POLÍTICA
Áudio de Mauro Cid revela leilão de joias e 25 mil dólares 'em cash' a Bolsonaro
Por Gabriel Mansur
redacao@jb.com.br
Publicado em 11/08/2023 às 20:36
Alterado em 11/08/2023 às 21:14

A Polícia Federal interceptou um áudio, nesta sexta-feira (11), que pode comprometer ainda mais a situação de Jair Bolsonaro (PL) e seu exército no caso das vendas e apropriações ilegais de presentes recebidos pelo governo em viagem oficial.
O áudio em questão foi enviado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, a Marcelo Câmara, então assessor da Presidência, em 18 de janeiro deste ano.
Segundo a PF, as mensagens revelam “o objetivo de tentar vender as esculturas douradas e a existência de recursos em dólar, supostamente de propriedade de JAIR BOLSONARO, em posse do General MAURO LOURENA CID”.
Na mensagem, Cid menciona:
- 25 mil dólares a serem endereçados a Bolsonaro;
- tentativa de vender uma estátua de palmeira e um barco folheados a ouro, recebidos pela comitiva brasileira, durante uma visita oficial ao Bahrein em 2019;
- negociações para levar a leilão um dos kits recebidos na Arábia Saudita com relógio e joias masculinas.
Ainda no áudio, Cid reforça o medo de usar o sistema bancário para entregar o dinheiro ao ex-presidente da República. E uma preferência por fazer a entrega em dinheiro vivo, ou "em cash".
"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né? (...)", diz a transcrição da PF.
Marcelo Câmara responde, em mensagem de texto, sobre esse assunto. Diz: "Melhor trazer em cachê". Em seguida, manda uma outra mensagem: "Ok ciente".
Esculturas banhadas a ouro
Na sequência, o tenente-coronel diz que não conseguiu vender, nos Estados Unidos, as esculturas douradas em formato de palmeira e de barco, recebidas por Bolsonaro no exercício da Presidência da República em visita ao Bahrein.
"(...) aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (...) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (...) eu preciso deixar a peça lá (...) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje (...)’.
Por fim, Mauro Cid compartilha com Marcelo Câmara informações sobre um "kit", contendo um relógio, que iria a leilão em 7 de fevereiro de 2023. Ele não detalha o kit no áudio, mas a PF identificou que este era o kit de joias masculinas recebido por Jair Bolsonaro na Arábia Saudita. O Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou que fosse devolvido ao governo meses depois.
"(...) o relógio daquele outro kit lá vai, vai, vai pro dia sete de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar(...)", diz Mauro Cid.
O relógio ao qual Cid se refere foi vendido pelo seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, em Miami, nos Estados Unidos. Após o TCU exigir a devolução, Bolsonaro e os militares montaram uma “operação resgate" e conseguiram recuperar o rolex de diamantes, avaliado em R$ 300 mil, que já tinha sido vendido a uma joalheria. O
O relógio estava exposto para ser revendido quando Lourena Cid atuou junto do advogado Frederick Wassaf para recomprar o artefato por um preço superior ao recebido na venda.
Operação Lucas 12:2
Toda essa trama levou a PF a deflagrar a operação batizada "Lucas 12:2", em alusão ao versículo da Bíblia que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido". De acordo com a PF, ao todo, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Niterói (RJ).
A TV Globo e a GloboNews apuraram que, além da família Cid e do advogado da família Bolsonaro, o tenente do Exército Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens subordinado a Mauro Cid, também foi alvo da operação .
Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura a atuação de uma suposta milícia digital contra a democracia. Segundo a PF, os crimes apurados na operação desta sexta-feira são lavagem de dinheiro e peculato (desvio de bem público).