POLÍTICA
Senador bolsonarista ironiza racismo contra Vini Jr: 'Cadê os defensores dos macacos?'
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 23/05/2023 às 21:36
Alterado em 23/05/2023 às 21:48
Bolsonarista de carteirinha, o senador ultraconservador Magno Malta (PL-SP) minimizou o racismo praticado contra o brasileiro Vinícius Junior.
Durante sua fala na sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta terça-feira (23), no Senado Federal, o parlamentar ironizou os xingamentos de "macaco" dos quais o jogador foi alvo e ainda criticou a atuação da imprensa - que, segundo ele, promove uma “revitimização” do atacante.
"As emissoras ficam com esse assunto desde ontem reverberando, revitimizando ele, porque o assunto dá Ibope para eles ganharem mais patrocinadores. É um assunto que eu não posso falar em público. Mas quando o cara é picado de cobra, quando ele corre para tomar injeção, a injeção foi feita de que? De cobra. Então você só pode matar alguma coisa com o próprio veneno de alguma coisa. Então é o seguinte, cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco? O macaco está exposto", discursou Malta.
Magno Malta disse ainda que "se fosse um jogador negro, entrava com uma leitoinha branca nos braços" em campo.
"E eu ainda dava um beijo nela: 'Olha como eu não tenho nada contra branco. Eu ainda como'. Então o veneno se faz com veneno. As pessoas ficam insistindo nessa coisa de macaco. Daqui a pouco a associação de defesa dos animais, que não tomou a defesa, então fica revitimizando o Vinicius. Ao invés de colocar o menino lá em cima", disse o senador.
Malta concluiu classificando como "uma barbaridade" o que fizeram contra o jogador e relativizou o componente racial das ofensas.
"Naquilo que fizeram com ele, a gente leva tudo para a cor da pele, mas tem muita coisa envolvida ali: tem inveja, queria ser ele e não é, queria driblar igual a ele e nunca conseguiu; é pai que queria ver os filhos jogarem, botou na escolinha de futebol, mas não deu em nada, zero... Aí tem inveja”, completou.
Racismo é crime, @MagnoMalta! É por isso que toda a sociedade civil está engajada em falar cada vez mais sobre o caso do @vinijr para que os criminosos sejam identificados e punidos. É inaceitável que um representante do povo tente minimizar a situação e ainda faça chacota! pic.twitter.com/8s7wWcA276
— Tabata Amaral (@tabataamaralsp) May 23, 2023
Conselho de Ética
Após a fala, o PSol afirmou que entrará com uma representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e também com uma notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O líder do partido na Câmara, Guilherme Boulos (SP), criticou o tom do discurso do senador. “É uma vergonha que um sujeito desse represente o povo brasileiro. Uma amostra do nível da oposição bolsonarista que o PSOL enfrenta todos os dias no Congresso”, observou.
Malta se defende
Já na sessão plenária do Senado, horas depois, Malta defendeu-se das acusações.
“Estão dando uma interpretação ao modo que querem a analogia que fiz. Nós fizemos um momento de solidariedade ao Vinícius Junior”, disse.
Em seguida, relembrou e enfatizou um trecho de sua fala na própria reunião da CAE, quando disse que “quando duas mãos se encontram e dois corpos se unem, reflete no chão a sombra da mesma cor”. E finalizou dizendo: “racismo é nefasto, é criminoso. Essa é a minha posição”.
Em julho do ano passado, Malta e outros parlamentares bolsonaristas, como Hélio Lopes, Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, e Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL-SP), chamado de "príncipe", chegaram a se 'inscrever' em um evento que visava negar a existência do racismo no Brasil. O evento foi cancelado posteriormente "por motivos de força maior".
Este ano, ele também tentou retirar a expressão "racismo" da Lei Geral do Esporte. O parlamentar foi o mentor de um destaque apresentado pelo líder do PL, Carlos Portinho, para modificar o texto e excluir ainda as palavras “xenofobia”, “homofobia” e “sexismo”.
O caso
Vinicius Junior foi vítima de mais uma manifestação racista na disputa de uma partida do Campeonato Espanhol no último domingo, diante do Valencia, no Estádio Mestalla. O brasileiro acusou parte dos torcedores anfitriões de chamá-lo de "macaco" aos 24 minutos do segundo tempo, quando o time da casa vencia o Real Madrid por 1 a 0.
Após permanecer parado por alguns minutos, depois da denúncia de Vinicius, o jogo foi retomado pelo árbitro Ricardo de Burgos.
Na reta final do confronto, o atacante brasileiro acabou expulso depois de uma discussão com o goleiro Mamardashvili - que virou uma confusão generalizada, na qual Vini chegou a levar um mata-leão de Hugo Duro, e reagiu com o braço direito, que atingiu o atleta do Valencia.