JUSTIÇA

Seis anos após tragédia de Brumadinho, responsáveis ainda não foram julgados

Famílias das vítimas realizam Ato por Memória e Justiça em São Paulo, Ouro Preto e Brumadinho. Impactos ambientais ainda não foram totalmente mensurados

Por JORNAL D0 BRASIL com O Eco
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Publicado em 26/01/2025 às 06:03

Alterado em 26/01/2025 às 10:45

Tragédia em Brumadinho matou 272 pessoas Foto: Corpo de Bombeiros/MG

Por Cristiane Prizibisczki - Às 12h28 deste domingo (26), uma sirene irá tocar na Avenida Paulista, em São Paulo, para lembrar à população o que os responsáveis pela barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, deveriam ter feito no dia 25 de janeiro de 2019. Passados seis anos de um dos maiores desastres socioambientais causados pela mineração no Brasil, nenhum dos responsáveis ainda foi julgado.

O ato na Avenida Paulista faz parte de uma série de ações que as famílias das vítimas de Brumadinho estão organizando, em São Paulo e Minas Gerais, em memória às 272 vidas interrompidas pelo desastre ocorrido na mina comandada pela Vale. S.A.. O evento também destaca a luta por justiça e reforça a necessidade de julgamento dos responsáveis.

“A ação busca ressignificar o silêncio que marcou aquele dia trágico, quando a sirene de alerta não foi acionada e os laudos e e-mails que alertavam o perigo de rompimento foram ignorados”, diz nota do Instituto Camila e Luiz Taliberti, que co-organiza a ação.

Durante o ato na capital paulista, também haverá a coleta de assinaturas de um manifesto que cobra celeridade nos processos judiciais relacionados à tragédia. O documento já conta com 127 mil assinaturas.

“Seis anos depois, não há justiça, não há reparação, e o Brasil permanece refém de um modelo de mineração insustentável. Minha filha Camila, meu filho Luiz, minha nora Fernanda e meu neto Lorenzo tiveram suas vidas interrompidas por uma tragédia que podia ter sido evitada […] Quantas vidas ainda precisarão ser cruelmente perdidas para que algo mude? A morte deles não pode ter sido em vão”, afirma Helena Taliberti, mãe de Camila e Luiz e fundadora do Instituto Camila e Luiz Taliberti.”, destaca Helena Taliberti, presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti.

Além de São Paulo, estão previstas ações em Ouro Preto (MG) e na própria cidade de Brumadinho, onde, no sábado (25), será inaugurado o Memorial de Brumadinho, espaço para homenagear e honrar as vítimas fatais do rompimento da barragem e para promover esforços para a não repetição de desastres minerários no país.

Perdas ainda não contabilizadas
O colapso da barragem de rejeitos de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, não apenas interrompeu 272 vidas, mas também destruiu ecossistemas inteiros. O evento ainda expôs as graves falhas de segurança e manutenção do modelo de mineração no Brasil.

Em 2024, ((o))eco denunciou os altos níveis de contaminação ainda encontrados no rio Paraopeba e as falhas de comunicação da Vale em relação à qualidade da água. Segundo Ramon Rodrigues, especialista socioambiental do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), em 2025, a situação continua a mesma.

“Em relação à qualidade da água do Paraopeba e à questão da falta de transparência da Vale, eu acho que a situação não mudou muito. A Vale continua não fazendo essa comunicação aos atingidos da maneira que deveria. Ela [empresa] às vezes coloca propaganda no site, às vezes coloca no rádio, mas não chega até as comunidades e fala para os atingidos como está esse rio, de maneira simples, de maneira fácil, de maneira compreensível”, diz.

Além disso, Rodrigues destaca outro agravante na situação, surgido durante 2024. A empresa responsável por realizar os Estudos de Risco à Saúde Humana e Risco Ecológico (ERSHRE), o Grupo EPA, não entregou os trabalhos nos prazos estipulados.

Os estudos têm por objetivo mapear os riscos do contato do rejeito com pessoas, animais e natureza, além de encontrar soluções para diminuir as consequências desse contato. Iniciados em 2021 com previsão de ter 5 etapas, os estudos estão parados na fase 1.

Em 2024, dos 52 relatórios previstos para serem entregues com os resultados da fase 1 nas comunidades ouvidas, apenas dois foram concluídos. Além disso, foram planejadas 38 devolutivas junto a essas comunidades, mas só quatro ocorreram, segundo a Nacab.

O Grupo EPA, indicado pela Vale, será desligado do projeto no final de 2025, quando a fase 1 deverá ser concluída. Até lá, os atingidos esperam que outra empresa seja contratada, por meio de edital a ser divulgado até fevereiro de 2025.

“Enquanto isso, a fauna e a flora do rio Paraopeba e de seu entorno, afetadas pela tragédia-crime, bem como as pessoas atingidas, continuam sofrendo as consequências do descaso, da morosidade e do desrespeito ao que foi acordado”, diz a Assessoria às Comunidades atingidas.

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