CINEMA

‘Noites alienígenas’ e ‘Marte um’ são os grandes vencedores do Festival de Cinema de Gramado

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 21/08/2022 às 10:29

Alterado em 21/08/2022 às 10:29

Equipe do filme "Noites Alienígenas", de Sérgio Carvalho, vencedor de melhor longa-metragem de ficção, principal prêmio do Festival; alguns fazem o 'L' com os dedos, em alusão a Lula, candidato à Presidência Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto/Divulgação

Em uma cerimônia marcada por muitos discursos políticos, o Festival de Cinema de Gramado anunciou, na noite desse sábado (20), os vencedores de sua comemorativa 50ª edição.

“Noites alienígenas” foi o melhor longa-metragem de ficção, principal prêmio do festival, conquistando ainda mais cinco troféus: ator (Gabriel Knoxx), ator coadjuvante (Chico Diaz), atriz coadjuvante (Joana Gatis), prêmio da crítica e menção honrosa para o ator Adanilo Reis.

Dirigido por Sérgio Carvalho, o filme – cuja premiação foi recebida com muitos aplausos – narra a chegada de facções criminosas do sul do país na região amazônica, ameaçando a vida dos jovens locais.

“Marte um”, de Gabriel Martins, que era um dos favoritos, conquistou o prêmio especial do júri, o de roteiro, o de trilha musical e o voto popular. Lançado no festival de Sundance em janeiro, o filme segue uma família negra de classe média baixa, morando em uma cidade brasileira e sonhando com uma vida melhor, mesmo após a posse de um presidente de extrema-direita.

“Um par pra chamar de meu”, de Kelly Spinelli (premiação divulgada na véspera, 19), ganhou o de melhor longa-metragem de documentário, da recém-criada mostra dedicada ao gênero. O longa discute solidão, sexualidade e peculiaridades da terceira idade a partir da história de cinco mulheres que saem com “personal dancers”, profissionais que se disponibilizam, mediante pagamento, para dançar em eventos.

Melhor direção foi para Cristiano Burlan, por “A mãe”, que também levou melhor atriz para Marcélia Cartaxo.

“Tinnitus”, de Gregócio Graziosi, levou os prêmios de fotografia (Rui Poças), montagem (Eduardo Serrano) e direção de arte (Carol Ozzi).

O ótimo “Fantasma neon”, de Leonardo Martinelli, ganhou o prêmio de melhor curta-metragem brasileiro.

O melhor longa gaúcho foi “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto.

O vencedor do longa-metragem estrangeiro foi “9”, de Martin Barrenechea e Nicolás Branca, coprodução Uruguai / Argentina que, através de um jogador de futebol, aborda vários aspectos relacionados com a área.

Como já havia sido divulgado, no sábado anterior (13), o ator Marcos Palmeira foi homenageado com o Troféu Oscarito, tradicional honraria do festival e que é concedida desde 1990.


Protestos, inovações e importantes continuidades

Nos filmes – especialmente nos longas e curtas-metragens brasileiros – e também fora das telas, o tom do Festival de Gramado foi marcado por questões políticas e muitos protestos.

Vale enfatizar que um importante destaque desta edição foi a criação da Mostra de Longa-metragem Documental Brasileiro, em face do prestígio que o gênero vem adquirindo nos últimos anos não só para retratar fatos e personagens históricos, mas principalmente para documentar as turbulências do mundo atual.

Além dessa inovação, Gramado manteve a reconhecida qualidade do evento colocando no ar uma abrangente programação com ótimos filmes, tanto brasileiros quanto estrangeiros, que incluiu títulos da América do Sul, do Norte e da Europa.

Realizou lançamentos e relançamentos nacionais como o premiado “Marte um”, de Gabriel Martins (MG), que estreou em Sundance na Mostra Cinema Mundial, e o comovente “A mãe”, de Cristino Burlan (SP), estrelado por Marcélia Cartaxo que, mais uma vez teve seu grande talento reconhecido por conquistar o prêmio de melhor atriz nesta edição.

Um ponto alto foi também a concessão do tradicional Troféu Eduardo Abelin para Joel Zito Araújo, por sua importante trajetória no audiovisual. Aplaudido calorosamente na noite da entrega do tributo, o diretor dos clássicos “Filhas do vento” e “O pai da Rita”, dedicou o prêmio a Oscarito, Grande Otelo, Milton Gonçalves e ao ator gaúcho Sirmar Antunes, falecido no último dia 6. Em sua fala, Zito Araújo lamentou ainda os recentes discursos políticos que discriminam cultos afro-brasileiros.

Embora nas circunstâncias adversas predominantes na condução atual da política para a cultura e ainda nos efeitos da pandemia, o evento gaúcho celebrou seu cinquentenário mantendo a tradição de ser um dos principais festivais cinematográficos do Brasil.

 

PREMIADOS 

LONGA-METRAGEM BRASILEIRO
Melhor Filme – “Noites alienígenas”, de Sérgio de Carvalho
Melhor Direção – Cristiano Burlan, por “A mãe”
Melhor Ator – Gabriel Knoxx, de “Noites alienígenas”
Melhor Atriz – Marcélia Cartaxo, de “A mãe”
Melhor Roteiro – Gabriel Martins, de “Marte um”
Melhor Fotografia - Rui Poças, de “Tinnitus”
Melhor Montagem – Eduardo Serrano, de “Tinnitus”
Melhor Trilha Musical – Daniel Simitan, de “Marte um”
Melhor Direção de Arte – Carol Ozzi, de “Tinnitus”
Melhor Atriz Coadjuvante – Joana Gatis, de “Noites alienígenas”
Melhor Ator Coadjuvante – Chico Diaz, de “Noites alienígenas”
Melhor Desenho de Som – Ricardo Zollmer, de “A mãe”
Júri da Crítica – “Noites alienígenas”, de Sérgio de Carvalho
Júri Popular – “Marte um”, de Gabriel Martins
Prêmio Especial do Júri – “Marte um”, de Gabriel Martins, que nos trouxe o afeto para a tela.
Menção Honrosa a Adanilo, por “Noites alienígenas”, pela excelência da construção da linha do personagem e interpretação.

 

LONGA-METRAGEM DOCUMENTAL BRASILEIRO
Melhor Filme – “Um par pra chamar de meu”, de Kelly Cristina Spinelli.
LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO
Melhor Filme – “9”, de Martín Barrenechea e Nicolás Branca
Melhor Direção – Néstor Mazzini, de “Cuando oscurece”
Melhor Ator – Enzo Vogrincinc, de “9”
Melhor Atriz – Anajosé Aldrete, de “El camino de sol”
Melhor Roteiro – Agustin Toscano, Moisés Sepúlveda e Nicolás Postiglione, de “Inmersión”
Melhor Fotografia -Sergio Asmstrong, de “Inmersión”
Júri da Crítica – “9”, de Martín Barrenechea e Nicolás Branca
Júri Popular – “La pampa”, de Dorian Fernández Moris
Prêmio Especial do Júri a Direção de Arte de Jeff Calmet, de “La pampa”

 

CURTA-METRAGEM BRASILEIRO
Melhor Filme – “Fantasma neon”, de Leonardo Martinelli
Melhor Direção – Leonardo Martinelli, por “Fantasma neon”
Melhor Ator – Dennis Pinheiro, de “Fantasma neon”
Melhor Atriz – Jéssica Ellen, de “Último domingo”
Melhor Roteiro – Fernando Domingos, de “O pato”
Melhor Fotografia – Fernando Macedo, de “Último domingo”
Melhor Montagem – Danilo Arenas e Luiz Maudonnet, de “O elemento tinta”
Melhor Trilha Musical – “Nhanderekoa Ka´aguy Porã” Coral Araí Ovy e Conjunto Musical La Digna Rabia, por “Um tempo pra mim”
Melhor Direção de Arte – Joana Claude, de “Último domingo”
Melhor Desenho de Som – Alexandre Rogoski, de “O fim da imagem”
Júri da Crítica – “Fantasma neon”, de Leonardo Martinelli
Júri Popular – “O elemento tinta”, de Luiz Maudonnet e Iuri Salles.
Menção Honrosa – “Imã de geladeira”, de Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo, por catapultar a urgente discussão sobre o racismo estrutural através do horror cósmico
Prêmio Especial do Júri – “Serrão”, de Marcelo Lin. Pelo frescor da narrativa a partir de um olhar ressignificado, emergente e com o coração no lugar certo
Prêmio Canal Brasil de Curtas – “Fantasma neon” Leonardo Martinelli

 

LONGA-METRAGEM GAÚCHO
Melhor Filme – “5 casas”, de Bruno Gularte Barreto
Melhor Direção – Bruno Gularte Barreto, por “5 casas”
Melhor Ator – Hugo Noguera, de “Casa vazia”
Melhor Atriz – Anaís Grala Wegner, de “Despedida”
Melhor Roteiro – Giovani Borba, de “Casa vazia”
Melhor Fotografia – Ivo Lopes Araújo, de “Casa vazia”
Melhor Direção de Arte – Gabriela Burk, de “Despedida”
Melhor Montagem – Vicente Moreno, de “5 casas”
Melhor Desenho de Som – Marcos Lopes e Tiago Bello, de “Casa vazia”
Melhor Trilha Musical – Renan Franzen, de “Casa vazia”
Júri Popular – “5 casas”, de Bruno Gularte Barreto
Menção Honrosa – Clemente Vizcaíno, por “Despedida”, pela presença destacada no filme e por sua importância na história do cinema gaúcho
Menção Honrosa – “Campo grande é o céu”, de Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux, pelo resgate da tradição de cantorias e da importância das comunidades quilombolas daquela região do Rio Grande do Sul.

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