CINEMA

Crítica - ‘Caminhos da Memória’: para esquecer

Cotação: duas estrelas

Por TOM LEÃO, eheadz@gmail.com
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 31/08/2021 às 12:44

A trama, sobre um cientista que revive o seu passado para (re)encontrar uma mulher sensual -- que é a chave do mistério do filme --, é rocambolesca e sem nenhuma novidade Foto: divulgação

A diretora, roteirista e produtora Lisa Joy (da série HBO “Westworld”) tentou fazer de “Caminhos da Memória” (“Reminiscence”) um filme, digamos, memorável. Mas tudo o que conseguiu alcançar neste thriller de ação sci-fi, estrelado por Hugh Jackman, Rebecca Ferguson e Thandiwe Newton, foi uma grande bagunça. A trama, sobre um cientista que revive o seu passado para (re)encontrar uma mulher sensual -- que é a chave do mistério do filme --, é rocambolesca e sem nenhuma novidade.

Ele começa como um filme noir moderno, quando Nick Bannister (Jackman), um investigador particular da mente (usa um tanque e um aparelho que lembra um pouco o de “Minority Report”), recebe em seu consultório (numa submersa Miami, efeito do aquecimento global, nunca sabemos em que ano se passa), a misteriosa Mae (Ferguson). O que seria um simples caso torna-se uma obsessão para Nick, que se apaixona por ela. Enquanto ele tenta descobrir a verdade sobre o desaparecimento de Mae, se depara com uma trama complexa que envolve um figurão local. Aqui temos elementos ‘chupados’ de “Chinatown” (1974) e, sobretudo, do sci-fi noir “Blade Runner” (1982). O filme, aliás, rouba muito deste último.

No fim das contas, o que temos, além de uma caprichada produção (a Miami submersa é o contraponto da Los Angeles poluída de “Blade Runner”), é um monte de personagens clichês que não despertam a menor simpatia no público; diálogos idem, atuações fracas e apenas uma boa cena de ação (passada dentro de um teatro submerso). Os profissionais e dinheiro envolvidos não são o bastante para encobrir a total falta de talento, para dar algum sentido ao material, da diretora estreante em cinema Lisa Joy, que teve pretensões de Christopher Nolan (um meste em brincar com o tempo e memórias, em filmes sensacionais, como “Memento” e “Inception”), mas acabou sendo apenas medíocre e burocrática no seu trabalho.

Os fãs do cult “Blade Runner” ficarão especialmente irritados em ver como a diretora se apropriou de muita coisa deste (pombas, persianas, narração off), com uma pitada do mito de Orfeu (que é explicado, de forma totalmente errada, pelo personagem de Jackman, que cita o diabo e o inferno, nada a ver!). Principalmente na cena final, quando o personagem de Jackman, por pouco, não usa as palavras clássicas do androide Roy Batty, em seu discurso sobre lágrimas na chuva. Em suma, uma tremenda decepção. Para esquecer.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.

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