Mestre PC
Eu era aluno das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha) e tinha ganho uma bolsa para colaborar com o jornal que celebraria o aniversário da faculdade. Minha missão foi dada por um de meus mestres, o professor Paulo Cézar Guimarães, o PC: entrevistar jornalistas bem colocados no mercado, que tinham sido alunos da Facha. Um deles era o então assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva.
Falei com Rodrigo por telefone, e ele marcou de me encontrar no campo de futebol do Chico Buarque, no Recreio dos Bandeirantes, durante a tradicional pelada que o cantor e compositor promovia regularmente.
Se não me engano, era um sábado. Cheguei, e estavam todos lá: Chico, Rodrigo e um monte de craques da música e da bola. Antes da entrevista, apreciei a pelada e tive a grande oportunidade de ver o mestre Buarque de Holanda fazer um golaço olímpico.
O gol de Chico gerou uma grande discussão entre o goleiro e o zagueiro adversários. Como resultado, o arqueiro deu as costas pro campo e decidiu ir embora. Chico, com seu jeito maroto, foi atrás e o convenceu a voltar: “Não fica assim, não. Eu faço esse gol toda hora, você não foi o primeiro”.
A cena me inspirou, e decidi escrever uma crônica a respeito assim que cheguei em casa. Quando o PC me perguntou como tinha sido a missão, mandei o texto pra ele ver.
“Muito bom, garoto. Enviei pro Renato Maurício Prado, e ele vai publicar um trecho da crônica na coluna dele, no Globo”, foi a resposta.
Dito e feito. No dia seguinte, estava lá um bom trecho do meu texto na coluna do Renato, com o devido crédito. Pra mim, foi a glória! Eu escrevendo coluna no Globo antes mesmo de me formar. Só mesmo o PC Guimarães seria capaz...
Anos depois, como editor da versão online do Jornal do Brasil, pude retribuir ao PC um pouco do que ele fez por mim: o convidei para escrever uma coluna fixa no JB sobre o Botafogo. Lembro bem do dia em que ele foi à redação fazer a foto oficial, com a camisa do Alvinegro e aquele sorriso desconcertante.
Pois bem. Meu mestre PC se foi nesta noite de 5 de outubro de 2023, antes de ver seu Botafogo ser campeão brasileiro de novo. Falei com ele via WhatsApp, há cerca de 20 dias. Sua última frase foi: “Estou sempre atento”.
Grato, mestre, por ter estado sempre atento aos talentos que surgiram na sua frente, os quais você soube orientar e direcionar para o mercado. Se hoje estou aqui, escrevendo e escrevendo, devo isso a você. Descanse em paz.
Paulo Marcio Vaz é jornalista