de poder nas atuações de agentes públicos que, em 2017, levaram à prisão o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que cometeu suicídio em consequência da situação de humilhação que viveu.

A manifestação do ministro vem na sequência da decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que descartou qualquer irregularidade e julgou improcedente a acusação de superfaturamento supostamente cometido por Cancellier no episódio, registrado em outubro de 2017. A confirmação foi enviada à UFSC na última quinta-feira (6).

"Com base na decisão do TCU sobre as alegações contra o saudoso reitor Luiz Carlos Cancellier, da UFSC, na próxima semana irei adotar as providências cabíveis diante de possíveis abusos e irregularidades na conduta de agentes públicos federais", afirmou Flávio Dino.

No dia 14 de setembro de 2017, o educador foi preso na Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal. Ele ficou detido por 36 horas. Depois que foi solto, ficou impedido de retornar à universidade. Cancellier, que foi diagnosticado com depressão, se recolheu em casa por 18 dias, enquanto respondia em liberdade, até que se jogou do último andar de um shopping center em Florianópolis. No bolso, ele carregava um bilhete dizendo que sua morte tinha sido decretada quando ele foi afastado da UFSC. 

Quem também comentou a decisão da Corte de contas foi a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-SC).

"Preso, acorrentado, algemado e humilhado por uma operação nos moldes da Lava Jato, o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, foi inocentado pelo TCU. Não houve irregularidades na universidade, Cancellier sempre foi inocente", disse.

Entenda o caso

A operação Ouvidos Moucos investigou um suposto esquema de repasses que totalizaram cerca de R$ 80 milhões, em verbas para o Ensino a Distância (EaD). Segundo a PF, foi identificado que docentes da UFSC, empresários e funcionários de instituições e fundações parceiras teriam atuado para o desvio de bolsas e verbas de custeio por meio de concessão de benefícios a pessoas sem qualquer vínculo com a Universidade.

Luiz Carlos Cancellier, nos mesmos modus operandi da operação Lava Jato, teve sua prisão decretada pela delegada da Polícia Federal, Erika Mialik Marena. A prisão do ex-reitor e de outros trabalhadores da UFSC durou 36 horas, e foi autorizada pela juíza federal Janaina Cassol Machado, da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal de SC. Após assinar o despacho, a magistrada entrou em período de licença médica. No dia seguinte, a juíza que a substituiu no processo, Marjôrie Freiberger - da Vara Ambiental da JFSC - autorizou com os supeitos respondessem em liberdade. Após serem liberados, eles foram proibidos de retornar à universidade.

O reitor foi preso em 14 de setembro de 2017, acusado de tentar obstruir investigações internas na universidade. Dezoito dias depois de sua prisão, especificamente em 2 de outubro de 2017, Cancellier se jogou do último andar de um shopping em Florianópolis. No bolso da calça de Cancellier foi encontrado um bilhete onde ele escreveu que sua morte tinha sido decretada quando o afastaram da UFSC.

Segundo conhecidos, Cancellier passou a depender de tratamento psicológico à base de remédios após a prisão. Ele era reitor da UFSC desde março de 2016.