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Filha de Silvio Santos faz discurso de ódio ao defender homofóbicos na TV

Bolsonarista, Patrícia Abravanel é mulher do secretário de Comunicação do presidente da República

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 02/06/2021 às 08:54

Alterado em 02/06/2021 às 08:58

Patrícia Abravanel Reprodução de vídeo

A apresentadora Patrícia Abravanel, 43, voltou a se envolver em polêmica, nessa terça-feira (1º), ao falar sobre homofobia no programa Vem Pra Cá (SBT). Ela defendeu maior compreensão dos gays a pessoas que ela chamou de “conservadoras” e debochou da sigla LGBTQIA+.

O discurso polêmico aconteceu quando a filha de Silvio Santos, 90, comentava as críticas recentes ao ator Caio Castro, 32, e à apresentadora Rafa Kalimann, 28, que compartilharam um vídeo com falas preconceituosas e contrárias a relacionamentos homossexuais em suas redes sociais nos últimos dias.

“Acredito que nós, mais velhos e que fomos educados por pais mais conservadores, estamos aprendendo, estamos nos abrindo, mas é um direito também das pessoas respeitarem. Por que não concordar em discordar? Podemos ter opiniões diferentes, e tudo bem! Tudo é muito enfatizado, muito polemizado”, afirmou Abravanel.

Ela disse ainda que não acredita que Caio Castro e Rafa Kalimann são homofóbicos, mas “foram educados de uma outra maneira”. “Acho que, assim como LGBTYH (sic), não sei, querem o respeito, eles têm que ser mais compreensíveis com aqueles que hoje ainda não entendem direito ou estão se abrindo para isso”, continuou ela.

Abravanel, que divide a apresentação do programa com o jornalista Gabriel Cartolano, 29, disse ainda que é difícil falar sobre diversidade aos filhos. “O que vou falar para o meu filho? Como falar? Então tem que ter respeito, compreensão e não fazer um massacre. Não é por força, poder, mas por diálogo, conversa, respeito.”

Casada com Fábio Faria, ministro das Comunicações do governo Jair Bolsonaro (sem partido), ela tem três filhos, de idades entre dois e seis anos.

Nas redes sociais, internautas se revoltaram com o discurso da apresentadora. “Devemos ser tolerantes com a homofobia, afinal conservadores estão aprendendo e até se abrindo! Uau, obrigado conservadores por permitirem que eu viva", comentou Pedro HMC, criador do canal Põe Na Roda, especializado em conteúdo LGBTQIA+.

Thiago Amparo, advogado, professor universitário e colunista da Folha, também comentou o caso no Twitter e acusou Abravanel de homofobia: “Bem, minha humanidade como LGBT, no país que mais mata LGBTs, não é questão de opinião, é de sobrevivência. E se for opinião, a minha é de que sua fala é homofóbica”.

Procurada pela reportagem, a advogada Marina Ganzarolli, especialista em direito à diversidade e presidenta da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-SP, critica a fala de Patrícia Abravanel, que ela diz se enquadrar “em um discurso de ódio e que pode, sim, ter a lei de racismo aplicada contra ela”.

Ganzarolli diz que a apresentadora desqualifica uma discussão muito importante, que é a conversa com quem pensa diferente. Para ela, o diálogo é fundamental, mas muitas vezes vem camuflado de boa intenção, só para reforçar o discurso de que existem modelos ideais e padrões de amor, como ela classifica a fala de Abravanel.

“Estamos vivendo uma época de polarização, cancelamento, e cada vez mais, falo como educadora, educar adultos é um grande desafio. Criança já é difícil, adultos é um desafio enorme. Como alcançar essa pessoa? E, além disso, como engajar em algo que não diz respeito a sua origem, não está no contexto dela, isso é um desafio.”

“Mas disfarçado de um convite ao diálogo, ela comete outros atos de homofobia”, completa a advogada. “Aí tem um outro debate, que é como equilibrar o que é o direito constitucional à liberdade de expressão e à religião e o que é o crime, o limite do discurso de ódio que cai no enquadramento dado pelo STF (Superior Tribunal Federal) ao crime de LBGTfobia.”

No caso de Patrícia Abravanel, Ganzarolli afirma que a Justiça pode ser acionada tanto por pessoas que se sentiram ofendidas por seu discurso, como por organizações, buscando indenização por dano moral coletivo. A punição também poderia ser estendida ao SBT, que teria permitido, endossado a declaração.

O ativista Agripino Magalhães afirmou ao F5 que já recebeu uma “enxurrada de mensagens” denunciando o discurso de Abravanel como homofóbico, e que está em conversa com advogados para tomar providências na Justiça. “Essa senhora já passou dos limites”, afirmou ele.

“A gente sabe que a maioria desses fundamentalistas religiosos que destilam isso por aí são até mesmo falsos, porque se vivessem o Evangelho de verdade amariam o próximo, Deus nos ama do jeito que nós somos”, completou Magalhães, que recordou outros episódios polêmicos de Abravanel com a comunidade LGBTQIA+.

“Em relação a ela, é como aquele marido que bate a primeira vez, a mulher não faz nada e ele continua batendo. Os LGBTfóbicos falam, veem que não são barrados e continuam. É o que acontece com esses formadores de opinião que atingem os gays com suas falas, mas também com os agressores que nos atacam fisicamente.”

Em 2016, a apresentadora afirmou que não é contra "o homossexualismo (sic), mas sou contra falar que é normal". Internautas protestaram e até seu sobrinho, o ator Tiago Abravanel, 33, que é gay, comentou: “A incompreensão daquilo que pode parecer diferente, mas não é. Como é possível se o amor é igual para todos?"

O SBT foi procurado para comentar a polêmica desta terça, mas afirmou que não vai comentar o assunto.

LGBTQIA+
Além de pedir mais compreensão aos “conservadores” que “ainda não entendem direito” os homossexuais, Patrícia Abravanel também debochou da sigla LGBTQIA+, citando-a errada duas vezes. Primeiro ela disse: “LGBTYH, não sei”. E depois voltou a falar “com todo o pessoal LGBTIC”.

“LGBTYH não representa ninguém”, rebate Agripino Magalhães. “Cada letra é uma orientação sexual, uma identidade de gênero. Quando ela não fala corretamente mostra que nem sabe o que o I representa, o que é uma pessoa interssexual. Mas se ela não sabe disso é porque não quer saber, basta um clique na internet.”

O ativista classificou o engano da apresentadora como revoltante. “As pessoas pensam que a gente coloca letras ali porque quer, mas elas são aprovadas em congressos, debatidas e aí sim inseridas. Falamos com pessoas, ouvimos pessoas até que se chegue na sigla que representa a nossa comunidade”, afirma ele.

Um assistente de palco, cujo nome não foi revelado, chegou a explicar no palco que a fala da apresentadora estava errada sobre a sigla e disse que o Q é de queer e o I vem dos interssexuais. “Ele falou que quando falei ‘LGBT não sei o que +’ não foi legal, mas ao mesmo tempo, quanto mais abertos ao amor a gente fica mais aberto ao erro também”, justificou Abravanel.

Enquanto falava sobre o assunto, Abravanel chegou a ser interrompida pelo colega Cartolano, que tentou rebater: “Nessa questão, você nasce assim, então é um direito seu de ser, estar. Eu entendo o conflito de gerações, mas quando você adota esse discurso do ‘sou contra, mas respeito’ acaba segmentando mais ainda”.

Mas Abravanel voltou a insistir em seu ponto de vista e disse que conversa com muitas pessoas “e elas falam que tem os que nascem, realmente acredito que gente que nasce assim, mas tem aqueles que estão querendo experimentar de tudo, não sabe o que é, fica naquele conflito, então tem de tudo.” (Fernanda Pereira Neves/Folhapress)

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