Exposição de Motivos e Motivações ocultas

Por ADHEMAR BAHADIAN

Será que você tem, como eu, se surpreendido com algumas justificativas para o atraso na aprovação e implementação de certas medidas legislativas francamente desejadas pela sociedade, mas que empacam porque a elas se querem vincular providências em nada a elas necessárias?

Durante alguns dias, vivemos a euforia de ter finalmente aprovado na Camara dos Deputados um projeto de reforma tributária com unânimes aplausos recíprocos entre o mercado financeiro, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e a chamada sociedade, isto é, nós aqui no sereno, ávidos para que o Brasil finalmente retome sua velocidade de decolagem. E eis que, mais do que de repente, derrapa o decolante, encolhe suas plumas e, qual cisne manco, expõe toda sua desgraça, descrença e desavença.

E quando já imaginávamos que algo de torto tivesse vindo do autônomo e autoritário Banco Central, nos surpreendemos ao saber que não é nada disso, não se trata de outro "power point" descontrolado, mas pura e simplesmente uma parada técnica na pizzaria da estrada para acertar os bons bocados de tantas bocas boquiabertas, sequiosas e sedentas.

É verdade que o problema não é de hoje e já teve até nome de batismo engalanado, digno de desfilar sem vergonha pelos salões de espelhos de tantas vaidades, de tantos egos inflamados, de tantos salva-pátrias enrolados em suas boias infladas nos ventres empanados. Todos, recrutas e sabichões do governo de coalizão.

Mas, isso foi ao tempo em que se governava com três ou quatro partidos, não hoje em que a coalizão não respeita sequer a decência de votar em projetos cuja exposição de motivos seja pelo menos consentânea com os objetivos constitucionais, mas, longe disso, vota apenas nos projetos em que pelo menos as migalhas possam luzir como estrelinhas de São Jõao no fraque caipira do Ratão.

Hoje o nome do jogo é o de “Mateus, primeiro os meus”, mesmo que a cada votação a quadrilha não saiba bem se acaba em baião de dois ou em escravos de Jó. Enfim, dizem que tudo não passa de um refluxo dos bons tempos do chamado orçamento secreto, de saudosa memória para tantas viuvas. Pode ser, mas estremeço.

Estremeço, por que, vira e mexe, sobrevoa-nos um drone não tripulado a falar em “copresidencialismo”. Desmemoriado drone, por que se olvida de que mais de uma vez a sociedade brasileira, em plebiscito, renegou a ideia de adotarmos o Parlamentarismo, filho legítimo e aceitável da Democracia, e não irá sujeitar-se a um teratológico copresidencialismo que ninguém sabe, ninguém viu.

E me pergunto - como no Bolero - se “quizás, quizás” estamos a parar a máquina de nosso navio Brasil, que acaba de livrar-se de tantas correntes, em nome de manhas e artimanhas em que os verdadeiros motivos não se expõem por que há motivações ocultas, sorrateiras, pintadas de maquiavélicas e com um colorido sombrio de um autoritarismo com mil tons de cinza e de cinzas. Espero que esteja redondamente enganado.

Mas, há surpresas e motivações inesperadas e a última delas nos vem na anunciada quase total supressão do livro didático no ensino médio público no Estado de São Paulo. Fiquei perplexo.

Se há uma unanimidade entre os professores e os pais de crianças em idade escolar é a preocupação com o abuso dos celulares e tabletes. Há escolas privadas que estão proibindo seus alunos de usarem celulares nas escolas, liberando-os apenas para comunicação com seus pais.

A decisão da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo atinge os alunos do Curso Médio e vai na contramão das tentativas em curso para valorizar o livro, didático ou não. Não sou autoridade no assunto e às vezes leio em computadores o que não está disponível impresso, mas seria desonesto se não dissesse o prazer que me da o livro que posso até cheirar. Até hoje ,guardo alguns livros didáticos e a eles recorro frequentemente. Um livro em especial, guardo com carinho: a Antologia Nacional, infelizmente já não mais atualizada.

Faz alguns anos, cheguei a propor ao então Presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni, que tentássemos fazer uma Antologia Brasileira-Italiana ( na época, era embaixador na Itália) usando como base os textos da Antologia Nacional. Infelizmente, não deu. Mas, por razões óbvias e não por motivações ocultas.

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EM TEMPO: do jeito que vai ,o “presente de grego “ vai entrar na justiça contra o “ presente saudita”.