Celular de Cid revela encontros secretos entre Bolsonaro e Lindôra Araújo, vice-procuradora-geral da República
Vice-procuradora acumulou decisões favoráveis a Bolsonaro nos últimos anos
Registros encontrados no telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, mostram que Jair Bolsonaro (PL) mantinha "reuniões secretas" com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo.
A magistrada costumava proferir decisões favoráveis ao ex-presidente.
Bolsonaro tinha o hábito de se encontrar fora da agenda com Lindôra Araújo desde 2020, após o deputado federal Alberto Fraga, na época amigo de Bolsonaro, apresentar um ao outro. As informações são do jornal Metrópoles, que teve acesso ao material.
Um desses encontros, segundo as mensagens, foi realizado no dia 26 de março de 2021, em meio a um dos picos de crescimento das mortes registradas no país em decorrência do avanço da pandemia de Covid-19.
Na ocasião, Cid teria pedido a um outro ajudante de ordens de Bolsonaro para buscar Lindôra em seu apartamento e a levar ao Palácio do Planalto. O assessor, identificado como tenente Alencar, perguntou então se deveria "levar ela para sala de espera do Gab PR [gabinete da Presidência da República] ou deixar na região do mezanino".
“Bolsonaro chegou a prometer, num desses encontros, nomear Lindôra para a PGR, mesmo sendo ela a pessoa designada na época pelo procurador-geral, Augusto Aras, a analisar pedidos de investigação criminal contra o então presidente”, escreveu o colunista Guilherme Amado na reportagem.
Atualmente, Lindôra é responsável por acompanhar o inquérito que investiga Cid.
Histórico de 'alinhamento'
A vice-PGR já se manifestou diversas vezes de forma favorável a Jair Bolsonaro. Em novembro do ano passado, ela pediu ao STF o arquivamento de três pedidos para investigar o ex-presidente.
Já em fevereiro, Lindôra também pediu o arquivamento do inquérito aberto pela Polícia Federal que investigava as declarações feitas por Bolsonaro associando as vacinas contra a Covid-19 ao HIV, vírus causador da Aids.
Em meio à Operação Venire, por exemplo, o relatório da Polícia Federal enviado à Suprema Corte aponta que houve consentimento de Bolsonaro em relação ao esquema de falsificação de cartões de vacinação.
Já a subprocuradora-geral da República deu um parecer favorável ao ex-presidente. No despacho da PGR, Lindôra considerou que Mauro Cid teria agido "à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro".
Ela opinou contra a busca e apreensão na residência de Michelle e Jair Bolsonaro.