Novelos de novembro

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Por ADHEMAR BAHADIAN

Os idos de março empalidecem e cedem angústia ao novelo de ameaças cegas e nós górdios deste novembro.

A começar pela vitória do neoliberalismo recauchutado da dupla Trump-Musk e à composição galhofeira de um Ministério como o diabo sonhava, desde que Lúcifer passou de Arcanjo a príncipe das trevas.

Nos escombros desumanos da destruição de Gaza, na revoada de drones e foguetes a anunciar a provável escalada de armas nucleares, a humanidade perde a cara e assume definitivamente o risco de evaporar-se no espaço a trajetória civilizacional do bípede autodenominado racional.

Se a crise dos mísseis em Cuba nos provocou calafrios, os novelos deste novembro, Das Dores, nos revela que a Democracia será ofuscada pelo capitalismo predatório, despido de todos os mecanismos de proteção social erigidos após a Segunda Guerra Mundial.

E se algo nos possa desviar desta mais do que provável corrida para o desespero é sem dúvida reconhecer, que, com o neoliberalismo de Thatcher e Reagan, entramos em rota acelerada de destruição não só da sociologia, mas também da economia.

Thatcher se notabilizou por argumentar que a sociedade é uma espécie de ficção alucinada e o que interessa é a acumulação desenfreada do lucro, por mais socialmente injusto que seja.

A economia internacional com Trump nos levará ao mesmo caminho desatinado a que nos levou a megalomania de Hitler e sua visão alucinada de um povo superior e de raças desprezíveis.

A supremacia branca de Trump - este bebê de Thatcher, ou será de Rosemary? - revigora o pior da história dos Estados Unidos. A propalada expulsão em massa de imigrantes terá o não escondido objetivo de levar a achatamento ainda maior de salários da classe média americana, cada vez mais abandonada na aquisição de casa própria, no acesso a medicamentos patenteados e na atenção médica pública.

Aumentará o ódio racial a quem não é branco e anglo-saxão. O novo paradigma genético do povo de Deus.

Mas, se digo que novembro nos deu um novelo é porque dos fios dele pode surgir a tessitura de novos hábitos.

E o que foi o G-20 no Rio de Janeiro senão a primeira tessitura de uma nova ordem mundial? Pois, se aqui o que mais se falou foi sobre reconstrução, se aqui se aprovou uma Declaração política subscrita pelas mais avançadas nações do planeta, por que não acreditar que este novelo de novembro nos oferece a oportunidade de eliminar nós cegos, de recerzir ou pelo menos remendar, sem nunca retalhar, o que de bom ainda temos?

O Brasil teve muito a oferecer. A começar por esta cidade mágica que a todos cativa por sua autêntica beleza natural e por ser uma amostra da convivência de árabes e palestinos em harmonia.

Sem pieguismo nem patriotadas, o Rio de Janeiro tem uma força resultante a apontar para um polo construtivo. Queiramos ou não, já somos o futuro.

Um futuro efetivamente buscado por Biden a Xi Jiping. Um poder enorme de agregação de nosso chefe de Estado, que teve a iluminada ideia de fazer do combate à fome e da taxação das grandes fortunas os temas centrais da Declaração do G-20.

Juntamente com os temas relacionados com as mudanças climáticas, o consenso obtido no G-20 é fruto da perspicácia política de Lula e de seu compromisso de vida com o aprimoramento do ser humano independente de classe, cor e religião. Não há ódio em Lula.

Era visível o ambiente amigável entre os chefes de Estado a se confraternizarem na Plenária, todos à vontade na casa do chefe de Estado amigo. Até Milei compreendeu onde estava pisando.

Certo, temos uma Diplomacia a nos honrar. E aqui rendo minhas homenagens ao Ministro Mauro Vieira e à Embaixadora Maria Laura, Secretaria-Geral do Itamaraty, ambos capazes de conduzir sem dissonâncias uma orquestra de virtuosos. Cumprimento igualmente o Sherpa brasileiro, Embaixador Mauricio Lyrio, construtor de consensos e incansável mestre na busca de alternativas em impasses.

Mas, importante recordar que o Itamaraty de hoje é o mesmo de poucos anos atrás quando viramos os párias do mundo.

Sem um chefe de Estado agregador, sem Embaixadores competentes e respeitados por seus colegas estrangeiros não se move um peão no tabuleiro geopolítico.

Sim, novembro é um novelo. Mas, aqui no Rio, o Brasil começou a tecelagem de um recomeço . Nunca o de uma volta espúria a um colonialismo redivivo, indiferente às consequências de uma visão do mundo escravocrata, patrimonialista e sobretudo anárquica.

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EM TEMPO. Releio e recomendo a (re)leitura de “Forças Armadas e Politica no Brasil Republicano” Da Proclamação da República à Constituição Cidadã ( 1889-1988) Org. de Maria Celina D’Araujo e Lucas Pereira Rezende. FGV/ FAPERJ 2024

2. DE leitura obrigatória: “ Trump; Primeiro Tempo”. Sebastião C. Velasco e Cruz ; Neusa M.P. Bojikian (0RG). INCT/INEU.EDITORA UNESP.

3. QUANTO MAIS O TEMPO PASSA, MAIS CRESCE A RELEVÂNCIA DO PRESIDENTE ERNESTO GEISEL.