POLÍTICA

Torres desmonta narrativa que tenta incriminar Dino e culpa PMDF pelas falhas no 8 de janeiro

Após questionamento da deputada Jandira Feghali, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro confirma que segurança era responsabilidade do Governo do Distrito Federal

Por GABRIEL MANSUR
[email protected]

Publicado em 08/08/2023 às 19:49

Alterado em 08/08/2023 às 20:09

Anderson Torres prestou depoimento à CPI do Golpe Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

O ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres afirmou, nesta terça-feira (8), que a responsabilidade pelo número de policiais na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro era da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), frustrando uma narrativa bolsonarista que vinha tentando associar o Ministério da Justiça de Flávio Dino a uma suposta falha de planejamento. Torres argumentou que a Secretaria de Segurança era responsável pelo planejamento da operação, e não a execução.

“O que o protocolo colocou para a PM, a PM tem que cumprir; o que o protocolo colocou para a Polícia Civil, a Polícia Civil tem que cumprir. Meios, efetivos, número de homens, é com cada instituição”, explicou o ex-secretário em depoimento à CPMI do Golpe.

Esta é a primeira vez que Torres fala em público sobre o papel dele à frente da secretaria de segurança do DF quando ocorreu a invasão das sedes dos poderes, em Brasília. De acordo com Torres, caso o Protocolo de Ações Integradas (PAI) assinado por ele, que continha o planejamento da segurança para o dia 8 de janeiro, tivesse sido seguido à risca, “seríamos poupados dos lamentáveis atos do dia 8 de janeiro”.

O ex-secretário, que ficou preso preventivamente devido aos atos golpistas, disse que viajou “tranquilo” para os Estados Unidos na noite do dia 6 de janeiro porque não tinha informações sobre risco de ação radical em Brasília.

Segundo ele, o Comandante Militar do Planalto, general Dutra, havia mostrado que o acampamento em frente ao Quartel General (QG) do Exército, em Brasília, estava “praticamente desmontado”. O ex-secretário acrescentou ainda que “não havia confirmação de ônibus chegando à cidade”.

A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), questionou a versão do depoente. Para a parlamentar, as autoridades ouvidas pela comissão estão jogando a responsabilidade uma para a outra.

“Nós estamos ouvindo pessoas dos serviços de inteligência, nós estamos ouvindo pessoas da ação mais ostensiva, e a fala é sempre a mesma: 'Eu mandei alerta e eles não cumpriram'. Quem está do lado que deveria cumprir, que é a ação ostensiva, e diz: 'Olha, eu não estava aqui no Brasil, eu estava fora do Brasil, era para a Polícia Militar fazer e ela não fez'. Então, fica, na verdade, um jogo de responsabilidade”, concluiu.

Eliziane Gama acrescentou que os depoimentos podem não dar resultado, mas que a CPMI produzirá um documento com conclusões. “Com o cruzamento de dados e com as informações que chegarem a esta Comissão e que estão chegando a esta Comissão, de fato, nós chegaremos a esses responsáveis e esse relatório será, de fato, um relatório conclusivo”, afirmou.

Acareação

Eliziane Gama (PSD-MA) ainda protocolou um pedido de acareação entre o ex-ministro Anderson Torres e o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Leandro Almada. Cinco dias antes do segundo turno da eleição presidencial de 2022, Torres e Almada estiveram na Bahia com o então diretor-geral da PF, Márcio Nunes.

Segundo Torres, o encontro serviria para vistoriar obras da PF. Almada, por sua vez, teria relatado outra versão em depoimento. Conforme o requerimento da relatora, “é necessário que essa CPMI esclareça inconsistências e divergências entre depoimentos prestados por testemunhas e investigados”. O documento precisa contar com o apoio da maioria dos membros da comissão, em votação ainda não agendada.

"Almada coloca de forma clara e diz que não foi apenas uma visita a órgãos em construção da Polícia Federal. Eu estou protocolando uma acareação entre os dois para que a gente possa dirimir esses fatos e trazer ao conhecimento da comissão o que realmente ocorreu".