INFORME JB
Bolsonaristas tomam ‘chá de sumiço’ e desaparecem das redes após escândalo das joias desviadas
Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 14/08/2023 às 11:47
Alterado em 14/08/2023 às 12:00
"Um, dois, nem me viu, já sumi na neblina". O trecho da música "Capítulo IV, Versículo III", dos Racionais MC's, simboliza o chá de sumiço tomado pelos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais - reduto político da extrema-direita dos últimos anos. O apoio irrestrito ao ex-capitão, que sempre foi forte nas mídias, vem caindo a cada novo escândalo que vem à tona. É o que aponta um levantamento do jornal "O Globo".
A análise nos perfis de deputados federais e senadores bolsonaristas mostra que as menções sobre o ex-presidente nas redes minguaram desde o 8 de Janeiro, mesmo em dias considerados mais críticos a Bolsonaro. Na data que marcou a tentativa frustrada de golpe de Estado, 28 congressistas externaram discursos alinhados aos interesses de Bolsonaro, número nunca mais superado em outros dias críticos para o ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Passados oito meses da depredação em Brasília, uma operação da Polícia Federal mirou, na sexta-feira (11), o entorno de Bolsonaro para traçar o caminho de joias de luxo recebidas por ele enquanto chefiava o Executivo. Desta vez, nas horas seguintes à ação, uma única parlamentar ergueu a voz para dar suporte ao ex-presidente nas redes sociais: a deputada Bia Kicis (PL-DF).
Com ajuda de ferramentas de mapeamento, a reportagem vasculhou mais de 8 mil postagens dos 513 deputados federais e 81 senadores em seis ocasiões. Além do 8 de janeiro e do episódio mais recente, foram considerados outros quatro momentos em que personagens próximos ao ex-presidente viram o cerco se fechar:
- a prisão de Mauro Cide, 3 de maio, no âmbito do inquérito sobre a fraude nos cartões de vacinação do SUS;
- a denúncia de Marcos do Val (Podemos) sobre uma reunião de cunho golpista com a participação de Bolsonaro;
- a prisão e delação do hacker Wagner Delgatti, que afirmou que Carla Zambelli (PL) e o ex-capitão encomendaram um ataque aos sistemas eleitorais;
- a prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, acusado de interferir no fluxo de eleitores no segundo turno das eleições.
Ficou claro que apoio foi minguando a cada novo escândalo. No 8 de janeiro, como supracitado, 28 parlamentares saíram em defesa de Bolsonaro. Em 3 de maio, nas 12 horas seguintes à prisão de Cid, o mesmo número de congressistas se pronunciou contra a operação. Em 15 de junho, no caso a respeito de Marcos do Val, só oito parlamentares se manifestaram. O número caiu para quatro, no caso de Zambelli, e agora um, a respeito do desvio das joias.
Houve um repique na prisão de Vasques, em nove de agosto, quando dez parlamentares teceram críticas públicas. Um dos nomes que atacaram a operação sobre os bloqueios da PRF foi o deputado Capitão Alden (PL-BA). Ele chamou a decisão — proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos alvos prediletos do bolsonarismo — de “sem pé nem cabeça”, e chegou a publicar um palavrão. A postagem, porém, foi excluída.
Ordem de Valdemar
Na última sexta-feira, enquanto vinham à tona detalhes sobre as negociações envolvendo os presentes recebidos por Bolsonaro, a ordem para que correligionários mantivessem o silêncio partiu do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O próprio dirigente, que em outras ocasiões buscou blindar o principal nome do partido, não se manifestou nas redes.
Até os filhos do ex-presidente só falaram à noite, depois que os advogados do pai emitiram nota — o levantamento, no entanto, só considerou postagens feitas nas primeiras 12 horas após a ação ser desencadeada. “Mais uma vez a tentativa de assassinar a reputação de Bolsonaro salta aos olhos”, escreveu o senador Flávio (PL-RJ) no Twitter, passadas mais de 14 horas do momento em que os agentes da PF começaram a ir às ruas.
Perda de relevância
Um levantamento feito pela consultoria Bites a pedido de "O Globo" também detectou uma perda de tração de Bolsonaro nas redes. Este ano, o pico de menções — positivas ou negativas — ao nome do ex-presidente no Twitter deu-se no 8 de janeiro, com quase 1,3 milhão. O número é ligeiramente maior do que as 1,2 milhão de citações em 30 de junho, quando ele foi declarado inelegível em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na última sexta, entre as 50 postagens sobre Bolsonaro com maior repercussão no Twitter, apenas quatro eram de apoiadores do ex-presidente, ainda segundo a Bites.