Memórias do Ano Novo
No dia 26 de março deste 2025, vou fazer 90 anos.
E, como a maioria dos amigos de minha geração, carrego, comigo mesmo, memórias ótimas da vida e das comemorações de Ano Novo, Dia de Reis e de outras datas importantes, no calendário do Brasil e do mundo.
Nascido em Minas Gerais e criado, desde o final da infância e início de minha juventude, no Rio de Janeiro, aprendi, com meus pais e irmãos, a comemorar, como se deve, a Páscoa, o Natal, o Dia de Reis e outros dias significativas.
Casado há mais de 60 anos, com minha mulher, Thetys Magalhães, eu e ela temos cinco filhos, noras, netos e muitos amigos, que fazem parte de nossas vidas e com quem compartilhamos muitas festas.
Tivemos, eu e minha família, réveillons incríveis, no Rio de Janeiro e no mundo.
Quando eu fui deputado estadual e líder do governo de Carlos Lacerda, pela extinta UDN (partido integrado, em sua maioria por lacerdistas, seguidores de Carlos Lacerda), na Assembleia Legislativa do antigo Estado da Guanabara, entre 1962 e 1969, tive o enorme prazer de passar réveillons com políticos históricos.
Uma das melhores festas que tive foi a que antecedeu as comemorações pelo IV Centenário do Rio, entre dezembro de 1964 e janeiro de 1965.
Jamais esquecerei de meu último réveillon, como deputado estadual, na virada de 1968 para 1969.
O presidente na época, o marechal Costa e Silva, assinou, em 13 de dezembro de 1968, 11 dias antes do Natal, o Ato Institucional Número 5.
Eu, que participei do movimento A Frente Ampla - criado em 1966, com a participação de Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart, com o objetivo de restaurar a democracia e trazer de volta as eleições diretas, suspensas pelo, então, presidente e marechal Castelo Branco - estava com meu nome lá, na lista dos que seriam cassados e que teriam seus direitos políticos suspensos.
As festas do final de 1968, portanto, foram marcadas pelas notícias sobre a prisão do meu amigo, Juscelino Kubitschek, na noite do dia 13 de dezembro, quando o ex-presidente da República saía de uma solenidade de formatura, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde havia sido paraninfo de uma turma de formandos de Engenharia.
O doce, elegante e eterno presidente Juscelino Kubitschek foi levado preso para um quartel, em Niterói. Ali, permaneceu, fechado, em um quarto, com a mesma roupa, por vários dias.
Kubitschek foi liberado para passar o Natal e a passagem de final de ano com a família, mas sob a condição de que estava subordinado às regras da prisão domiciliar. Não podia encontrar com nenhum amigo da política, nem dar declarações à imprensa.
Meu outro amigo, Carlos Lacerda, foi preso pela Polícia Militar do Estado da Guanabara, no dia 14 de dezembro.
Carlos Lacerda, que tinha um temperamento mais forte, fez greve de fome, em protesto e foi liberado uma semana depois de ser preso, na véspera do Natal.
Como todos tinham provas de minha participação na Frente Ampla, eu sabia que receberia, logo, logo, a notícia de que seria um dos políticos que seriam atingidos pelo AI-5.
O decreto de minha cassação, no entanto, só saiu em abril de 1969.
Antes de eu ser cassado e de ter meus direitos políticos suspensos, meus amigos e ex-deputados, Renato Archer (um dos melhores amigos de Juscelino Kubitschek) e José Gomes Talarico (um dos melhores amigos de João Goulart), também foram cassados, por sua participação na Frente Ampla.
Talarico foi preso pouco antes do Ano Novo e a cassação dele aconteceu, dias depois.
Renato Archer foi cassado na lista de deputados federais, divulgada pelo governo, em 30 de dezembro de 1968.
Na mesma lista de Archer, também estavam três ministros do STF, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Vitor Nunes Leal.
Outro amigo preso, em dezembro de 1968, foi Raphael de Almeida Magalhães, vice-governador de Carlos Lacerda, que chegou a ocupar o cargo de governador, interinamente, quando Lacerda se recusou a passar a faixa para Negrão de Lima (eleito governador do antigo Estado da Guanabara, em outubro de 1965), na posse e transmissão do cargo, em 5 de dezembro de 1965.
Nos anos que se seguiram à redemocratização, tive réveillons inesquecíveis. Sou do tempo em que as comemorações de Ano Novo, em Copacabana, não tinham esquemas de trânsito, nem queima de fogos programadas.
O hábito de usar branco, ou cores alegres, no entanto, é o mesmo, não só pelos amigos de minha geração, como, também, pelos meus amigos, mais novos, de agora.
Desejo a todos os amigos e amigas, leitores queridos, que este ano de 2025 seja o melhor de suas vidas.
Que este seja um ano de paz, saúde, prosperidade.
E que os Reis Magos (lembrados, em todo o mundo no Dia de Reis, 6 de janeiro) nos traga, além do ouro, do incenso e da mirra, muita prosperidade, proteção divina e sabedoria, para enfrentar, com fé e generosidade, os novos dias de nosso cotidiano.
Feliz 2025.
Mauro Magalhães. Ex-deputado e empresário.