POLÍTICA
Sâmia Bonfim confronta Coronel Zucco e Ricardo Salles na abertura da CPI do MST
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 23/05/2023 às 19:24
Alterado em 23/05/2023 às 19:42
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) foi, nesta terça-feira (23), o grande destaque da sessão que marcou a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Numa "tacada", ela questionou a idoneidade do presidente da CPI, tenente-coronel Zucco (Republicanos-SP), para julgar o caso, e impôs a primeira derrota ao relator Ricardo Salles (PL-SP), que tentou mudar o nome da comissão para criminalizar o MST.
No "duelo" contra Zucco, Sâmia, que é integrante da Comissão, leu uma notícia de que o nome do deputado foi incluído na investigação da Polícia Federal sobre os atos antidemocráticos de 8 de Janeiro.
A decisão de retomar a investigação foi dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na última sexta-feira (19). O caso envolve suspeita de patrocínio e incentivo a atos antidemocráticos no Rio Grande do Sul e em Brasília contra o resultado das eleições de 2022.
Enquanto ouvia as suspeitas contra si, Zucco cortou o microfone da deputada, que alega ter sido silenciada. Sâmia afirma que ainda tinha 30 segundos de fala, mas foi cortada por Zucco sob o argumento de ter acolhido uma "questão de ordem" para que não houvesse injúrias contra integrantes do Legislativo na CPI.
"Acabou de sair a notícia que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação nos atos antidemocráticos. Que até agora o senhor estava dizendo que era mentira", disse a deputada, quando foi cortada.
Zucco rebateu afirmando que o tema "não é pauta da CPI".
"Deputada Sâmia, eu aceitei a questão de ordem do deputado Kim [Kataguiri]. Nós não vamos permitir ataques pessoais. Sobre essa nota que a senhora falou, já tinha sido publicada. Isso não é pauta dessa CPI", afirmou.
Após alguns minutos, a deputada retornou ao microfone para apresentar questão de ordem por ter sido interrompida.
"Eu tive o microfone cortado quando ainda havia 30 segundos para eu concluir meu tempo de líder. Uma coisa é fazer interrupções, pedir ordem, quando há ofensas, quando parte para agressão física ou verbal. Eu não estava fazendo nada disso. Eu estava lendo uma reportagem da imprensa", começou a deputada.
Antes de concluir, contudo, seu microfone foi cortado mais uma vez, quando ela tinha cerca de 2 minutos para falar pelo tempo da liderança.
Zucco disse que não aceitava a questão de ordem da Sâmia porque já havia decidido que deputados não poderiam se referir de forma "descortês" ou "injuriosa" aos integrantes da CPI.
Houve um início de bate-boca, com Sâmia alegando, fora do microfone, que não havia concluído a fala e que o presidente da CPI precisava cumprir o regimento. Por fim, Zucco concedeu tempo à deputada.
Vitória contra Salles
O outro embate foi contra o também bolsonarista Ricardo Salles. Na leitura do Plano de Trabalho da CPI, o relator surpreendeu seus pares ao alterar o título do documento com intuito de criminalizar o MST antes de qualquer apuração.
O ex-ministro do Meio Ambiente tentou alterar unilateralmente o título da comissão para “Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos”.
Quando instalada, na última quarta-feira (7), o título da comissão aprovado na Câmara era “CPI do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)”.
Sâmia contestou a mudança e forçou Zucco, desafeto anterior, a recuar e ordenar que o nome da CPI voltasse ao escopo original, que havia sido determinado pelos deputados.
“Ele simplesmente distorce, deliberadamente, sem nenhum pudor, aquilo que foi a leitura, abertura e intuito real dessa CPI. Já falamos isso, a intuição dessa CPI é criar uma distração sobre os reais crimes que estão sendo cometidos neste país”, afirmou.
Por fim, Bomfim alertou a oposição sobre os riscos da comissão para a direita.
“Já teve outras CPIs do MST e não serviu de nada, o movimento segue vivo, forte e pujante. Essa CPI será uma grande propaganda para que mais pessoas se engajem na luta pela reforma agrária no país”, concluiu.
Início dos trabalhos
A CPI do MST teve o início dos seus trabalhos nesta terça. Para esta quarta, está prevista a votação de 14 intimações para depoimentos na Câmara, que devem ser realizados ao longo das próximas semanas.
Além disso, diligências em assentamentos invadidos por militantes do Movimento dos Sem Terra serão realizadas, ao longo dos próximos sete dias, em estados como São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, onde terras que seriam produtivas foram alvos da ação de ativistas em 2023.
De acordo com o tenente-coronel Zucco, os 14 depoimentos que serão votados nesta quarta compõem um total de 90 já protocolados, mas que serão submetidos a voto ao longo dos próximos meses. A ideia é criar um calendário que intercale nomes solicitados por governistas e oposicionistas.