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Música de dois: duplas marcantes na música brasileira

Por LUÍS PIMENTEL

Publicado em 13/09/2024 às 12:43

Alterado em 13/09/2024 às 12:48

A dupla de compositores brasileiros mais conhecida no exterior, sobretudo por conta do enorme sucesso de Garota da Ipanema, uma das canções nacionais mais executadas em todo o mundo, talvez tenha sido formada por Tom e Vinicius (acima) Foto: VM Cultural/Divulgação

A música brasileira sempre registrou duplas famosas de compositores, formadas por músicos e poetas que se juntavam para unir talentos e criarem juntos. Talvez a mais conhecida tenha sido Tom Jobim e Vinicius de Moraes, mas não podemos nos esquecer de dobradinhas formadas por nomes como Noel Rosa e Vadico a outras como Ivan Lins e Victor Martins, João Bosco e Aldir Blanc, Wilson Moreira e Nei Lopes, Jaracaca (José Luis de Calazans) e Ratinho (Severino Rangel de Carvalho), entre tantas.

Uma das primeiras e mais bem-sucedidas foi formada por Alcebíades Barcelos e Armando Marçal, os imbatíveis Bide e Marçal, bambas do Morro do Estácio, que tantas obras-primas legaram à MPB. Nasceram ambos no ano de 1902. O primeiro em Niterói (RJ) e o segundo no Rio de Janeiro, no bairro do Estácio.
Bide morreu no Rio, em 1975. Foi durante toda a vida de artista o principal parceiro de Marçal e fundador, juntamente com Ismael Silva, Mano Edgar e Brancura, e o próprio Marçal, entre outros, da primeira escola de samba da cidade, a Deixa Falar. Teve vários parceiros, como Ataulfo Alves, Noel Rosa e Braguinha, e deixou sambas antológicos.

Armando Marçal viveu menos que o grande parceiro, só até 1947. Morando a vida inteira no Morro do Estácio, foi mestre de cuíca e de tamborim para vários diretores de bateria de escolas de samba. Tentou compor ao lado de outros parceiros, como Manoel Vieira, Antônio Santos, Ataulfo Alves e J. Portela. Mas sem Bide, a coisa não ia adiante. Seu filho e seu neto, ambos conhecidos artisticamente também como Marçal, seguiram os passos de percussionista.

Juntos, Bide e Marçal nos legaram pontos altos da MPB, como “Barão das cabrochas”, “Agora é cinza” e “Silêncio”.

A dupla de compositores brasileiros mais conhecida no exterior, sobretudo por conta do enorme sucesso de Garota da Ipanema, uma das canções nacionais mais executadas em todo o mundo, talvez tenha sido formada por Tom e Vinicius.

O músico e maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1927, e morreu nos Estados Unidos, em 1994. Algumas das composições de Tom Jobim foram gravadas nos Estados Unidos, por astros como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. O “maestro soberano”, como cantou um dia Chico Buarque, foi um dos mais destacados representantes da bossa nova. Algumas de suas músicas de maior sucesso são “Águas de março”, “Luíza”, “Corcovado”, “Desafinado” e “Insensatez”.

O poeta (e advogado e diplomata e jornalista e compositor) Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913. Serviu no exterior e trabalhou como jornalista em diversas publicações, antes de abraçar a poesia e, em seguida, a MPB. Com diversos parceiros musicais (Tom Jobim, Chico Buarque, Baden Powell, Carlos Lyra e Toquinho entre eles), Vinicius deixou uma obra fabulosa, com momentos como “Samba da benção”, “Se todos fossem iguais a você”, “A felicidade”, “Chega de saudade”, “Insensatez” e “Garota de Ipanema”. O poeta nos deixou em 1980.

Noel Rosa é considerado por muitos o mais importante compositor brasileiro de todos os tempos. A maior parte de sua obra ele construiu sozinho. Mas teve, ao longo da trajetória criativa, alguns parceiros. Entre eles, Vadico foi o mais atuante. Noel viveu pouco, infelizmente. Teve pouco tempo para criar. Morreu em 1937, de tuberculose, no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 11 de dezembro de 1910.

O genial poeta da Vila aprendeu a tocar bandolim aos 13 anos e logo começou a tocar violão. Em 1929 começou a apresentar-se ao lado de Almirante, João de Barro (o Braguinha), Alvinho e Henrique Brito, no conjunto Bando de Tangarás. No mesmo ano (aos 19 anos), compôs sua primeira música de sucesso, “Com que roupa”. Trabalhou em vários programas de rádio e, em 1932, entrou para o trio Bambas do Estácio, com Ismael Silva e Francisco Alves.

Noel deixou perto de 300 canções. Entre elas, “Feitiço da Vila”, com Oswaldo Gogliano, o Vadico, considerado, sobretudo por Noel, um excelente melodista. É seu parceiro em outras obras-primas, como “Pra que mentir” e “Conversa de botequim”. O parceiro mais fiel do poeta da Vila nasceu em São Paulo, em 24 de junho de 1910, e morreu no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 1962.

O discreto e suave Wilson Moreira, que nos deixou em setembro de 2018, teve em um dos mais inspirados letristas da MPB, o compositor e escritor Nei Lopes, o seu principal parceiro na criação musical. Foi um dos artistas mais amados e admirados da música brasileira, sobretudo no mundo do samba.

Carismático e extremamente gentil com os amigos, Moreira era conhecido como Alicate, apelido que é referência ao seu firme e forte aperto de mão. Autor de melodias simples e delicadas, carregava grande influência do jongo que tanto acompanhou na infância, nas cantorias dos municípios do Vale do Paraíba.

Nei Lopes é criador múltiplo, além de escritor (tem livros de contos, crônicas, poemas e estudos sobre a MPB) e um dos mais respeitados pesquisadores da cultura negra que conhecemos. A dupla Wilson Moreira e Nei Lopes é autora de momentos preciosos do nosso cancioneiro, como “Coisa da antiga”, “Senhora Liberdade”, “Goiabada cascão” e “Gostoso veneno”.

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