Uma boca, 13 mil palavras

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-->Jornal do Brasil -->|T e rça-feira, 28 de setembr o de 2010-->17-->POESIA-->Uma-->Lula Branco Mar tins-->Um dos poemas mais importantes da liter atur a br a - sileir a está sendo lançado em D VD . É isso mesmo: poesia digitalizada, lida pela v oz do próprio autor – no caso , F err eir a Gullar , que este mês festeja 80 anos. O lançamento do -->P oema sujo -->em meio eletrônico f az parte das comemor ações. Esta noite, o Instituto Mor eir a Sal - les, na Gáv ea, será palco de mais uma parte da festa. Com Gullar pr esente, e entr ada g r atuita, alguns tr ec hos do filme (sim, é um filme) serão e xibidos. A pós a sessão , ha v erá mesa-r edonda com o poeta e mais Alcides V il - laça, Antônio Car los Secc hin e Eucanaã F err az. Escrito em Buenos Air es, entr e maio e outubr o de 1975, o -->P oema sujo -->é consider ado a “obr a do e xílio” de F err eir a Gullar (que por aqueles tempos es- cr e v eu também -->Dentro da noite veloz -->). Sentindo que o estado das coisas se ag ravava , impossibilitado de v oltar ao Br asil e, como diz, “r odeado por dita- dur as”, o poeta r esolv eu f az er um poema que r e - sumisse toda a sua história, sua passagem pelo m undo , e que mostr asse o seu modo de enxer gar a vida. Esta v a r eceoso de que seriam as últimas linhas que iria escr e v er . E então v omitou. O início do poema, par a ele, “é um vômito”, apenas pala vr as sem sentido . Gullar queria escr e v er tudo de uma v ez, escr e v er qualquer coisa que viesse à ca beça. No D VD (dirigido por J oão Mor eir a Salles), além da leitur a integ r al do poema, com o r osto do escritor bem perto da câmer a, há uma entr e vista. Ali, então , con - fessa: “Eu mesmo não entendo nada daqueles pri - meir os v er sos” ( -->tr ec ho tr anscrito na página anterior -->). A primeir a edição do -->P oema sujo -->saiu em 1976, pela Ci vilização Br asileir a, um li vr o deitado , horiz ontal, contendo “mais de 13 mil pala vr as”, na conta do poeta e compositor V inicius de Mor aes. O lançamento se deu, no Rio , sem a pr esença do autor . Esta v am r eunidos naquela noite vários amigos dele, como Zir aldo , Mário Lago e Zuenir V entur a, mas de Gullar ha via apenas um pôster na par ede. Um ano antes, V inicius tinha o visitado na Ar gentina. Soube do poema, ouviu o poema e, na v olta ao Rio , tr ouxe uma fita cassete com a v oz de Gullar lendo seus v er sos. V inicius acr edita v a que, ao desembar car , ninguém iria quer er v erificar o conteúdo de um cassete. O estr atagema deu certo: a fita não c h amou a atenção na alfândega e passou. E o r egistr o aca baria ser vindo de embrião par a o li vr o que f oi de f ato lançado . Se f ossem papéis que V inicius mostr asse aos fiscais no desembar que, talv ez a história f osse difer ente, par a pior . Hoje e xistem v er sões em várias línguas. O -->Poema sujo -->já f oi publicado na Ar gentina, na Colômbia, nos Estados Unidos, na Espanha, na F r ança, na Ale- manha e na Suécia. Há de tudo nele: lembr anças da infância, em São Luís do Mar anhão; pitadas sub- v er si v as nas entr elinhas; e xperiências f ormais com a linguagem poética; onomatopeias; pala vr as do mais baixo calão (daí o “sujo” do título); obsessão pelo cor po; partes rimadas, partes li vr es; e até um tr ec ho r az oa v elmente conhecido , popular: “Lá v ai o tr em com o menino/ lá v ai a vida a r odar/ lá v ai cir anda e destino/ cidade e noite a gir ar/ lá v ai o tr em sem destino/ pr o dia no v o encontr ar/ corr endo v ai pela terr a, v ai pela serr a, v ai pelo mar”, v er sos que se encaixam na melodia de -->O tr enzinho do caipir a -->, composição de V illa-Lobos. Em entr e vista ao -->B -->, G ullar cita, porém, outr o tr ec ho como o mais mar cante: – É o segmento final. P ois, par a m im, esta é u ma parte autônoma. Começa assim: “O homem está na cidade/ como uma coisa está na outr a/ e a cidade está no homem/ que está em outr a cidade”. O D VD , com pr eço sugerido de R$ 45, estará à v enda, hoje, na lojinha do IMS. T ambém poderá ser encontr ado ali o no v o li vr o de poesias de F err eir a Gullar , intitulado -->Em alguma parte alguma -->.-->boca, 13 mil palavras-->Fer r eira Gullar estará hoje no IMS falando sobr e o lançamento, em DVD, do ‘Poema sujo’, obra gigante, escrita em 1975, na Ar gentina