Crítica - ‘Spencer’: não é fácil ser princesa
Cotação: três estrelas
O mais novo filme do chileno Pablo Larraín, ‘Spencer’, também se baseia numa figura pública feminina, num determinado momento de sua vida. Assim como o foi outro filme do diretor, ‘Jackie’, que mostrava o tempo seguinte de Jacqueline Kennedy, após a morte de seu marido, o popular presidente JFK, quando ela se tornou apenas uma peça sem utilidade.
Em ‘Spencer’, acompanhamos uma época festiva, nos 90s, quando Diana Spencer (mundialmente conhecida como Lady Di) resolve que vai se divorciar do príncipe Charles. E, por consequente, da realeza britânica inteira. Durante os três dias (véspera, dia e depois do Natal), acompanhamos os momentos de dúvida e desespero de Diana, que ficou justamente conhecida como ‘a princesa do povo’ porque odiava todos aqueles salamaleques e a entediante rotina da família real britânica, que a deixava sem ar. Some-se a isso, o affair que Charles estava tendo com a duquesa Camila Parker-Bowles, bem à vista de todos.
Por isso o filme tem um clima tenso e nada glamuroso. Porque pega Diana (magistralmente interpretada pela americana Kristen Stewart) no auge de sua insatisfação com tudo aquilo - agravado por uma bulimia -, o que a tornou persona non grata entre os Windsor, com o passar dos anos. É isso o que temos no filme. Apenas um recorte. Não uma biografia.
Em contraponto com o desespero de Spencer, há a figura de Ana Bolena, que foi decapitada a mando de seu marido, o rei Henrique VIII, sob falsa acusação de traição conjugal. Quando, na verdade, quem estava pulando a cerca era o rei. Bolena, como Spencer, também estava asfixiada numa relação. E diminuída por ser mulher. Ela aparece na imaginação de Lady Di, que está lendo uma biografia desta.
Se alguns fatos foram inseridos ou alterados, para dar dramaticidade ao filme (que não se baseia em nenhum livro biográfico em especial), por outro lado, dois personagens que interagem com Diana durante os três dias e, de certa forma, foram seus confidentes (o cozinheiro real e uma dama de companhia), existiram de fato. O cozinheiro, hoje, tem um canal de culinária no Youtube (e disse, após ver o filme, que Kristen acertou no alvo, em sua interpretação e sotaque); e uma dama de companhia que ajudava Diana a se vestir para cada ocasião. Coisa que esta odiava, e usava o que bem entendia. Para horror da rainha.
O filme não é bem uma cinebio, como a maioria dos espectadores poderá achar. Longe disso. Apenas foca num momento específico da vida de Diana. Mas que determinou o seu futuro. E de como, na realidade (e na decadente realeza), não é fácil ser princesa. Por isso, Meghan Markle picou a mula assim que pôde.
_______
COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.