MITA 2023: Um festival melhor e muito bem organizado
Aconteceu no ultimo fim de semana, no Jockey Club/RJ (e acontece nos dias 3 e 4 de junho, no Novo Anhangabaú, em São Paulo), a segunda edição do festival MITA (Music Is The Answer). No geral, além de um lineup bem mais atrativo do que o anterior (tanto que uma das datas esgotou logo na primeira leva, a que tinha Lana Del Rey como atração principal, sábado), a organização em geral estava bem melhor. Fácil de entrar e sair, mais opções de alimentação, horários cumpridos à risca, localizado num lugar fácil de chegar. Enfim, deu tudo certo.
Depois de um sábado dominado pela americana Lana Del Rey, que tem imenso público em terras cariocas, o segundo dia teve como atração principal a inglesa Florence Welch, que, com sua banda, Florence & The Machine, fechou a noite de domingo (e o festival) numa apresentação bastante emocionante. Florence lembrou-se da primeira vez em que esteve no Rio, há dez anos (apresentou-se na arena de Jacarepaguá com Bruno Mars), e agradeceu aos fãs brasileiros, que foram dos primeiros a dar força para sua banda. Com um visual e vocais que lembram algo Stevie Nicks (Fletwood Mac), mostrou o de sempre: controle de cena, emoção à flor da pele e músicas envolventes. Com destaque para seu grande hit, ‘The dog days are over’, que toca até na trilha do recente filme dos Guardiões da Galáxia.
Antes de Florence, o mesmo palco recebeu a banda americana HAIM. Formada por três irmãs judias (que, inclusive, aparecem no filme ‘Licorice Pizza’, de Paul Thomas Anderson, que faz todos os clips delas), as meninas exibiram bastante garra e energia, mostrando que são bem melhores ao vivo do que nos discos (onde soam um tanto arrumadas). Conversaram e brincaram com a plateia e, uma delas, Este, a mais velha, disse que, quando criança, gostava da música ‘Ilariê’, de Xuxa. A música tocou, numa versão em espanhol (?), antes do show. Curiosamente, na fila do gargarejo, um fã agitava uma camiseta com aquela famosa foto de Xuxa tentando fazer um X com seu corpo. Foi o que bastou para que Este fosse ate a beira do palco, falasse com o cara e recebesse a camiseta de presente (em troca de um beijo na bochecha). De quebra, a HAIM (que significa ‘vida’, em hebraico) tocou ‘Ilariê’. Foi hilário.
Entre os shows de HAIM e Florence, no outro palco do festival, por volta das 18h50, começou a incendiária apresentação da banda americana (de tons latinos) The Mars Volta. Formada há 22 anos, em El Paso, no Texas, por Cedrix Bixler-Zavala (vocais) e Omar Rodriguez-Lopez (guitarra), a banda (que esteve alguns anos parada e reformou-se em 2019) faz um som psicodélico-progressivo com ecos de King Crimson, Santana e Led Zeppelin (mais pelos vocais agudos de Cedric), que envolve a plateia de uma maneira totalmente inebriante. É o tipo de banda que rende mais fazendo show num lugar fechado do que num palco de grande festival. Mas, como só havia, basicamente, fãs na plateia (que daria um Circo Voador lotado, fácil), Cedric, Omar e a ótima banda fizeram um show espetacular e para os fãs. Que poderia ter durado um pouco mais, porque faltaram algumas músicas do line-up de sua turnê atual. Coisas de festival.
Mesclando faixas de vários de seus álbuns, sobretudo do maravilhoso ‘Frances, the mute’ (2005, conceitual, assim como todos os discos da banda), o Mars Volta faz um tipo de apresentação onde as longas músicas (algumas na casa dos 15 minutos) se mesclam umas nas outras, nunca ficando claro onde começa uma e termina outra. Exceto pelos ‘hits’, como ‘The Widow’ (que Pitty já tocou em seus shows), que foi acompanhada em coro pela plateia. Ou seja: não é show para clichês manjados, como balançar os braços e acender os celulares. É para sentir e mergulhar no som. E torcer para que, quem sabe, o Mars volte (!) e faça um show num lugar mais adequado (e menos caro) para seus fãs.