CINEMA

Crítica - ‘Belfast’: uma Irlanda em chamas nas memórias de Kenneth Branagh

Cotação: duas estrelas

Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 11/03/2022 às 11:36

Alterado em 11/03/2022 às 11:36

Baque na combalida indústria nacional do cinema Foto: divulgação

O final dos anos 1960 foi bem movimentado em certas partes do planeta. Aqui lutávamos contra a ditadura. Em Paris, os estudantes saiam às ruas. Nos EUA, explodia a luta pelos direitos civis. E na Irlanda do Norte (que já pertencia ao Reino Unido) a guerra entre católicos e protestantes começava a esquentar.

É neste último cenário que se passa ‘Belfast’, novo filme de Kenneth Branagh. Mais precisamente, em 1969, quando explodem os conflitos de protestantes contra católicos, que iriam atingir seu auge em 1972, no massacre que ficou conhecido como ‘Domingo Sangrento’, e inspirou até aquela famosa música da banda irlandesa U2, ‘Sunday, Bloody Sunday’.

Os fatos são acompanhados pelos olhos de um menino de cerca de 8 anos, Buddy (Jude Hill), filho de pais da classe trabalhadora. Estes, chamados apenas de Pa e Ma, são feitos por Caitriona Balfe (da série de TV ‘Outlander’) e Jamie Dornan (o Mr. Grey dos filmes baseados nos livros ‘50 tons de cinza’), um casal lindo, digno de catálogo de modelos. Enquanto Buddy vê os conflitos, sem entender o porquê, vive o seu primeiro amor na escola (o avô, feito por Ciáran Hinds, lhe dá conselhos) e escuta da avó (Judi Dench) fatos sobre o passado de Belfast e de sua família.

Assim, entre ir à escola, ver séries na TV (‘Star Trek’ e muitos faroestes) e ir ao cinema com os pais aos domingos, após a missa, Buddy vai se tornando um homenzinho. Em meio a um conflito que vai acabar por fazer seus pais irem embora dali, eventualmente, para tentar uma vida melhor na Inglaterra, já que eles são protestantes e não eram bem-vindos no bairro.

Filmado em preto e branco digitalizado (apenas as cenas dos filmes são coloridas, como que fazendo um contraste entre o colorido do mundo da fantasia e o duro mundo sem cor da realidade), ‘Belfast’ é tanto um filme de reminiscências do diretor, quanto político e de crescimento. Tudo emoldurado pelas belas canções de um filho de Belfast, o cantor/compositor Van Morrison.

Mesmo sendo um bocado pessoal, muito do que o pequeno Buddy vive não é muito diferente do que viviam aqui as crianças crescidas nos anos 1960 e 70, sob uma ditadura militar, se refugiando nos quadrinhos, filmes e nas séries de TV americanas.

A história de amor e resistência de seus pais em manter a família unida no meio daquele turbilhão vai interessar aos espectadores que não ligarem para a avalanche de clichês e artificialismo do filme. As atuações de Hinds e Dench (indicados ao Oscar) compensam. Aliás, ‘Belfast’ concorre a sete estatuetas, incluindo filme, roteiro e direção. Um exagero. É apenas ok.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.

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