CINEMA
Crítica - ‘Capitu’ é um novo capítulo para Julio Bressane
Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br
Publicado em 01/08/2023 às 12:47
Alterado em 01/08/2023 às 12:47

Não é toda semana (nem todo mês, nem todo ano) que temos um filme de Julio Bressane em cartaz. E um dos maiores clássicos da literatura nacional, ‘Dom Casmurro’, ganha uma nova leitura cinematográfica pelas mãos de Bressane, em ‘Capitu e o capítulo’, que chega aos cinemas de algumas cidades do país. Nele, o diretor parte do que há de mais cinematográfico em Machado de Assis, e em suas palavras “a trama machadiana, distorcida, é transpassada por cenas, trechos, farrapos de filmes e texturas que se desdobram em capítulos de uma ficção escondida, ainda não vista, que se desvela, e recomeça em outro solo, em outro cosmos...”.
O título parte de um pequeno poema que Haroldo de Campos declamou ao próprio Bressane, em 1984. “O importante no Dom Casmurro não é a Capitu, mas o capítulo...’, disse-me. Capitu/Capítulo, este breve e lapidar poema, logo que o ouvi pela primeira vez, fiquei enfeitiçado, possuído por sua brevidade musical’’, conta o diretor.
No filme, Mariana Ximenes assume o famoso papel de Capitu, cujos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” seduzem o jovem Bentinho (Vladimir Brichta), que, anos mais tarde, na maturidade, narra toda essa história, assumindo o apelido de Casmurro (Enrique Diaz). O que era amor se tornou um ciúme doentio, em devaneios do protagonista que acabaram consumindo a paixão. Com a fotografia assinada por Lucas Barbi, o filme encontra na pintura um de seus principais diálogos. A música, por sua vez, é outro elemento importante: um belo desenho de som, coisa rara no cinema nacional.
Entre outras coisas, o longa ressalta a importância de Machado para a cultura brasileira. E o espectador frui dessa poesia cinematográfica como num sonho. Aos 77 anos, e com cerca de 40 filmes no currículo, Bressane (contemporâneo, com o já ido Rogerio Sganzerla, do cinema ‘udigrudi’) continua provocador, desde ‘Matou a família e foi ao cinema’ (1969).
Ah, tem ceninha final com o diretor.
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