PM que deu ordem de recuo durante os atos golpistas de 8 de janeiro é preso
'Na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso', disse major da PM em grupo de conversa de militares
Na 12ª fase da Operação Lesa Pátria, que tem como objetivo identificar envolvidos nos Atos Golpistas do 8 de Janeiro, em Brasília (DF), a Polícia Federal prendeu, nesta terça-feira (23), o major Flávio Silvestre de Alencar, da Polícia Militar do Distrito Federal. Ele já tinha sido preso no dia 7 de fevereiro, durante a 5ª fase da mesma operação.
Flávio é o major flagrado pelas câmeras de segurança dando ordens para tropa de policiais recuar da grade de contenção que impedia os bolsonaristas de avançar até o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, a PMDF encontrou no celular de Alencar uma troca de mensagens anteriores ao 8 de Janeiro, nas quais o major afirma que, em caso de manifestações na Esplanada dos Ministérios, a PM deveria facilitar as invasões.
Em mensagem postada em um grupo de oficiais da PM, chamado "Oficiais PMDF", o major disse a militares que, "na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso". No fim do texto, ele sorri.
A mensagem foi enviada em 20 de dezembro e foi encontrada no celular de outro policial, o tenente Rafael Pereira Martins, que havia sido preso em fevereiro, junto com Flávio, na 5ª etapa da investigação.
Além disso, ele é suspeito de ter facilitado o desmonte da barreira contra o grupo golpista, na rampa que liga o STF ao Congresso Nacional.
Flávio nega conluio
No dia dos ataques, o militar comandava o 6° Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, responsável pela Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios, cobrindo férias do titular.
Ele foi flagrado, por uma câmera de segurança, em um carro da corporação que escoltava outros veículos para longe da grade de contenção que impedia os bolsonaristas de avançar até o prédio do Supremo Tribunal Federal. O vídeo mostra quando ele desceu do carro, se dirigiu à Tropa de Choque e sinalizou para que os policiais deixassem o local.
Imediatamente, os militares entraram nos carros e começaram a deixar o local. Cerca de dez minutos depois, os golpistas avançaram em direção ao Supremo, sem resistência.
Ao ser preso em fevereiro, em depoimento aos investigadores, Alencar disse que achou “muito estranho ter sido convocado” para comandar o efetivo no 8 de Janeiro, uma vez que, pela sua patente, não é comum que um major atue em manifestações de grande porte.
Ele justificou a retirada de policiais, na ocasião, dizendo que recebeu a informação de que Josiel Pereira César, ajudante de ordens comandante-geral, além do próprio comandante, estavam presos pelos golpistas.
Por isso, solicitou o envio de 16 policiais, para que o acompanhassem até o interior do Congresso Nacional e para resgatar o comandante-geral. Alencar afirmou que a ação “não prejudicou o confronto com os manifestantes”.
Também no depoimento de fevereiro, ao tratar das imagens das câmeras de segurança – pelas quais ele ordena a retirada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da lateral do Congresso -, Alencar disse que o vídeo divulgado nas mídias foi editado.
Investigação
Nesta terça, além de prender Flávio, os policiais cumpriram quatro mandados de busca e apreensão e apreenderam duas armas com ele: uma funcional e outra que ele adquiriu em 18 de maio. Os mandados foram expedidos pelo STF.
Além disso, um policial aposentado foi alvo de buscas. Os investigadores apreenderam duas armas ilegais com ele.
De acordo com a corporação, o objetivo dessa fase da investigação é identificar pessoas que participaram, financiaram, omitiram-se ou fomentaram os ataques na capital.
Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de:
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado;
- Associação criminosa;
- Incitação ao crime;
- Destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Entre os alvos, estão empresários, produtores rurais e CACs (colecionadores de armas, atiradores e caçadores esportivos). Segundo a PF, a Justiça determinou o bloqueio de bens, ativos e valores dos investigados até o limite de R$ 40 milhões.