CINEMA
Dia da Alemanha e Coréia do Sul na Berlinale 2023
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
redacao@jb.com.br
Publicado em 25/02/2023 às 09:22

Dois destaques encantaram o público presente na 73ª edição do Festival de Berlim na quarta feira (22): “Afire”, do cineasta alemão Christian Petzold, que disputa o Urso de Ouro na mostra oficial, e “in water” (com letras minúsculas mesmo), do sul-coreano Hong sang-soo, selecionado para a Panorama, a paralela mais prestigiada do evento.
Petzold já foi selecionado cinco vezes para a competição oficial, mais recentemente em 2020 com “Undine”. Em 2012, na 62ª edição do festival, ele foi premiado com o Urso de Prata de melhor diretor com “Bárbara”.
“Afire” (“em chamas” em tradução literal) é uma mistura de gêneros que transita entre drama, comédia e até algumas pinceladas de horror.
A trama segue um escritor em crise que, junto com quatro amigos, vai para uma casa de férias no Mar Báltico. Mas as coisas ficam piores quando a floresta seca, ao redor da casa, pega fogo.
Na coletiva com a imprensa, Petzold falou sobre a origem da ideia de “Afire” contando que, no auge da pandemia, estava indo para a França, para o lançamento de “Undine”, quando testou positivo para a Covid-19.
“A doença me provocou sonhos febris. Quando melhorei, precisei ir à Turquia que na época sofria com terríveis incêndios florestais. Nessa mesma ocasião, ganhei de um amigo o livro “Sonhos de uma noite de verão”, de William Shakespeare. A junção dessas três situações, foi a inspiração para realizar o filme”, detalhou o cineasta.
Respondendo a uma pergunta sobre o processo para filmar “Afire”, Petzold disse que houve muitos ensaios.
“Ensaiei até o ponto em que os atores concluíram que, para eles, tudo estava claro no roteiro, não faltava nada”, disse, acrescentando que nesse filme procurou adotar uma postura muito voltada para a direção.
“Acho que sou um expert em personagens que não têm problemas reais e sofrem com paranoias. Quis mostrar tudo que poderia fazer como diretor e achei que falar sobre paranoia era algo que contribuiria para que eu me comunicasse melhor com meus atores”, concluiu o cineasta.

O poético novo filme de Hong Sang-soo
O diretor retorna à Berlinale com sua obra mais intimista, na qual cada imagem foi cuidadosamente trabalhada como uma pintura impressionista.
“in water” segue uma pequena equipe composta por um ator, o cinegrafista e a protagonista feminina chegando a uma ilha rochosa e varrida pelo vento de Jeju, um lugar paradisíaco da Coréia do Sul. O jovem ator, que está em busca de uma ideia para seu filme, explora os arredores, observa o horizonte da costa e espera que surja a luz certa para filmar.
Um dia, ele vislumbra alguém entre as rochas no fundo de um penhasco e isso o leva a mergulhar e trocar algumas palavras com a figura. Graças a essa conversa e a uma canção de amor escrita anos antes, ele finalmente tem uma história para contar.
O filme, que no original é “mul-an-e-seo”, em inglês recebeu o título “in water” porque foi filmado com a câmera desfocada. O longa foi gravado em graus diferentes em cada sequência com a distorção das imagens compondo pinturas.
A opção pela linguagem do desfoque tem a ver com uma questão pessoal do diretor que está com problemas de visão.
Na coletiva após a projeção, ele confirmou que o desfoque tem a ver com a situação que está vivendo.
“eu já não vejo tão bem esses dias”, disse justificando a escolha.
Sob o aspecto autobiográfico do filme, afirmou que “cada vez mais tem tirado inspiração do que acontece nos arredores no momento presente”.