POLÍTICA
CPMI do Golpe encontrou fotos de Hitler e Mussolini no celular de ex-PRF Silvinei Vasques
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 16/10/2023 às 10:56
Alterado em 16/10/2023 às 12:23
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do 8 de Janeiro teve acesso aos dados do celular do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (STF), Silvinei Vasques, que foi apreendido pela Polícia Federal (PF). No aparelho, que está em mãos do colegiado, constam fotos dos ditadores sanguinários Adolf Hitler e Benito Mussolini, além de registros ao lado do clã Bolsonaro.
Nas imagens, Hitler aparece ao lado do então ministro de propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, enquanto Benito Mussolini está pendurado pelos pés em um posto de gasolina, quando foi capturado e morto pela Resistência italiana. Além disso, o ex-chefe da PRF conservou fotos ao lado do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro durante as celebrações do Bicentenário da Independência no ano passado.
O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que está sob investigação no STF por causa de uma minuta considerada golpista encontrada em sua residência, também é uma figura frequente nas imagens armazenadas no celular de Silvinei.
De acordo com fontes da CPI, o material extraído do celular contém indicações de ter sido recebido de terceiros por Silvinei. Não há nos documentos mensagens enviadas por ele, o que levou a CPI a deduzir que o ex-chefe da PRF tinha o costume de apagar os próprios arquivos, já temeroso de que poderia ser alvo de quebra de sigilo, como acabou sendo. A informação é da colunista Malu Gaspar.
A quebra dos sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático do ex-chefe da PRF pela CPI foi suspensa pelo ministro Kassio Nunes Marques, do STF, o que na prática impede que as informações sejam utilizadas no relatório final da comissão. A decisão atendeu a um pedido do próprio Silvinei, homem de confiança de Bolsonaro que comandou a PRF de abril de 2021 até dezembro do ano passado.
Apesar disso, o conteúdo do celular foi entregue à comissão, que se reunirá nesta terça-feira (17) para analisar o relatório elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que deve resultar em pelo menos quatro acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em agosto, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou a prisão preventiva de Silvinei a pedido da PF, que alegou haver o risco de ele comprometer o aprofundamento de investigações e interferir em depoimentos sobre o uso da corporação contra eleitores de Lula. O ex-chefe da PRF continua preso.
Áudios ofensivos
Uma captura de tela do celular, datada de 30 de outubro, dia do segundo turno das eleições, mostra uma mensagem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alertando que “quem impede a população de votar comete crime eleitoral”. A mensagem também informa que irregularidades podem ser denunciadas por meio do aplicativo Pardal, da Justiça Eleitoral.
Os bloqueios de rodovias pela PRF neste dia também irritaram alguns interlocutores de Silvinei, que enviaram áudios expressando descontentamento com a atuação da corporação.
“Vasques, Vasques… sabemos que tem o dedinho seu a mando do Bostonaro…. pra fazer isso, né? Para ordenar os agentes da PRF ficar barrando, fingir blitz para segurar os nordestinos e impedi-los de chegar ao seus locais de votação. O Lula ganhando, vamos pedir sua exoneração. Positivo?”, diz um homem não identificado.
Em outro áudio, uma mulher dispara: “Olha, tu deixa o povo votar, seu pau no c…. Desgraçado. Tu quer roubar igual teu presidente. Vai arder no inferno. Satanás já está te esperando lá, desgraçado. Deus está vendo o que você está fazendo.”
A CPI suspeita que Silvinei tenha armazenado esses áudios contendo insultos e ameaças para uma possível retaliação, caso Bolsonaro permanecesse no cargo.
A defesa de Silvinei, no entanto, nega o conhecimento sobre a existência de áudios e fotos em seu celular. Eles argumentam que a participação em grupos de WhatsApp pode ter causado o arquivamento automático desses conteúdos.