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Thiago Molon atiça o formigueiro até agosto no Rio
Por CADERNO B
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Publicado em 22/07/2024 às 13:08
Alterado em 22/07/2024 às 13:08
Thiago Molon inaugurou sua primeira exposição individual, intitulada Saúva, no último sábado (20), no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, na região central do Rio de Janeiro.
Saúvas são formigas que cortam folhas em pedaços e carregam-nas para o formigueiro, onde criam um fungo, que constitui seu alimento principal.
Em uma analogia da saúva com sua prática artística, Molon conta que colhe da rua a informação visual que, no ateliê, se transforma em pintura, escultura e instalação, seguindo uma disciplina diária, no modelo do “trabalho de formiguinha”.
Thiago Molon [1990–] nasceu e foi criado no Vidigal, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro. É sua vivência na favela que abastece seu repertório visual, ligado ao comércio informal e à natureza de fundo de quintal. A partir destes elementos, o artista tece sua identidade estética em imagens, suportes e interpretação de aspectos socioculturais.
'Bicho de Jardim', de Thiago Molon Foto: Gabriel Molon
Formação
Graduado em Design Gráfico pela PUC Rio, como bolsista, Thiago Molon se considera autodidata nas artes visuais. Começou aos 13 anos a pintar muros e fachadas no Vidigal e Brasil afora, seu grande laboratório, descreve ele. As telas com a margem superior em formato de telhado, tem a ver com as fachadas que pintava na comunidade.
Exposição
Saúva reúne nove pinturas figurativas a óleo. Algumas têm cores fortes, como a vendedora de flores de rua; outras, tons pálidos, como o pé de romã que a mãe plantou e as formigas não deixam vingar, e o tríptico com insetos de jardim de sua casa, que mescla uma paleta vibrante com tons pálidos.
Além das telas, as lonas de caminhão suturadas várias vezes e a lona de barraca de feira servem de suporte para pintura e escultura. Em um dos trabalhos desta mostra, o artista usa lona de caminhão com suas cicatrizes do tempo como tela para pintura, com centenas de cabecinhas de cerâmica esmaltada em tons terrosos. Estas pequenas esculturas remetem a formigas e vão aparecer em outras situações instalativas, com vergalhões de ferro.
No texto de apresentação da exposição, Fabricio Faccio avalia:
– É seu olhar poético para as cenas do cotidiano, para suas memórias familiares e para a infância no Vidigal, em convergência com a criação de uma nova visualidade, que sempre foi praticada com uma experiência, desde os 13 anos de idade, na pintura e nas práticas artísticas, que Thiago cria um universo próprio, deixando o vestígio do tempo, da memória e do onírico.”
Coletivas na Europa e no Brasil
Esta primeira individual acontece depois de coletivas na Europa e uma residência na Domo Damo, em 2023, espaço dirigido por dois franceses. em uma casa de Paulo Mendes da Rocha, em Santo Amaro, na capital paulista.
Ainda em 2023, Thiago participou com seis pinturas da coletiva “Afirmação: Brésil l’affirmation d’une génération”, em Paris, na Galerie du Jour, da designer francesa agnès b., que é também uma grande colecionadora de arte contemporânea. Ela adquiriu as seis telas do carioca expostas na ocasião. William Massey, diretor artístico da estilista, assinou a curadoria.
Em Lisboa, Molon era o único brasileiro da coletiva Metamorphosis, sob curadoria de João Cavalcanti, na Galeria Eritage, em outubro de 2023.
No ano anterior, o artista participou da coletiva “Paisaje Brasileño Contemporáneo”, na Casa de América, em Madri, Espanha.
No Brasil, Molon esteve em coletivas dedicadas à arte urbana no MAM Rio [2015] e no Memorial da América Latina, São Paulo [2018 e 2019] e na Feira de Arte Sampa, na Oca, São Paulo [2022].
A pesquisa de Thiago evidencia a interação labiríntica entre arte, geopolítica e cultura local, focando na riqueza de suas experiências na favela, no encanto da simplicidade e na adversidade enfrentada por quem vive na periferia.
Saúva está em cartaz até 17 de agosto, de segunda a sábado, das 10 às 18h. Entrada gratuita
Serviço: Saúva | Individual de Thiago Molon / Abertura sábado, 20 de julho de 2024, 14h–18h / segunda a sábado, 10–18h / Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (CMAHO) / Rua Luís de Camões, 68 – Praça Tiradentes, Rio de Janeiro, RJ / Tel. 21 2242 1012 / Em cartaz até 17 de agosto de 2024.