‘Retratos fantasmas’, de Kleber Mendonça Filho, está na Seleção Oficial da 76ª edição do Festival de Cannes
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O filme ‘Retratos fantasmas’, de Kleber Mendonça Filho, será exibido em uma sessão especial do Festival de Cannes, que acontece de 16 a 27 de maio.
Este é o terceiro filme do diretor na Seleção Oficial de Cannes, depois de “Aquarius”, em 2016, e “Bacurau” (codirigido por Juliano Dornelles), em 2019, quando ganhou o Prêmio do Júri.
Em 2021, ele integrou o júri que decidiu o vencedor da Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes.
Além de Kleber e de Karim Ainouz, que concorre à Palma de Ouro com “Firebrand”, o Brasil marca presença ainda na mostra Un Certain Regard, com “A flor do buriti, do português João Salaviza e da brasileira Renée Nader Messora.
“Retratos fantasmas” tem 91 minutos. Foram sete anos de pesquisa para sua realização. É produzido por Emilie Lesclaux para a CinemaScópio Produções e coproduzido pela Vitrine Filmes, de Silvia Cruz e Felipe Lopes. A montagem é de Matheus Farias.
O documentário tem o centro da cidade do Recife como “personagem” principal, sendo um espaço histórico e humano, revisitado através dos grandes cinemas que serviram como locais de convívio durante o século XX. Foram lugares de sonho e de indústria, e a relação das pessoas com esse universo é um marcador de tempo para as mudanças dos costumes em sociedade.
Cerca de 60% é composto por material de arquivo, com fotografias e imagens em movimento encontradas em acervos pessoais, na produção pernambucana de cinema e televisão e em instituições como a Cinemateca Brasileira, o Centro Técnico Audiovisual (CTAV) e a Fundação Joaquim Nabuco.
Em entrevista por Zoom ao JORNAL DO BRASIL, o diretor destacou o significado dessa volta a Cannes.
“Estou muito feliz de ter essa oportunidade. É um festival que eu vou há muito tempo, a primeira vez foi em 1999. Esse é um filme bem diferente e é sobre história. Estou ansioso e muito feliz também”, enfatizou.
Sobre a motivação para ter feito o longa, ele explicou que é um filme sobre a cidade de Recife do seu ponto de vista. E não existem personagens humanos como protagonistas. Esse papel é da própria cidade.
“Ele mostra o cinema como espaço de convívio. Espaço onde vivemos e que mostra como a cidade vai se transformando ao longo do tempo, ao longo dos anos, e isso é visto através das salas de cinema. Recife é o personagem no filme. Eu fotografei não só o centro da cidade, mas procurei mostrar as mudanças que ocorreram, enfim, tudo em volta, o início do filme veio desse material.
“Isso é um fenômeno universal, mundial. Cada cidade tem sua história, o Rio de Janeiro tem sua história relacionada às salas de cinema, Recife tem sua história. No caso, a cidade é um personagem, e eu sendo pernambucano tenho uma relação muito amorosa com ela. “Retratos fantasmas” é um filme sobre o tempo, sobre imagens guardadas. Eu fotografei as salas que ainda sobreviveram e que estavam fechando no final dos anos 80, início de 90. Eu pesquisei na Cinemateca Brasileira, no Centro Técnico Audiovisual (CTAV) e na Fundação Joaquim Nabuco.
São imagens oficiais da cidade, como estávamos procurando; um acervo de imagens que mostrasse Recife”, contou.
O filme já tem muitos convites de festivais ao redor do mundo e no Brasil também.
“Isso me deixa muito feliz. Tudo isso faz parte de fazer cinema.
E eu quero ir onde o filme me leva, não quero arrastá-lo atrás de mim”, afirmou Kleber.
A previsão é que “Retratos fantasmas” estreie no Brasil no segundo semestre deste ano e em salas de cinema tradicionais.
“Ele vai ser lançado nos cinemas e, em algum momento, vai para o streaming. Entendemos que muita coisa mudou, principalmente depois da pandemia, mas nossa ideia é que a estreia seja em salas de cinema”, concluiu o cineasta.