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Thor Klein fala ao JB sobre ‘O Matemático’, que está nos cinemas

Drama é baseado em história real

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 06/10/2021 às 18:51

Alterado em 06/10/2021 às 18:51

O cineasta Thor Klein Foto: reprodução

A A2 Filmes estreou exclusivamente nos cinemas “O Matemático” (Adventures of a Mathematician), do roteirista e cineasta Thor Klein, estrelado por Philippe Tlokinski, Fabian Kociecki, Esther Garrel, Sam Keeley, Joel Basman e Ryan Cage.

Baseado em uma história real, o filme é um drama / biografia ambientado em Cambridge, EUA, em 1942, e conta a história de Stan Ulam (Tlokinski), matemático polonês escolhido para integrar o time que criou a bomba H nos Estados Unidos.

A trama segue Ulam, um judeu de 30 anos, talentoso, bonito e bom-vivant. Sua vida se complica quando ele perde a bolsa de estudos que tinha em Harvard. Mas seu melhor amigo, o gênio húngaro Johnny von Neumann (Kociecki) lhe oferece um emprego misterioso que o leva ao Novo México. Stan se muda para Los Alamos com Françoise, uma mulher francesa com quem se casa após um romance turbulento. Cercado por jovens cientistas imigrantes e carismáticos, Stan começa a trabalhar em um projeto ultrassecreto.

Klein – que nasceu em Kaiserslautern, Alemanha, mas está radicado em Berlim desde 2005 – deu entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, quando falou sobre o filme, como conseguiu a perfeita reconstrução dos anos 1940, a receptividade que espera dos espectadores, o paralelo com o mundo atual e novos projetos.

JORNAL DO BRASIL: Poderia falar um pouco mais sobre “O Matemático”?

THOR KLEIN: Quando eu tinha 13 anos, encontrei um livro na Biblioteca da minha cidade que se chamava ‘Escritório de Einstein’. Contava a história do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, um lugar especial onde os EUA reuniam as mentes mais brilhantes dos anos 30. Neste livro eu encontrei Stan e Johnny pela primeira vez. Eles dirigiam carros elegantes, davam muitas festas, enfim me fascinaram. Eram muito diferentes dos professores de matemática com quem eu convivia na escola. Embora eu não fosse particularmente bom em matemática, queria me tornar um matemático. Até que sentei ao lado de um cara na classe que era claramente talentoso e terminava seus exames antes mesmo que eu entendesse totalmente todas as perguntas. Entrei numa crise, mas um professor de literatura me alertou que provavelmente eu era mais interessado nas histórias daquelas pessoas e suas ideias, ao invés de fazer contas. Aquilo foi um alívio, continuei lendo sobre eles até que, na escola de cinema, descobri o livro de Stan Ulam, “Adventures of a Mathematician”. Apaixonei-me pela amizade de Stan e Johnny e decidi, junto com minha produtora Lena Vurma, transformar isso em um filme.

Algo que chama a atenção na trama são as emoções, os sentimentos, a angústia que só quem viveu durante a guerra sabe. Em suma, é uma visão incomum da guerra. Era essa a intenção?

Muitos cientistas europeus como Stan perderam suas famílias na Europa. A amizade e ligação com colegas cientistas imigrantes foi o que restou. Elas se tornaram ainda mais intensas e contribuíram para que muitos deles voltassem a Los Alamos após a guerra para continuar seu trabalho. Era o único lugar onde se sentiam em casa. O vínculo com o conterrâneo europeu era um eco do passado e a coisa mais próxima de casa. Eu queria mostrar isso no filme para permitir que o público pudesse ver a história das primeiras armas nucleares em um novo contexto.

A reconstrução dos anos 1940 é perfeita – cenários, figurinos, a trilha sonora que ajuda a transmitir a sensação de angústia, além da direção impecável. Foi difícil conseguir isso?

Stan é um personagem da periferia de Los Alamos. Eu queria mostrar seu ambiente com o máximo de detalhes possível, e explorei os arquivos nos Estados Unidos procurando por tantas fotos quanto pudesse encontrar. Los Alamos foi um grande canteiro de obras no início. Basicamente com muitas mudanças, edifícios. Isso nos ajudou. Além das paisagens icônicas do Novo México, reconstruímos Los Alamos na Alemanha. Eu queria dar aos astros um ambiente completo e convincente para atuar. Foi um grande desafio para eles, já que a maioria nunca tinha atuado em inglês antes. Estou muito grato por sua coragem em fazer isso e da forma como fizeram.

O filme já conta com várias aprovações, entre elas uma importante de Claire Weiner, filha de Stan Ulam. Que recepção você espera dos espectadores em todo o mundo para o filme?

É fascinante para mim que o filme tenha sido vendido para tantos territórios diferentes. Espero que o filme deixe o público com um sentimento forte e que forneça o contexto para questões morais mais pesadas. Estou muito grato que Claire, filha de Stan, tenha nos apoiado desde o início. Ela assistiu ao nosso filme em sua estreia mundial em Palm Springs. Infelizmente ela faleceu em dezembro passado. Sentimos muito a falta dela.

O filme tem alguns momentos marcantes e muitos paralelos que podemos traçar com o mundo atual. Havia também essa intenção?

Acho que o Projeto Manhattan e o Moonlanding são os dois maiores mitos do século 20. Porque eles nos confrontaram com nossa capacidade de nos matar e com a possibilidade de deixarmos este planeta. Eu tratei a história dessa forma. Eu queria criar algo que fosse atemporal e tivesse valor para as pessoas que, mesmo em um futuro distante, desejassem compreender esse momento.

Depois de “Lost Place”, que fala sobre um segredo militar e “O Matemático” baseado na história da Bomba H, você tem algum novo projeto em mente?

Meu próximo filme será ambientado no México, em um lugar espetacular que ninguém jamais viu em um filme antes. Baseado em um romance da famosa escritora mexicana Elena Poniatowska, é a história da pintora surrealista britânica Leonora Carrington, contemporânea de Max Ernst, que fugiu para a Cidade do México nos anos 40, onde se tornou uma lenda.

 

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