POLÍTICA
Mauro Cid entra mudo e sai calado durante depoimento à PF
Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 18/05/2023 às 18:05
Alterado em 18/05/2023 às 18:16
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), optou por ficar em silêncio durante seu depoimento à Polícia Federal, realizado nesta quinta-feira (18), na sede da PF em Brasília.
Cid está preso há duas semanas acusado de participar de um esquema de falsificação de dados de cartões de vacinação no sistema do Ministério da Saúde.
O braço direito do ex-presidente chegou à sede da Polícia Federal escoltado por policiais do Exército e permaneceu no local por menos de uma hora.
Durante o depoimento, ele foi questionado sobre a inserção de dados falsos no sistema do SUS relacionados à vacinação de sua família, incluindo sua esposa, três filhas, Bolsonaro e a filha mais nova do ex-presidente, Laura.
Além das perguntas sobre a fraude, a Polícia Federal pretendia interrogar o militar sobre supostas conversas envolvendo um plano de golpe em conjunto com outros aliados de Bolsonaro.
Como o suspeito alegou que não teve acesso ao conteúdo integral da investigação, a PF não insistiu em fazer perguntas.
Cid está detido desde o dia 3 de maio, como resultado da Operação Venire, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Essa operação faz parte das investigações sobre "milícias digitais".
A investigação
As acusações contra Cid incluem infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação, peculato eletrônico e corrupção de menores.
A investigação aponta que Cid teria organizado e operado as alterações nos cartões de vacinação de Bolsonaro e sua filha Laura.
O ex-ajudante de ordens teria recebido instruções de Ailton Barros, ex-major do Exército também preso, e contado com a participação de Élcio Franco, coronel que auxiliava Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde.
Em seu depoimento à Polícia Federal na última terça-feira (16), Bolsonaro admitiu que Cid era responsável por administrar sua conta no aplicativo ConecteSUS, mas alegou não saber quem controlava o acesso à conta de sua filha Laura.
O ex-presidente afirmou não ter ordenado a inserção de dados falsos sobre vacinas no sistema.
O medo da delação
O esquema de inserção de registros falsos de vacinação teria ocorrido em dezembro de 2022, pouco antes da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos.
A Polícia Federal descobriu o esquema após a quebra do sigilo do celular de Cid e identificou a participação de um secretário municipal de Duque de Caxias na inserção dos dados fraudulentos. O registro falso da vacina foi apagado logo depois da emissão do certificado.
A suspeita é de que os dados falsos tenham sido inseridos para beneficiar o ex-presidente e sua família, caso fosse exigida a comprovação de vacinação no exterior.
Após a emissão do comprovante falso, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu por três meses. A conta de ConecteSUS de Bolsonaro era controlada por Mauro Cid
Há preocupações entre os aliados próximos ao ex-presidente de que Cid possa buscar um acordo de delação premiada para revelar o que sabe em troca de possíveis reduções de punição. Cid contratou um advogado conhecido por negociar esse tipo de acordo.