MEIO AMBIENTE

Poluição, biodiversidade em risco, danos sociais e estruturais: os impactos de uma mina de caulim no Brasil

Imerys enfrenta acusações de negligência ambiental e social

Por JB AMBIENTAL

Publicado em 13/03/2025 às 16:53

Alterado em 14/03/2025 às 08:51

Sede da Imerys Foto: divulgação

A multinacional francesa Imerys, que operava uma mina de caulim no estado do Pará, está sob escrutínio devido a sérias denúncias de falhas ambientais e sociais. Documentos apresentados em um tribunal de Nova York apontam que a empresa teria descumprido diversas obrigações regulatórias, resultando em prejuízos significativos tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades locais.

Segundo os autos do processo, a Imerys não teria adotado medidas adequadas para minimizar os impactos de suas atividades mineradoras. Um dos principais problemas apontados é a formação de crateras alagadas perigosas, alterando drasticamente a paisagem e comprometendo o equilíbrio ecológico.


Igarapé ficou tingido de branco por causa de vazamento de caulim Foto: MPF

Além disso, as ações de recuperação ambiental obrigatórias, previstas em regulamentação, teriam sido ignoradas. Nenhuma iniciativa concreta foi implementada para restaurar as áreas degradadas, deixando terrenos expostos à erosão e à degradação contínua.

O compromisso de reflorestamento com vegetação nativa, essencial para a conservação da biodiversidade, também não teria sido cumprido. Além disso, apesar das exigências de transparência, a empresa teria falhado em apresentar relatórios detalhados sobre os esforços de recuperação ambiental, levantando suspeitas sobre sua real responsabilidade corporativa.

O impacto nas comunidades locais: uma crise que vai além do meio ambiente
Os problemas gerados pela Imerys não se limitam à degradação ecológica. As populações que vivem próximas à mina enfrentam condições cada vez mais precárias, agravadas pela falta de suporte da empresa. Relatos indicam que o abandono das operações resultou em um fornecimento irregular de energia elétrica, afetando diretamente o acesso a recursos essenciais, como água potável.

Muitos moradores dependem de poços subterrâneos equipados com bombas elétricas para obter água, mas a instabilidade no fornecimento de eletricidade tem comprometido essa fonte vital. Além disso, surgiram preocupações sobre uma possível contaminação da água. Em Cajuiera, um córrego que antes era utilizado pela população local tornou-se impróprio para consumo, apresentando alterações visíveis na cor e textura. Essas mudanças levantam a hipótese de que resíduos da mineração possam estar poluindo os recursos hídricos, colocando em risco a saúde dos moradores e o equilíbrio do ecossistema.

Entre a imagem corporativa e a realidade operacional
A situação exposta pelo processo judicial entra em conflito direto com a imagem pública que a Imerys busca projetar. A empresa frequentemente promove suas iniciativas de responsabilidade ambiental e social, alegando compromisso com práticas sustentáveis. No entanto, as evidências apontadas na ação sugerem um caso clássico de "greenwashing"—quando uma corporação se apresenta como ecologicamente responsável, mas não cumpre na prática seus compromissos ambientais e sociais.

Se confirmadas as alegações, a Imerys poderá enfrentar consequências severas, tanto legais quanto reputacionais. O caso reforça a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa sobre empresas multinacionais do setor de mineração, garantindo que obrigações ambientais e sociais sejam de fato cumpridas.

Para as comunidades afetadas no Pará, o dano já está feito, e a luta agora é por justiça e por medidas que responsabilizem a empresa pelos impactos causados.

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