ARTIGOS

A ciência na construção do futuro

Por FERNANDO PEREGRINO

Publicado em 26/07/2024 às 13:26

Alterado em 26/07/2024 às 13:26

O Brasil assistirá, no dia 30 de julho, a abertura pelo presidente da República, Lula da Silva e pela ministra Luciana Santos (da Ciência, Tecnologia e Inovação), a maior Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação, de sua história.

Espera-se, em Brasília, no dia 30, data da abertura, e nos dias 31 e 1 de agosto, cerca de 2200 pessoas de todas as áreas do conhecimento e da Ciência.

Estarão na conferência, representantes da academia, do governo, das empresas, dos trabalhadores e da sociedade em geral.

Essa comunidade se reunirá para debater qual deve ser a estratégia do país para a produção e a disseminação do principal insumo do século XXI: O conhecimento científico.

Serão expostos e debatidos, na ocasião, temas como aquecimento global, eventos extremos (fenômenos climáticos) meteorológicos, inteligência artificial, agricultura familiar e sua mecanização, segurança alimentar, descarbonização da indústria com a redução de combustíveis fósseis, o uso de combustíveis limpos, como o hidrogênio, a bioeconomia com preservação da cultura dos povos originários, a manutenção dos biomas, relação da universidade com a indústria, biotecnologia para enfrentamento de novas e antigas doenças, complexo da saúde e soberania na produção de fármacos, minerais estratégicos que exportamos para importarmos seus produtos nobres, como semicondutores.

As discussões e os debates sobre esses temas irão fundamentar uma nova estratégia nacional em inovação para o país, para os próximos dez anos.

Esse breve apanhado de problemas e propostas de soluções compõem a agenda da nova indústria do país, uma indústria limpa, sustentável, tecnológica, inclusiva, e capaz de auferir rendimentos crescentes na relação com o mundo pela sua balança comercial.

Os responsáveis pela produção científica e tecnológica e os atuais gestores de setores responsáveis por tudo isso querem uma indústria que ajude a empregar, por exemplo, mais de 20 mil doutores que o Brasil já consegue formar, anualmente. Além de utilizar sua ampla base de engenharia e engenheiros que detém.

Querem, ainda, uma indústria que nunca mais nos deixe vulneráveis, na importação de produtos estratégicos da saúde, como aconteceu na epidemia da Covid.

Com o objetivo de mobilizar a comunidade técnica e a sociedade em geral e de colher e sistematizar suas opiniões, a FINEP foi designada para coordenar o tema da neoindustrialização, na Conferência.

Para isso, foram realizados, desde o ano passado, 13 seminários temáticos.

Neles, a FINEP recebeu mais de 230 sugestões feitas pelos mais de 73 especialistas reunidos em sua sede entre dezembro de 2023 e maio de 2024, todos convidados por suas notórias atuações sobre os temas propostos.

Cada especialista recebeu duas perguntas para responder. A primeira pergunta foi: Como o Brasil está nessa temática? A segunda pergunta foi: Quais as soluções que você propõe para vencer as restrições?

Essa metodologia simples conseguiu extrair, em pouco tempo, um conjunto de informações que darão suporte à 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

O rico material, com as respostas, está disponível em vídeo e foi transformado em dois livros, editados pela FINEP, que serão lançados na Conferência.

Os dois livros reúnem essas 234 propostas de ações a serem exploradas e debatidas pelos representantes dos governos, empresas, academia, trabalhadores e da sociedade presente, com a seguinte distribuição por tema: Biotecnologia (29), Transição energética (7), Descarbonização (19), Inteligência artificial (24), Bioeconomia (34), Defesa (15), Financiamento (29), Universidade e Indústria (20), O Estado que queremos (7), Segurança alimentar (33), Complexo da saúde (7), Startup e “Deep Tech” (10).

Esse esforço só foi possível porque houve uma forte aliança entre entidades que formam a tríplice hélice, como a CNI/MEI – Confederação Nacional da Indústria (Movimento Empresarial pela Inovação), CNDI – Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, ABIPTI – Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação, ANPEI – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas, CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e a colaboração de palestrantes que prestaram um serviço relevante ao pais para descortinar o tema estratégico e abrir horizontes com propostas de ação e de superação de obstáculos com o objetivo de transformar a realidade econômica do País.

O último tema objeto de um seminário específico foi para tratar do fenômeno mundial das “startups” e “deeptechs” e seus ecossistemas.

Essas “deeptechs” são tidas como “startups” com tecnologias de alto impacto, em geral dos setores de biotecnologia, inteligência artificial e robótica, elas atuam na fronteira do conhecimento. Nesse dia, o seminário assistiu a um desfile de “startups deeptechs”, que fabricam, por exemplo, proteínas para produzir novos remédios, tecnologias para edição de DNA que podem curar o mal de Alzheimer e outras doenças neurológicas, instrumentos não invasivos, capazes de detectar lesões no interior do cérebro, terapias revolucionárias de cura de cânceres mortais, equipamentos científicos, hoje importados, entre tantas outras criadas a partir da produção científica dos laboratórios universitários e seus ecossistemas.

A FINEP, que completa, essa semana, uma história de 57 anos de apoio à inovação no país, agora, ajuda a projetar um futuro de uma indústria soberana e tecnológica, apoiada na ciência, coletando e sistematizando o conhecimento disponível em várias áreas e segmentos.

Essas contribuições foram organizadas por uma comissão coordenada pelo presidente da Financiadora de Estudos e Projetos, Celso Pansera, a qual integro como coordenador executivo, e serão oferecidas aos participantes do evento para melhor fundamentar uma estratégia nacional para a ciência apoiar a neoindustrialização do Brasil.



* Chefe de Gabinete da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos

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