Mostra no Museu de Arte Moderna celebra o centenário de Mario Civelli
O consagrado diretor Mario Civelli (1923-1993), nascido em Roma e radicado no Brasil, é tema de mostra no Museu de Arte Moderna (Mam), neste mês de dezembro (7 a 22), celebrando o seu centenário de nascimento.
Patrícia Civelli, filha do cineasta, diretora de Memórias Civelli e cuidadora do acervo com o produtor Mário Cesar Cabral, falou ao JB sobre sua satisfação com a homenagem: “Acho muito importante essa mostra que estamos organizando junto com o Mam porque destaca a relevância de Mario Civelli para o cinema e também a grave situação em que se encontra o acervo”, disse.
O gerente da Cinemateca, Hernani Heffner, conta os detalhes e explica o cerne da mostra.
JORNAL DO BRASIL - Poderia falar um pouco mais sobre a mostra?
HERNANI HEFFNER - A Cinemateca do Mam Rio tem procurado dar continuidade à divulgação, estudo e celebração do cinema brasileiro de todas as épocas. Nesse sentido, logo após o acervo da Memória Civelli ter sido sancionado pelo Conselho Nacional de Arquivos, propôs desenvolvermos conjuntamente alguma atividade, que acabou se transformando na celebração do centenário de nascimento de Mario Civelli, e cujo início será agora em dezembro de 2023.
A mostra evoluiu da apresentação de alguns filmes em suporte digital, pois a filmografia completa em película precisa de restauração e/ou digitalização em alta resolução, para um evento mais amplo, com exposição de fotos e cartazes relativos à sua vida, carreira e filmes, uma palestra de mesas de conversas, com a participação da produtora Patrícia Civelli, filha de Mario e guardiã da memória do clã Civelli, da antropóloga Elizabeth Rondon Amarante e de Eduardo Escorel, diretor da última produção de Mario Civelli (“Rondon, o sentimento da terra”); e de Mauro Domingues, arquivista, restaurador e diretor do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB) que se associou à realização dessa mostra.
A proposta aborda um pouco da vida pregressa ao cinema de Civelli, a atividade como produtor e distribuidor, e o legado que deixou para o cinema brasileiro, como a introdução de equipes técnicas de origem italiana, a introdução do cinema colorido em filmes de longa-metragem, o desenvolvimento de um cinema exploitation, o lançamento no mercado de nomes de diretores consagrados, como Glauber Rocha, José Mojica Marins e Luís Sérgio Person, e a produção e direção de filmes emblemáticos como “O caso dos irmãos Naves”, dirigido por Person, que é uma denúncia da tortura pelo estado, ainda nos primeiros anos da ditadura militar de 1964, e ainda “O gigante”, um dos primeiros "filmes de arquivo" de fato (para além das compilações realizadas até então) da história do cinema brasileiro.
Soube também que serão mostrados, entre outros, “Bruma seca” e “Homem dos papagaios”. Qual critério norteou a escolha desses filmes, entre tantos clássicos dirigidos por ele?
A escolha seguiu dois critérios básicos: a disponibilidade de cópias e a opção por diferentes gêneros experimentados por Mario Civelli ao longo da sua carreira, como o drama social, a comédia de costumes, o filme de aventura ("de selva", como se dizia então) e o épico histórico. Dadas as restrições quanto a títulos perdidos, como “Fatalidade”, ou necessitando de urgente restauração, como “O craque”, optamos por um panorama amplo, embora não exaustivo.
Serão disponibilizados documentos que nunca foram mostrados. Houve dificuldades /obstáculos que precisaram ser vencidos para exibir esse material ao público?
A exposição não teve dificuldades em si. A documentação vem sendo zelosamente preservada pela Memória Civelli, que gentilmente a disponibilizou para ser digitalizada. Algumas peças já estavam duplicadas ou restauradas. Outras tiveram que ser manipuladas com maior cuidado. A confiança na Cinemateca é que vai propiciar o contato com documentos nunca antes exibidos em público, como o ofício do 5º Exército Americano durante a Segunda Guerra Mundial, informando que Mario Civelli era o "production manager" cinematográfico da unidade, e que contava com jovens cineastas como Federico Fellini, Mario Soldati e Mario Monicelli.
Entre as inúmeras ações que Mario Civelli realizou, qual ou quais você destacaria como aquela (s) que mais contribuiu (contribuíram) para o cinema brasileiro?
Mario Civelli foi uma usina de criação, atento às tendências do momento (cinema de estúdio, neorrealismo, exploitation). Sua maior contribuição, vendo de um ponto de vista pessoal, foi ter se envolvido com a saga da conquista do território brasileiro, personificada na figura do marechal Cândido Mariano Rondon, a quem dedicou alguns filmes e projetou muitos outros.
Entre os filmes, destacaria um que foi produzido recentemente por sua filha Patrícia (diretora de Memórias Civelli), que é “O Rio da Dúvida”, dirigido por Joel Pizzini e que narra uma viagem do Marechal Rondon junto com o ex-presidente americano Theodore Roosevelt.