Torres nega interferência nas eleições e diz à PF que viajou à Bahia antes do 2º turno para visitar obra
Ex-ministro é investigado por supostamente pedir que PFe PRF somassem forças nas blitze realizadas na Bahia em 30 de outubro
O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, deixou a sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, por volta das 17h desta segunda-feira (8), após prestar depoimento no inquérito que investiga o uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar o trânsito de eventuais eleitores de Lula, sobretudo no Nordeste, no dia do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
À PF, com quem conversou por quase duas horas, o ex-ministro negou qualquer interferência no planejamento operacional da corporação durante o período eleitoral e afirmou que sua preocupação era combater possíveis crimes eleitorais, independentemente do candidato que pudesse se beneficiar dessas práticas ilícitas.
O ex-ministro confirmou ainda ter recebido uma planilha com os locais onde Lula e Jair Bolsonaro obtiveram melhores resultados no primeiro turno, mas negou tê-la enviado à PRF. Os investigadores suspeitam que esse relatório tenha sido utilizado como "bússola" para a organização de operações de fiscalização nas estradas do Nordeste durante o segundo turno, uma vez que Lula obteve ampla vantagem eleitoral nessa região.
Durante o depoimento, Torres foi questionado sobre sua visita à Bahia às vésperas do segundo turno, onde se encontrou com o então superintendente da PF no estado, o delegado Leandro Almada. Ele respondeu que viajou a convite do então diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes, para visitar uma obra.
Também disse na oitiva que sua conversa com Almada tratou sobre uma preocupação manifestada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em relação à possível falta de efetivo no dia do segundo turno.
A PF investiga se Torres teria pedido à Almada que atuasse em conjunto a PRF (Polícia Rodoviária Federal) nas rodovias para realizar blitze em locais em que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - hoje presidente - havia recebido mais votos que Bolsonaro no primeiro turno.
Nesse sentido, uma das linhas de defesa de Torres no depoimento desta segunda foi ressaltar que a ideia da viagem à Bahia não partiu do ex-ministro.
No entanto, dois de seus ex-auxiliares no ministério, a ex-diretora de Inteligência Marília de Alencar e o ex-secretário de Operações Integradas Alfredo Carrijo, afirmaram que havia uma ordem para que as instituições somassem forças, o que acabou não se concretizando.
Torres chegou ao prédio da PF por volta das 13h30, escoltado por viaturas da PMDF. A oitiva foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O ex-ministro deveria prestar depoimento sobre a questão no dia 24 de abril, mas o depoimento foi suspenso devido ao seu estado de saúde.
Os advogados de Torres já vêm dizendo que ele tem apresentado crises de ansiedade, angústia, sensação de falta de ar e risteza profunda. Ele estaria passando por "episódios de choros intensos e ininterruptos", além de pensamentos suicidas.
Torres foi preso por decisão do STF após os ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro. Ele havia sido recém-nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas viajou para os Estados Unidos antecipadamente, já que as férias dele começavam no dia seguinte às invasões. Ele é investigado por suspeita de omissão aos ataques.