CINEMA

Crítica - ‘Barbie’ (que não é um filme para crianças) pretende ser algo mais do que é. E fica no meio do caminho

Cotação: duas estrelas

Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 21/07/2023 às 10:55

Alterado em 21/07/2023 às 10:55

Margot Robbie no papel da 'Barbie esteriotipada' Divulgação

‘Barbie’, de Greta Gerwig (roteirizado por ela e por seu marido, o cineasta Noah Baumbach, de ‘Frances Ha’), é uma ‘cinebio’ da boneca da Mattel; na verdade, uma ‘crítica’ a tudo o que ela representa (a mulher linda, de corpo impossível, embora fútil), mas sem pegar muito pesado (afinal, não podem falar mal do produto, ficam bem em cima do muro). Na trama, de um dia para o outro, Barbie (Margo Robbie, como a Barbie básica, a mais estereotipada - existem outras no filme) entra numa crise existencial e passa a pensar em coisas como morte e sobre o que existe além de seu lindo e perfeito Barbieworld.

Daí ela dá defeito e, para consertar, precisa vir ao nosso mundo descobrir onde aconteceu a falha (geralmente, é alguém que já brincou com a boneca de forma diferente). Então, após uma primeira parte muito divertida e multicolorida, entra em cena a jornada da boneca em busca de seu ‘eu’ -- numa Los Angeles estranhamente cinza e escura, onde as pessoas só usam preto. O empoderamento feminino entra na pauta e o mundo masculino é questionado. Ok. Mas, na parte final, a diretora perde o pé e vira chororô chato e antiquado, com direito a discurso da criadora da boneca, Ruth Handler, com sua criatura (supostamente inspirada em sua filha, Barbara).

Já se esperava que Gerwig (que até agora dirigiu filmes apenas ok, como ‘Ladybird’ e ‘Adoráveis mulheres’) não fosse fazer algo banal. Tanto que não é ‘censura’ livre, para crianças. Ela expõe questões um pouco mais adultas (ma non tropo) no roteiro e sugere certas coisas nas entrelinhas. Mas Gerwig perdeu a chance de fazer algo muito mais legal, usando dos mesmos expedientes, como já vimos em outros filmes que tocam no tema criador vs criatura. O terço final é bem entediante (números musicais bastante longos e chatos com os Kens, cujo Ken principal é feito por Ryan Gosling), e dá a impressão de que o filme condena a felicidade. Afinal, Barbie (que, vale lembrar, é apenas uma boneca, fruto de sua época, mas se atualizou com outros modelos) é feliz por viver num mundo onde nada do que nos preocupa, ‘do lado de cá’, interessa. Não era preciso faze-la virar ‘uma de nós’ e acabar com a sua felicidade. Ela era feliz. E sabia.

Mas as mulheres (sobretudo, adolescentes) vão adorar. E, no fim, a Mattel, também, pelo mega comercial gratuito da boneca.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.

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