ARTIGOS

A sociedade da superficialidade

Por CRISTIANA AGUIAR
cristiana.aguiarjc@gmail.com

Publicado em 10/04/2025 às 19:41

Na década de 1990, li um livro chamado Celebração da Disciplina, de Richard Foster. Achei o livro muito interessante, com lições práticas para a vida. Contudo, fico me perguntando se, nos dias de hoje, a palavra "disciplina" tem a mesma valorização.

Em um domingo, assistindo ao clássico Flamengo x Fluminense com um grupo de jovens, fui surpreendida por uma fala: "Hoje em dia, quase ninguém mais lê um livro." Apesar de me chocar com a ideia, por ser amante da leitura, acredito que há coerência nesse discurso.

Conteúdos fragmentados e mudanças muito repentinas podem desencorajar as pessoas a passarem pela “dor” do aprendizado. Isso mesmo, aprender “dói”.

O processo de internalizar e/ou compreender novas habilidades e conhecimentos é desconfortável. A neurociência nos ajuda a entender que nosso cérebro prefere minimizar esforços e economizar energia. Algumas literaturas, inclusive, sugerem o uso de “andaimes” para auxiliar no esforço da aprendizagem, indicando que esses suportes podem ser familiares, amigos ou uma rede de apoio.

Além disso, estamos muito acostumados com as distrações e o colorido dos conteúdos em formato de pílulas de 60 segundos. Existem inúmeros estudos que comprovam o efeito viciante desse comportamento. Sempre que gosto de um conteúdo, posso facilmente entrar em uma busca incessante pelo próximo.

Ressalto que sou uma amante da tecnologia; minha questão é como nos comportarmos da melhor maneira diante do seu avanço.

Minha provocação neste artigo não é minimizar o esforço da aprendizagem, mas sim apontar caminhos para uma conquista que eu chamaria de “menos dolorosa”.

A primeira ideia seria aprender com os erros dos outros. Prestar atenção nos resultados ao nosso redor é uma ótima maneira de minimizar o sofrimento. E aqui me refiro a tudo: desde uma receita que não deu certo até uma empresa com uma cultura ruim ou uma pessoa da qual vale a pena se distanciar. Observar o que acontece com aqueles próximos a nós encurta caminhos e evita sofrimentos.

Outra maneira de aprender é sendo uma esponja. Conversar com pessoas interessantes nos faz crescer, traz insights valiosos e amplia nossa percepção sobre o mundo ao nosso redor.
E a terceira maneira é "dopaminando" a disciplina. O que seria isso? Encontrar prazer naquilo que nos custa esforço.

Temos dificuldades com o adiamento da recompensa — esse talvez seja o maior desafio da persistência e da disciplina. Então, por que não trazer prazer para esse processo?

Criar recompensas para cada etapa conquistada fragmenta a espera pelo resultado de longo prazo e torna a jornada mais leve e menos sacrificante. Se levarmos isso para o varejo, metas semanais geram mais resultados do que metas mensais, uma vez que a motivação dos vendedores despenca menos devido ao menor intervalo de tempo.

Para aqueles que não se interessam por leituras longas, uma solução pode ser encontrar prazer em cada página concluída.

Dizem que Albert Einstein fracionava seu tempo de estudo. Estudos comprovam que, para cada 52 minutos de trabalho, fazer uma pausa de 17 minutos aumenta a produtividade em 10%.

Mas como será que o mundo corporativo enxergaria essa pausa?

Aí está o problema. É preciso não permitir que a superficialidade das nossas escolhas e a miopia dos resultados de curto prazo limitem nossa visão.

Podemos aprender muito de forma divertida e prestando atenção àqueles que nos cercam, desde que não nos esqueçamos de que profundidade requer tempo e esforço.

Para sermos consistentes, precisamos celebrar a disciplina!

 

Cristiana Aguiar
Economista – Especialista em Gestão de Negócios e Pessoas
Conselheira no Conselho Empresarial de Varejo e no Conselho Empresarial de RH da ACRJ
CEO da Jeito Certo Consultoria

 

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