POLÍCIA

Saiba quem é Antonio Vinicius Gritzbach, assassinado pelo PCC no Aeroporto de Guarulhos

Empresário delator estava no centro de uma das maiores investigações sobre a lavagem de dinheiro do tráfico em São Paulo

Por JORNAL DO BRASIL com Brasil 247
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Publicado em 09/11/2024 às 08:25

Alterado em 09/11/2024 às 08:25

Antonio Vinicius Lopes Gritzbach quando foi preso, e seu corpo na rua, em frente ao aeroporto Fotos: reproduções

O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, estava no centro de uma das maiores investigações já realizadas sobre a lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Conforme revelado em reportagem do jornal Estado de S. Paulo, Gritzbach desempenhou um papel crucial ao delatar o esquema de movimentação financeira da facção na zona leste de São Paulo, especialmente na região do Tatuapé.

Gritzbach firmou um acordo de delação premiada em abril de 2024, após negociações iniciadas em setembro do ano anterior. Sua colaboração com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) expôs detalhes sensíveis sobre as operações financeiras do PCC, incluindo transações com imóveis de luxo e envolvimento em negócios ligados ao futebol. Sua delação também implicava a construtora Porte Engenharia e Urbanismo, da qual ele fez parte até 2018, em supostas vendas de imóveis para traficantes e transações com pagamento em dinheiro vivo.

Delação e ameaça de morte

O perigo para Gritzbach se intensificou após o acordo de delação, quando a facção criminosa colocou uma recompensa de R$ 3 milhões por sua morte. Em dezembro de 2023, quando ainda estava em prisão domiciliar, ele foi alvo de um disparo de fuzil enquanto se encontrava em seu apartamento no Tatuapé, tentativa que falhou por pouco. No entanto, o atentado no aeroporto revelou-se fatal, encerrando uma vida cercada por traições e alianças perigosas.

Conexão com figuras do crime

A ligação de Gritzbach com o mundo do crime remonta ao início de sua carreira como corretor de imóveis na Porte Engenharia. Foi nesse período que conheceu Anselmo Bechelli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, figura importante no tráfico de drogas. Gritzbach foi acusado de desviar R$ 100 milhões em criptomoedas de Cara Preta, o que culminou na execução do traficante em 2021. O ato resultou na primeira sentença de morte contra ele, emitida pelo PCC. O assassinato de Cara Preta também levou à morte de Antonio Corona Neto, apelidado de Sem Sangue.

O executor do crime, Noé Alves Schaum, foi posteriormente capturado, julgado pelo "tribunal do crime" e executado de forma brutal por um criminoso conhecido como Klaus Barbie, em alusão ao carniceiro de Lyon, oficial nazista famoso por sua crueldade. O corpo de Schaum foi deixado em Suzano, na Grande São Paulo, e sua cabeça, exposta no Tatuapé, onde Cara Preta havia sido morto.

Entre os elementos mais surpreendentes da delação de Gritzbach estava a revelação de um esquema de lavagem de dinheiro que passava pelo futebol. Documentos e mensagens apresentados aos promotores indicavam que dirigentes de empresas ligadas à carreira de jogadores eram suspeitos de atuar como agentes na operação de lavagem de recursos oriundos do tráfico. Embora o Gaeco não tenha, até o momento, encontrado evidências que impliquem atletas ou clubes diretamente, a apuração segue investigando a possibilidade de que o dinheiro usado nas negociações de atletas tenha origem no tráfico de drogas.

A Porte Engenharia afirmou que Gritzbach deixou a empresa em 2018 e que desconhecia a existência de qualquer envolvimento dele com o crime organizado. A construtora se posicionou publicamente, declarando que está à disposição para colaborar com as investigações. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) garantiu que investigações rigorosas serão conduzidas em caso de desvio de conduta de agentes.

A história de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, marcada por alianças perigosas, ambições e uma tentativa de reabilitação por meio da colaboração com a Justiça, chega ao fim de forma trágica. Seu caso lança luz sobre a complexidade do crime organizado em São Paulo e a audácia do PCC em retaliar, mesmo sob os holofotes das maiores investigações já realizadas contra a facção.

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