POLÍTICA

Lula diz que está "100% preparado para todas as lutas que vierem"

Em entrevista, presidente se diz fisicamente recuperado e pronto para percorrer o país na "colheita" dos resultados das políticas plantadas nos dois primeiros anos de gestão

Por POLÍTICA JB
redacao@jb.com.br

Publicado em 30/01/2025 às 15:44

Alterado em 30/01/2025 às 19:15

O presidente Lula em entrevista na manhã desta quinta-feira Foto: Ricardo Stuckert

Um presidente pronto para retomar as viagens pelo país para entregar, conferir e acompanhar os resultados das políticas retomadas e implementadas nos dois primeiros anos de mandato. Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto nesta quinta-feira, 30 de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que recebeu de sua equipe médica todas as liberações para retomar atividades físicas e a rotina de agendas, após o acidente que sofreu em Brasília no fim do ano passado.

“Estou 100% recuperado, 100% preparado para todas as lutas que vierem a partir de agora”, resumiu. “Vou me dedicar muito para começar a viajar ao Brasil, para começar a percorrer os estados, para começar a visitar a sociedade brasileira e estabelecer uma conversa muito verdadeira”.

Lula afirmou considerar esse terceiro ano o mais importante de seu mandato. “É o ano em que a gente começa a grande colheita de tudo o que foi plantado em 2023 e 2024. Na verdade, foi quase que uma reconstrução para que a gente pudesse fazer o país voltar a funcionar, o país voltar a ser respeitado no mundo, o país voltar a ter importância no cenário político internacional”, listou.

O presidente disse estar convicto que ao fim do mandato, em dezembro de 2026, o Brasil estará numa situação econômica, social e de segurança alimentar muito favorável. Lembrou do crescimento do PIB acima de 3% nos dois primeiros anos, o desempenho expressivo do país na geração de emprego, o aumento real do salário mínimo, a retomada das contratações do Minha Casa, Minha Vida e a reformulação de diversos programas sociais como essenciais para essa sensação.

“O que fizemos e vamos fazer na saúde, o que estamos fazendo na educação, o que estamos fazendo no transporte... Vocês sabem que em dois anos já fizemos o dobro do que foi feito em quatro no governo passado? Vocês sabem que nós vamos fazer 41 licitações com empresas privadas para consertar as estradas brasileiras contra seis que foram feitas em quatro anos no outro governo? Isso é uma demonstração de que as coisas estão sendo feitas, plantadas e vamos começar a colher. Há quanto tempo vocês não viam a indústria brasileira crescer, com forte investimento público e privado?”, disse.

ALIMENTOS - Uma das frentes em que o Governo Federal tem trabalhado, segundo o presidente, é na inflação específica dos alimentos. “Não tem sentido você fazer um sacrifício enorme de políticas públicas para fazer com que o dinheiro chegue na ponta e depois esse dinheiro seja comido pela inflação”, afirmou o presidente. Lula enfatizou, contudo, que o governo não fará qualquer tipo de interferência no mercado nem tomará medidas com tom de “bravata”.

“O que precisamos trabalhar com carinho é o seguinte: aumentar a produção de tudo aquilo que a gente produz, fazer com que a pequena e média agricultura, responsável pela produção de quase 100% dos alimentos, possa produzir mais. Para isso, a gente tem que fazer mais financiamento para a modernização da produção”, explicou o presidente.

CELEIRO DO MUNDO - Lula citou que tem se reunido com representantes de todos os elos da cadeia produtiva conectada ao setor para avaliar de que forma o Governo Federal pode contribuir para a questão, sem perder de vista o papel do país como importante protagonista na segurança alimentar mundial. “Aquilo que a gente falava há 20 anos, que parecia um sonho, demagogia, virou verdade. O Brasil virou o celeiro do mundo. Prova é que abrimos 300 mercados novos em dois anos de governo. Então, estamos conscientes de que vamos querer continuar exportando e trabalhando para que o alimento possa ser produzido”, disse. E resumiu o cenário que pretende ao fim do mandato. “Se tem uma coisa que quero fazer é entregar o país com o povo comendo mais, estudando mais, trabalhando mais. É esse país que eu vou entregar.

Momento especial do Brasil

Retomar o protagonismo no cenário internacional, consolidar-se como potência na transição energética, tornar-se um mercado cada vez mais atraente a outros países e fortalecer a democracia. Em coletiva com a imprensa nesta quinta-feira (30/1), no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ressaltar o papel de liderança reconquistado pelo país no plano geopolítico, reforçou a importância de sediar eventos como G20, no ano passado, e BRICS e COP30 neste ano, e enfatizou a importância de proteger os valores de democracia.

“Eu não tenho nenhuma humildade de dizer para vocês que fizemos o mais importante G20 da história. Agora, vamos repetir com o maior BRICS e fazer a melhor COP, no coração da Amazônia, onde ninguém acreditava que fosse possível. Em qualquer parte do planeta, as pessoas dão palpite sobre a Amazônia. Todo mundo é especialista, todo mundo quer proteger. Então, vamos fazer lá, na cidade de Belém, para que as pessoas saibam o que é a Amazônia, para que as pessoas vejam a grandeza da natureza da Amazônia”.

Para o presidente, o evento na capital paraense é a oportunidade para que as nações contemplem na prática as necessidades de investimentos para mitigar efeitos das mudanças climáticas, e a chance de que conheçam como vivem ribeirinhos, indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais. “Essa COP30 vai ser um balizamento do que vamos querer daqui para frente. Vão estar indígenas para discutir, quilombolas, chefes de Estado e especialistas. Nós queremos uma coisa muito verdadeira”, disse. E completou:

“Se a gente não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas, porque aprovam medidas, fica tudo bonito no papel e depois nenhum país cumpre. Os países ricos se comprometeram a dar 100 bilhões de dólares por ano para países de desenvolvimento, em Copenhague, em 2009, e até hoje não deram”, cobrou o presidente, citando novas promessas de financiamento realizadas na COP do ano passado, em Baku, no Azerbaijão, e a necessidade de dar proteção a quem depende dos ecossistemas a serem preservados. “Embaixo da copa de cada árvore existe um indígena, um ribeirinho, um trabalhador rural. Essa gente precisa viver, tem que ter acesso às coisas que todo mundo tem, bens materiais que a civilidade conquistou”, completou.

EXPORTAÇÕES - O presidente citou ainda o bom momento do comércio externo brasileiro, que abriu mais de 300 mercados a produtos agrícolas nacionais nos últimos dois anos. “Aquilo que a gente falava há 20 anos, que parecia um sonho, virou verdade. O Brasil virou o celeiro do mundo. Prova é que abrimos 300 mercados novos em dois anos. E ainda fizemos um acordo com a União Europeia, que é o maior bloco comercial do mundo”, lembrou o presidente.

ALIANÇA GLOBAL - Lula reforçou ainda que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma das principais conquistas do Brasil à frente do G20 em 2024, vai ter o primeiro grande evento em maio, com todos os ministros de agricultura dos países africanos. “Nós vamos fazer uma reunião para mostrar o que temos de bom no combate à fome no Brasil, levá-los a campo para ver o que está acontecendo e fazer uma reunião técnica coordenada pela Embrapa, pelo Ministério das Relações Exteriores, para transferir um pouco de conhecimento aos nossos companheiros africanos para ver se a gente combate a fome de verdade”.

REFORMA TRIBUTÁRIA - O presidente citou também os efeitos da reforma tributária, a primeira aprovada num regime democrático na história do Brasil, para diversificar os negócios brasileiros com o exterior no futuro. “Uma coisa que o mundo vai agradecer é a aprovação da reforma tributária, que vai entrar em vigor em 2027 e permitir que o Brasil passe a ser um país mais atrativo para investimentos de estrangeiros e mais seguro para os investimentos nacionais”.

DEMOCRACIA - Sobre o contexto internacional, o presidente reforçou a importância de que todos entendam a importância de lutar pela permanência da democracia e das instituições democráticas e representativas, não só no Brasil. “Não é possível o que está acontecendo no mundo com a democracia. A democracia, na verdade, será a grande derrotada se a gente permitir o crescimento da extrema direita no mundo inteiro, se a gente permitir a vitória das fake news, como está acontecendo, e se a gente permitir que a mentira, sabe, saia vitoriosa, ganhando da verdade”.

RECIPROCIDADE - O presidente brasileiro comentou, ainda, sob a perspectiva de anúncios de taxação de produtos brasileiros em função da mudança na administração dos Estados Unidos. Para Lula, a questão passa pelo campo da reciprocidade. “É muito simples. Se taxarem os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil”, afirmou. “Quero respeitar os Estados Unidos e quero que o presidente Donald Trump respeite o Brasil. Da minha parte, o que quero é melhorar a nossa relação com os Estados Unidos, exportar mais se for necessário, importar mais se for necessário, e a gente manter a nossa relação, que é de 200 anos”.

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