Crítica - ‘Disco boy’: a dura realidade de um legionário ao se confrontar com um mundo que desconhecia

Cotação: três estrelas

Por TOM LEÃO

Franz Rogowski faz Aleksei, que se alista na Legião Estrangeira para ganhar cidadania, mas, enviado à África, descobre uma realidade que desconhecia

Premiado no Festival de Berlim deste ano com o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística, ‘Disco boy: choque entre mundos’ é estrelado pelo alemão Franz Rogowski (de ‘Uma vida oculta’), e dirigido por Giacomo Abbruzzese, em sua estreia em longa-metragem. Na trama, Aleksei, um imigrante que foge de seu país (Bielorrússia) em busca de refúgio, entra na Polonia como parte de grupo de torcedores de futebol (com data para voltar). Mas foge do grupo, pois seu sonho é morar na França. Após cruzar partes da Europa, ele chega finalmente a Paris. Mas, como fazer para sobreviver e não ser expulso como ilegal? A solução é se juntar à Legião Estrangeira, com a promessa de conseguir seu visto permanente e ser legalizado.

Paralelamente, no Delta do rio Níger, no Mali, está Jomo (Morr Ndyaye), revolucionário do MEND (Movimento de Emancipação do Delta do Niger) envolvido em luta armada para defender seu povo. Após o grupo de Jomo sequestrar cidadãos franceses, Aleksei é enviado para comandar uma operação naquele local. Daí advém o título em português, ‘Choque entre mundos’. Lá, Aleksei toma contato com todo um novo mundo e cultura, e fica impressionado com a beleza exótica de Udoka (Laetitia Ky), que passa a povoar seus sonhos. Da metade para o fim do filme, o que temos são os delírios de Aleksei (excelente trabalho físico e emocional de Rogowski) e questionamentos sobre a atuação colonialista da França no Norte da África.

Além da parte dramática, o filme é uma experiência extremamente sensorial (a fotografia e a música são muito importantes na criação dos climas), por vezes flertando com o realismo fantástico. A trilha sonora de tons eletrônicos, assinada por Vitalic (o DJ e produtor musical francês, com descendência italiana, Pascal Alberz-Nicolas), é muito importante para a construção desse clima, fazendo uso de seus característicos tons electro pontuais, para ampliar a sensação de lisergia. Assim, pelos olhos de Aleksei (ou serão os de Jomo?), deliramos e refletimos sobre as mazelas do mundo.

_______

COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.