POLÍTICA

Liderança no Sul Global, Brasil levará pautas do G77 para demais potências emergentes

Criado em 1964 por 77 países, o G77 nas Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento que visa promover os interesses econômicos coletivos de seus membros

Por POLÍTICA JB com Sputnik Brasil
redacao@jb.com.br

Publicado em 15/09/2023 às 19:13

Alterado em 15/09/2023 às 19:14

Lula e Janja embarcaram para Cuba nesta sexta; o vice Alckmin assumiu a Presidência Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa neste sábado (16) da Cúpula de Líderes do G77 + China, em Havana, Cuba. O encontro terá como tema "Desafios Atuais do Desenvolvimento: Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação" e, segundo especialista, será uma boa oportunidade para o Brasil exercer uma espécie de liderança do Sul Global.

Criado em 1964 por 77 países, o G77 nas Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento que visa promover os interesses econômicos coletivos de seus membros e criar uma maior capacidade de negociação conjunta na ONU. De acordo com especialistas entrevistados pela Sputnik, por sua composição, número, população, recursos naturais e minerais, o grupo, que se expandiu muito nas últimas décadas, representa um polo muito significativo na geopolítica atual.

Para o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Vinícius Rodrigues Vieira, a reunião é uma boa oportunidade para o Brasil exercer uma espécie de liderança no Sul Global.

"O G77 acaba sendo um veículo para voz dos países do Sul Global que não fazem parte do BRICS. O Brasil deve procurar não se impor na cúpula e realmente ouvir os países do G77, principalmente, os mais pobres. Para (o presidente Lula) levar, como novo presidente do G20, as pautas desses países para as demais potências emergentes", avalia o pesquisador.

O especialista acrescenta outros temas que devem ser discutidos na cúpula.

"O crescente endividamento dos países e questões de segurança alimentar. A multipolaridade, integração regional e redistribuição de poderes na ordem global são apenas meios para satisfazer essas demandas de desenvolvimento que passam, necessariamente, pelo controle das mudanças climáticas, pela segurança alimentar e por mais oportunidades de desenvolvimento, como um todo, para o Sul Global", afirma Vieira.

Já o professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Centro de Estudos Avançados da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Renan Montenegro explica como o G77 pode contribuir para a ampliação da participação do Sul Global na economia internacional.

"O primeiro eixo diz respeito à própria ferramenta de incremento da cooperação Sul-Sul, ou seja, o grupo de países sendo utilizado para discutir quais são as principais demandas e, nesse sentido, apontar direções importantes para a costura de acordos de cooperação entre países do Sul Global. Uma segunda potencial contribuição é a coordenação de discursos e de posicionamentos no âmbito multilateral. É um grupo que consegue coordenar a sua retórica, tem um impacto político importante. Estamos às portas da Assembleia-Geral da ONU, então a ocorrência dessa cúpula do G77 pouco antes torna esse evento um local privilegiado de interação entre os seus membros", explica Montenegro.

Para a professora de relações internacionais da UniRitter Amanda Harumy, também ouvida pela agência, a presença da China no encontro do G77 também é um fator positivo para os países mais pobres.

"A China não é uma economia com problemas de desenvolvimento e tem chamado muito a atenção dos países em desenvolvimento nessa perspectiva do quanto a China pode ajudar e cooperar. A China tem um histórico de cooperação na lógica econômica comercial e há uma tendência da China em se movimentar mais politicamente. O papel da China é muito forte quando se fala dos países pobres, existe também um antagonismo que a China faz aos Estados Unidos."

De acordo com o pesquisador Lucas Domingo Hernández Polledo, do Centro de Estudos de Política Internacional (CIPI), de Cuba, um dos desafios fundamentais durante a presidência temporária de Havana será a manutenção da unidade da organização multinacional, que agrupa quase todas as nações do Hemisfério Sul.

"Se o grupo manteve sua existência de quase seis décadas é porque os desafios que antes tinham constituíram um fator de motivação para a confluência, em detrimento da pluralidade cultural, geográfica, socioeconômica e política de seus 134 Estados integrantes, com amplas potencialidades e influência para mudar a injustiça da ordem mundial imperante", disse Polledo.

O acadêmico defende a política de concertação e o esforço conjunto da capacidade diplomática dos membros do grupo para exigir o cumprimento dos princípios do direito internacional, o fortalecimento do multilateralismo, a colaboração com os organismos internacionais e o "empoderamento e influência" da Assembleia-Geral da ONU.

Após o encontro deste sábado (16), Lula segue viagem para Nova York, onde participará da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas. Nos Estados Unidos, o presidente brasileiro também terá uma reunião bilateral com o chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, prevista para o dia 19 de setembro.

Tags: