CINEMA

Crítica - ‘Oppenheimer’, o filme mais ousado de Christopher Nolan, quase se perde em sua própria pretensão/ambição

Cotação: três estrelas

Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 24/07/2023 às 17:37

Alterado em 24/07/2023 às 17:38

[Oppenheimer] Cartaz do filme Divulgação

‘Oppenheimer’ é quase a cinebio do físico americano que inventou a bomba atômica, Julius Robert Oppenheimer. Mas não só. É um filme que vai bem além do tema principal. Várias marcas do diretor Christopher Nolan estão lá: filmagens em película i-Max, a trilha sonora tonitruante, e a edição que faz o filme se passar em três tempos. É o filme mais ambicioso de Nolan, que chamou a atenção quando fez a trilogia ‘The Dark Knight’ (levando o Batman dos quadrinhos para outro patamar); e depois, com a fama obtida, pôde filmar o que realmente queria: os intrigantes sci-fi ‘Inception’ e ‘Interstellar’, puxados para teorias de espaço-tempo que ele usou também no filme de guerra ‘Dunkirk’. Seus filmes têm um quê de Alain Resnais (o tempo) e Kubrick (o perfeccionismo).

‘Oppenheimer’ é um filme fascinante, mas difícil. Ele dura três horas. E o que temos, basicamente, são homens (cientistas, militares, professores) falando sobre átomos, fissão nuclear, guerra, bombas. O que poderia interessar a quase ninguém e soar monótono, acaba se revelando também um filme sobre o nosso próprio fim. Para quebrar um pouco a tensão, temos os casos amorosos de Oppenheimer, e seu julgamento, pós-guerra, quando quiseram jogar toda culpa das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em suas costas (além de acusa-lo de ‘comunista’). Nesta parte, o filme fica em preto e branco. E o ‘segredinho Nolan’ (recurso que ele usa na maioria dos filmes), desta vez, é algo dito por Oppenheimer a Einstein, que só ficamos sabendo na última cena. E que nos choca.

O elenco com Cillian Murphy no papel-título tem um nome famoso ou conhecido a cada cinco minutos entrando em cena: Florence Pugh, Gary Oldman, Emily Blunt, Matt Damon, Kenneth Branagh, Robert Downey Jr, Matthew Modine, Casey Affleck, entre outros.

Destinado a prêmios, ‘Oppenheimer’ se perde na própria pretensão do diretor, de fazer um filme ‘importante’. No fim, apesar de levar à reflexão sobre a nossa possível autodestruição consciente, via bomba atômica, não nos dá os mesmos calafrios que ‘Dr. Strangelove’ (aqui, ‘Dr. Fantástico’), do Kubrick. E as liberdades que toma -- como atribuir a criação da frase clássica de Oppenheimer, ‘Me tornei a morte, o destruidor dos mundos’ (tirado de um livro hindu), a um momento aleatório com sua amante -- incomoda. Ainda assim, é um filme sério, como raramente vemos hoje em dia.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.