ARTIGOS

As eleições municipais

Por AURÉLIO WANDER BASTOS e LIER PIRES FERREIRA
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Publicado em 29/10/2024 às 17:26

Alterado em 29/10/2024 às 17:26

Os resultados das eleições, nesse segundo turno, nas capitais dos estados, não demonstram maiores diferenças em relação ao primeiro turno.

O PSD, de Gilberto Kassab, que já havia faturado em Florianópolis, Rio de Janeiro e em São Luís, agora emplacou em Curitiba e em Belo Horizonte, a linda capital dos mineiros.

O MDB, de Baleia Rossi, além de Macapá e Boa Vista, no Norte do país, também levou em Porto Alegre, Belém e em São Paulo, a joia da coroa, onde o braço forte de Tarcísio de Freitas alavancou Ricardo Nunes contra um surpreendente Guilherme Boulos, do PSOL.

Você sabia que o vice de Nunes, Ricardo Araújo, já pediu “impeachment” de ministros do Supremo, foi contra a vacinação obrigatória, na pandemia, e questionou a segurança das urnas eletrônicas. Será que fará o mesmo agora?

O PL, de Waldemar Costa Neto, e o União Brasil, de Antônio Rueda, dois mestres nos bastidores da política, ficaram com quatro capitais cada.

O PL emplacou em Aracajú, Cuiabá, Maceió e em Rio Branco.

O União faturou em Goiânia, Natal, Salvador e em Teresina.

E o PT? Bem, o partido do presidente Lula conseguiu vencer em Fortaleza. Ufa!

As forças progressistas emplacaram somente em mais uma capital, Recife, também no Nordeste, com o PSB.

As demais restaram com Podemos, PP, Avante e Republicanos, partidos do famigerado Centrão.

A lavada dos partidos conservadores sobre as forças progressistas é evidente.

O apagão das esquerdas salta aos olhos quando nos voltamos para cidades como Vitória, Salvador, Maceió, Florianópolis, Rio Branco e Boa Vista, com maior incidência nas capitais do Norte/Nordeste.

Se o PSB conquistou Recife facilmente, com João Campos, o risonho filho do ex-governador Eduardo Campos, a vitória de Leitão em Fortaleza foi apertada contra a direita bolsonarista. Para o PT, o resultado só não foi pior por conta das alianças regionais. Belém, João Pessoa, Recife, São Luiz e Terezina, assim como o Rio, estão no arco das alianças petistas.

De todo modo, é evidente que o PT está em absoluta desvantagem para as eleições presidenciais em 2026.

Se é verdade que Bolsonaro foi uma pálida sombra do “imbrochável” presidente que escovou Haddad em 2018, é certo que a estrela de Lula também não brilhou. Com 248 prefeitos e cerca de 8 milhões de votos totais em todo o país, o PT perde feio para o quinteto formado por PSD (878 prefeituras), MDB (847), PP (743), União Brasil (578) e PL (510).

A situação é tão difícil que o partido presidencial tem hoje menos prefeitos do que o insosso PSDB (269), uma legenda que parece destinada aos anais da história, assim como o PDT (148), que detém a estéril herança de Leonel Brizola. Em tempo, alguém sabe por onde anda o eloquente Ciro Gomes?

Uma coisa é inegável: 2024 foi a eleição das emendas de bancada e do fundo partidário, expressando certo desencanto popular com a democracia.

Também há muito a lamentar sobre a bandeira da diversidade. Entre os prefeitos das capitais, só há duas mulheres, Adriane Lopes (PP) e Emília Corrêa (PL), ambas conservadoras. Tábata Amaral (PSB), temos que reconhecer, fez uma campanha linda e corajosa em Sampa, colocando Pablo Marçal contra as cordas. Foi dela a verdadeira cadeirada no “coach” machão, que, na base da lacração, arrebatou quase 30% dos paulistas. De toda forma, a diversidade perdeu. Homens, brancos e ricos fizeram a festa. Não há um só negro e nenhum dos eleitos se assume como homossexual. Será que não tem mesmo?

Neste cenário, Eduardo Paes, Hélder Barbalho e Tarcísio de Freitas mostram que há vida inteligente à direita do espectro político. Bolsonaro é forte, mas já não é a única referência. A centro-direita pode, inclusive, se aproximar do PSB e de outras legendas progressistas, como o PDT, repetindo o sucesso de Paes no Rio de Janeiro.

À esquerda, Boulos, João Campos e Tábata Amaral alimentam boas esperanças para o futuro. Mas nenhum deles é do PT. O partido de Lula terá que conversar com neopentecostais, empreendedores e com a juventude das quebradas, das periferias, das quais se afastou. Como diz a garotada, o PT tem que se repaginar. Não dá para disputar as eleições gerais de 2026 com totens como Dirceu, Genuíno e Suplicy. É Lula-lá para presidente? De novo?

Enfim, está na cara que Gilberto Kassab e Waldemar Costa Neto são os grandes vitoriosos dessas eleições. Donos de máquinas partidárias vorazes, que controlam amplas parcelas do orçamento e do eleitorado, inclusive feminino, eles são capazes de colocar o Planalto de joelhos, fazendo parte da estrutura político partidária de Liras e Pachecos, que implantou um verdadeiro parlamentarismo orçamentário, ao arrepio da Constituição, capaz de tratorar adversário pelo voto, pela fé ou pelo fogo, do Oiapoque ao Chuí.

Sem maiores resistências, o conservadorismo deitou e rolou.

 

Aurélio Wander Bastos. Professor Titular Emérito da Unirio

Lier Pires Ferreira. Pesquisador do LEPDESP/Uerj e do NuBRICS/UFF.

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