'Bolsonaro perguntou se era possível invadir as urnas', delata hacker preso
Hacker Walter Delgati, conhecido por vazar as conversas da Lava Jato, foi preso preventivamente nesta quarta-feira
O hacker Walter Delgati, conhecido por vazar as conversas da Lava Jato em 2018, foi preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (2), em Araraquara, no interior de São Paulo, no âmbito da Operação 3FA, que visa esclarecer a atuação de pessoas na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
Durante depoimento, Walter resolveu fazer uma delação premiada. Ele afirmou que, durante reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto, o então chefe do Executivo teria perguntado se era possível invadir as urnas eletrônicas se o hacker estivesse munido do código-fonte.
"Isso não foi adiante, pois o acesso dado pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] foi apenas na sede do tribunal”
Delgatti Neto disse aos investigadores que só poderia ter acesso ao código-fonte das urnas dentro da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e que "não poderia ir lá".
Para garantir a segurança dos equipamentos, a Corte autoriza o acesso antecipado aos sistemas eleitorais, para fins de auditoria, 12 meses antes da data do primeiro turno. No entanto, segundo o TSE, o acesso ocorre em ambiente específico e sob a supervisão do tribunal.
"QUE apenas pode afirmar que a Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex- Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz o relatório da PF.
A reunião entre Bolsonaro e o hacker teria sido intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), também alvo da operação da PF desta quarta. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a operação, baseada em evidências de pagamentos feitos pelo gabinete de Zambelli ao próprio Delgatti. A PF ainda não divulgou o valor dos repasses.
De acordo com a Polícia Federal, os crimes aconteceram em 4 e 6 de janeiro deste ano. Nas datas, foram inseridos no sistema do CNJ e de outros tribunais brasileiros 11 alvarás de soltura de presos e um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Segundo as investigações, a invasão ocorreu “com a utilização de credenciais falsas obtidas de forma ilícita”. Isso configura crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Nome da operação
O nome 3FA é uma referência à autenticação de dois fatores (2FA), que é um protocolo de segurança de gerenciamento de identidade e acesso com a exigência de duas formas de identificação. Só assim, o usuário consegue ter acesso a dados. No caso dos investigados, foi preciso a atuação da PF, do MPF e do Judiciário contra a ação dos criminosos.
Operação
Moraes mandou o Departamento de Polícia Federal realizar busca e apreensão em pelo menos quatro endereços da deputada federal. A determinação foi para que a PF fizesse apreensão de "armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, passaporte, bem como de quaisquer outros materiais relacionados aos fatos investigados". Assim, a PF cumpriu o mandado em Brasília e em São Paulo. Os policiais atuaram tanto no apartamento funcional quanto no gabinete da deputada.
Zambelli prestará depoimento à PF na próxima segunda-feira (7). A corporação também realizou busca e apreensão na casa da deputada e levou 2 celulares, um HD e passaporte. Nada foi levado de seu gabinete, segundo a congressista.
O que diz Zambelli
Zambelli nega a versão dada por Delgatti, mas ela reconhece que o levou a reuniões em Brasília. Segundo a deputada, o objetivo seria montar uma equipe para fiscalizar as urnas. Disse também que a ação de busca e apreensão da Polícia Federal em seu gabinete na Câmara feriu regras da Casa e do devido processo legal. Segundo ela, sua sala foi aberta sem a presença de uma testemunha. A deputado declarou que comunicará o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e questionará a ação da PF na Justiça.
“A Polícia Federal, por ordem do Alexandre de Moraes, abriu meu gabinete sem a presença de nenhuma testemunha. Isso fere o regulamento da Câmara e deve ferir o devido processo legal também. Vai ser feito um relatório para Lira e a gente vai questionar isso na Justiça”, disse em entrevista a jornalistas na Câmara.