SÃO PAULO
Pai de aluno que matou colega em escola de SP aconselha brasileiros a entregar suas armas: ‘Olha a tragédia que causou na minha vida’
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 26/10/2023 às 16:57
Alterado em 26/10/2023 às 18:36
O motoboy Marcos Tuci, pai do estudante de 16 anos que matou a jovem Giovanna Bezerra da Silva durante um ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, se apresentou, nesta quarta-feira (24), à Polícia Civil do Estado. A arma usada no crime era dele e foi encontrada pelo filho no fim de semana, quando passou um tempo na casa do pai.
Em entrevista ao Metrópoles na saída da delegacia, Marcos contou que comprou a arma em 1994, aos 22 anos, quando trabalhava com corte e religação de água, o que, segundo ele, era perigoso.
Ainda segundo o pai, "muitos funcionários andavam armados", embora ele mesmo nunca tenha usado o revólver nesses quase 30 anos de posse: "É uma besteira. Na época, era moleque novo”, disse. Agora, ele reconhece o erro incorrigível e pede para os brasileiros que tenham armas em casa as entreguem para as autoridades.
“Arma é uma coisa negativa. Quem tem arma em casa, entregue. Tive por 29 anos e nunca usei. Olha a tragédia que causou na minha vida”, disse o pai do adolescente.
Durante o período em que teve o revólver, Tuci nunca fez o recadastramento e disse que a arma ficou guardada.
“Teve aquelas campanhas de desarmamento, eu morava em outra casa, em São Mateus [zona leste]. Era bem inseguro, o muro era baixo, eu tinha medo e não me desfiz”, afirmou. “Como mudei agora para uma comunidade, e não é um ponto visado, até estava pensando em me desfazer”, disse.
O motoboy se disse muito "abalado" com o crime cometido pelo filho, de quem ele não esperava qualquer tipo de reação contra o bullying que sofria.
“Estou muito abalado com o que aconteceu. Não via potencial no meu filho para cometer uma tragédia dessa. Achava que fosse acontecer algo com ele, de morrer e não reagir", afirmou.
Para ele, o filho era vítima de algo destrutivo, que pode ter contribuído com reação curiosa. “A pessoa fica em um beco sem saída. Ou ela se mata ou faz isso com alguém para se libertar. Não sei se estou falando a coisa correta”, disse.
O motoboy afirmou que não quer julgar ninguém, mas que também não houve apoio da escola, do governo ou de outras entidades para ajudar o filho, antes da tragédia. “Ele passou por um Caps [Centro de Atenção Psicossocial], a psicóloga fez algumas consultas e disse que não tinha distúrbio mental”, disse.
Segundo ele, o garoto teve uma criação adequada, nunca se envolveu com armas e frequentava a igreja, tendo feito catequese e primeira comunhão. Também afirmou que o filho agiu sozinho, sem participação de terceiros. Por fim, ele pediu perdão à família da vítima.
“Sei que não adianta, mas peço perdão do fundo do coração pelo que meu filho fez. Sei que ele está sofrendo na prisão (não se trata de um presídio, uma vez que o suspeito é menor de idade), e eu como pai tenho um sentimento de culpa. A arma era minha, eu sinto, mas o que estou sofrendo não é nem 10% do que essa família está sofrendo com a perda da filha”, afirmou.