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Democracia e bem-estar social: a crise artificial e global.

Por ADHEMAR BAHADIAN
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Publicado em 27/08/2023 às 07:47

Alterado em 27/08/2023 às 07:47

De todas as crises que estamos a viver neste século 21, que mal chega a sua adolescência , nada assusta mais do que as metástases do tecido social nos Estados Unidos da América.

Talvez, no futuro( qual deles?) os historiadores tenham a oportunidade de melhor explicar porque estivemos à beira de nos transformarmos numa sociedade de bárbaros em que a luta pela sobrevivência colocou em risco o próprio planeta.

Nossa crise é civilizacional, climática, moral e religiosa. Tudo devidamente misturado e difundido como verdades absolutas com o impacto babélico de nos distanciar uns dos outros, cidadãos de um condomínio chamado planeta Terra, um grão de areia metido a Lorde na Via Láctea, avenida salpicada de estrelas, verdadeira e única Broadway.

Quanto mais penso no que nos aflige, mais me convenço que nossos historiadores do futuro se referirão aos nossos dias como a Era da Maracutaia coletiva, em que o roubo pequeno ou grande é mais uma questão ideológica do que uma violência aos princípios morais com que nossos pais nos educaram.

Como classificar, por exemplo, um candidato à Presidência da República da até pouco tempo considerada a matriz democrática do mundo ocidental? Como digerir as reiteradas mentiras e desonestidades que marcaram sua trajetória como homem de negócios e político arrivista ? Qual o impacto do exemplo de seu estilo de vida cafajeste- mafiosa nas mentes dos mal-saídos das fraldas escolares e apenas tem como meta “cacifar”, tão rápido quanto possível, o primeiro milhão de dólares, seja como bônus de artimanhas financeiras seja como manobras ligeiramente vergonhosas de subtrair do fisco o que lhe é devido? A honestidade é para trouxas.

Historiadores e analistas contemporâneos advertem para o grande assalto ao trem pagador da transvia Neoliberalismo- Globalização, com paradas de abastecimento nas chamadas plataformas radicais da privatização e da austeridade fiscal. Hoje, não há quem não saiba que nos últimos 50 anos a grande revolução do capitalismo predador foi acalentar o capital e esfolar o trabalho. De quebra, uma estúpida incapacidade de colocar a tecnologia a serviço do emprego . E não fazer dela uma alavanca de desemprego global.

A grande esperança de que a globalização poderia beneficiar a todos beneficiou basicamente a China. Os Estados Unidos da America conheceu o empobrecimento relativo da classe média e a penúria da mão de obra com nível médio de escolaridade.

As reações contra o regime democrático e as tentativas de candidatos a autocratas de questionar as instituições são particularmente tendenciosas porque o neoliberalismo e a globalização desmontaram as redes de proteção social vigentes até os anos 80 do século 20 e rapidamente as substituíram por incentivos ao capital transnacional ,com a eliminação de regras como as de controle de monopólios e cartéis e uma liberalização comercial internacional francamente desequilibrada. Reagan e Thatcher como porta-bandeiras.

Espanta ver um candidato populista e autocrático como Trump a debochar da boa fé de cidadãos americanos, com a promessa de melhores dias com o aniquilamento do que ainda resta de proteção social, como o seguro-saúde, por exemplo.

O pior de Trump é que seu eventual novo mandato terá implicações danosas para países como o Brasil, sem falar no grande impacto sobre as próprias regras democráticas . É, porém, mal que não acredito se viabilize. Não merecemos.

Quando se olha para o Brasil - e não desconheço as enormes dificuldades que estamos a atravessar, em grande parte por um mimetismo trumpista- é forçoso reconhecer estarmos num processo de reconstrução democrática e social.

Lula retoma com os programas sociais, inclusive de apoio ao trabalhador sindicalizado, uma rota reconhecida como de grande retorno econômico. As vozes que se levantam contra os esforços de saneamento econômico e fiscal proposto pelo governo, certamente nos querem convencer de que o capitalismo neoliberal e suas chagas mundo afora seriam melhores que o desenvolvimento econômico acompanhado do Estado Democrático de Direito, conforme nos manda a Constituição de 1988.

A crise da Democracia e do bem estar social nunca foi gerada por um excesso de liberdades democráticas ou pela luta pelo desenvolvimento econômico socialmente justo. Este sim o Consenso Universal, muito longe do Consenso de Washington, um blefe histórico e uma “carteirada" ideológica.

Tomara a sociedade brasileira possa acordar por inteiro do pesadelo que quase nos levou ao caos. E prossigamos na rota descrita e acordada em nossa Constituição de 1988, que nos liberta de grilhões ideológicos e subservientes. E sobretudo de heróis e semi-deuses. Amém.


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