Mostra A Força de George Lucas celebra no Rio o mestre veterano do cinema

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Por PEDRO RODRIGUES

Kaio Caiazzo e Guilherme Salomão são os curadores da mostra A Força de George Lucas

THX 1138, Curt Henderson, Darth Vader, Indiana Jones e muitos outros personagens foram criados pelo cineasta, produtor e roteirista George Lucas. Um dos responsáveis pela criação do cinema pop, que surgiu com força nos anos 70, completou 80 anos em 14 de maio deste ano, e para comemorar a data o público carioca é presenteado com a mostra A Força de George Lucas. De 18 a 25 de setembro, no cinema Estação NET Botafogo (R. Voluntários da Pátria, 88), será exibido um apanhado bem completo da carreira cinematográfica de George Lucas, passando por pérolas como “Tucker um homem e seu sonho” e, é claro, a maior saga cinematográfica de todos os tempos: Star Wars.

Conversamos com os curadores da mostra, Guilherme Salomão e Kaio Caiazzo, sobre o evento:

 

 

Como surgiu a ideia da mostra A Força de George Lucas?
Guilherme Salomão: Sou um grande fã de Star Wars desde os 9 anos de idade. Amadureci vendo a saga. Quando vi “A vingança dos Sith” pela primeira vez, foi amor à primeira vista. Dali, logo depois fui descobrir Indiana Jones, e por aí foi. A paixão pelo cinema nasceu disso. Cresci assistindo aos filmes do George Lucas, e foi ele quem me introduziu às minhas primeiras grandes paixões dentro desse universo. Acho que, antes de descobrir Scorsese, Kubrick e Fellini, foi ele quem me fez amar cinema mesmo. Cresci e essa admiração só aumentou conforme fui lendo e conhecendo mais sobre ele. Virei um cinéfilo frequentador do Estação Net. Nos últimos anos, o Estação vem promovendo várias mostras incríveis, frequentei várias e me tornei próximo do pessoal de lá. Foi aí que, um pouco mais de um ano atrás, eu me toquei que o Lucas ia fazer 80 anos em 2024. Foi nesse momento que surgiu a ideia efetivamente. E o sentimento de que, de alguma forma, eu precisaria fazer isso acontecer!

Kaio Caiazzo: Eu conheci Guilherme Salomão como uma presença ativa dessa nova geração que ocupa o Estação, presença fiel nas sessões da meia-noite e nas exibições dos grandes clássicos. Aquele cinema é como uma casa para mim, onde já venho organizando e apresentando eventos para celebrar mestres veteranos do cinema brasileiro e mundial. Todo mês a programação oferece alguma retrospectiva ou imersão em cineastas fundamentais de diferentes décadas e sotaques. E nada de aparecer o George Lucas, que ainda é visto por grande parte do público como “apenas Star Wars”. Data de seus 80 anos em 2024 já estava no meu radar de fã desde o ano passado, quando fiz uma retrospectiva completa pelos 85 anos de Walter Lima Jr., em parceria com Gregory Baltz. Meu encontro com o Guilherme, desde as primeiras conversas, foi a faísca que faltava para levar a iniciativa adiante.

 

De quem foi a curadoria do festival?
Guilherme: Quando comecei a pensar nesse projeto, apresentei a ideia para um dos programadores do Estação, o Gabriel Carvalho. Mas eu sentia que não sabia muito como agir para ser de fato uma proposta de algo viável para além de uma seleção de filmes feita por mim para serem exibidos. Foi aí que um belo dia de gravação de um filme por Botafogo, em que participo como assistente, conheci o Kaio Caiazzo. Foi o encontro de almas perfeito! Cinco minutos de conversa e logo descobrimos vários interesses em comum. Um dos principais foi a figura do George Lucas. Contei para ele dessa minha ideia e ele logo me disse que também pensava na mesma coisa. Nos juntamos para debater possibilidades. Editais para centros culturais demorariam muito. Além disso, se a mostra um dia acontecesse, não seria no ano exato dos 80 anos do George. Foi aí que conseguimos levar uma ideia mais concreta para o Estação Net, que abraçou de vez o projeto. Nós somos extremamente gratos por isso. Dizem que nada é por acaso, e não foi por acaso que eu conheci o Kaio. Ele já tinha experiência com mostras de outros cineastas em centros culturais como a Caixa Cultural. Mostrei a lista de filmes que pensei, ajustamos alguns detalhes e, juntos, assinamos essa curadoria com um orgulho imenso.

Kaio: As primeiras conversas com Guilherme já deixaram evidente que George Lucas era nosso grande ídolo em comum, e que uma mostra retrospectiva era do máximo interesse de nós dois. A partir dessa certeza, fomos afinando a curadoria em dupla: Guilherme mais focado na elaboração dos textos, eu mais voltado para apresentação e identidade visual do projeto, uma troca alinhada no “isso não pode faltar!”. É um prazer viver esse processo com um amigo. Para além dos filmes exibidos na sala, existe ainda uma página no Instagram (@mostrageorgelucas) diariamente atualizada com curiosidades e informações, organizada pelos dois, e um catálogo com análises de convidados. É uma grande celebração (essa é a palavra) pensada e executada por dois fãs absolutos. O George Lucas cineasta, a Lucasfilm produtora. E a força ao redor disso.

 

Quando falamos de George Lucas, claro que falamos de Star Wars. Teremos alguma surpresa para o apaixonado fã da saga dos Skywalkers?
Guilherme: Todas as surpresas possíveis para quem conhece a carreira do George Lucas de forma abrangente! Claro que para os fãs de Star Wars e para quem talvez só se importe com Star Wars mesmo, a graça vai ser justamente testemunhar os seis filmes feitos por ele na tela grande! Justo! Mas a ideia da mostra é ir além disso, despertar a curiosidade em quem talvez não conheça o restante das coisas que ele fez. Quando selecionei os filmes, foi a primeira coisa que passou na minha cabeça. Temos que celebrar a Magnum Opus dele, claro. Mas o Lucas é um cara com uma carreira e trajetória muito interessante, se envolveu em vários projetos sensacionais, tanto como diretor quanto como produtor ou roteirista. A ideia é celebrar ele como um todo. Sinceramente, é algo que eu não fiquei sabendo de ter acontecido em nenhum outro lugar. Pelo menos não dessa forma abrangente que pensamos.

Kaio: Star Wars é uma presença incontornável, mas como curadores optamos pela saga criada e idealizada por ele. Ou seja, não entram os episódios 7, 8 e 9 produzidos pela Disney, assim como as posteriores séries para a TV. O recorte da curadoria são os filmes que ele escreveu, dirigiu e/ou produziu. A mostra dura uma semana no total, e os seis episódios da saga Star Wars com assinatura de George Lucas serão exibidos em maratona - três seguidos no sábado, três seguidos no domingo. Imersão total. Uma oportunidade de mergulhar nessa galáxia com sala cheia, na telona da maior sala do Estação NET Botafogo.

 

Qual filme que vocês mais aguardam para ver na telona?
Guilherme: Sempre digo que “Star Wars: Episódio IV – Uma nova esperança” (ou só “Guerra nas estrelas”, para quem é das antigas) é meu filme favorito da vida. Não por ser necessariamente o melhor que eu já vi. Mas sim por ter definido muito de quem eu me tornei. A sessão de abertura vai ser justamente ele. Confesso que o coração acelera só de imaginar a vinheta da Fox seguida do logo da Lucasfilm e depois a abertura tão icônica de Star Wars. Quero ver a plateia reagindo. Espero muito que reaja, porque sempre é de arrepiar quando acontece. Fora isso, pensando nessa questão dos filmes do Lucas sempre terem muito do próprio Lucas, quero muito ver “Loucuras de verão” na tela grande também. Quero que as pessoas descubram esse filme. Muita gente costuma criticar o George Lucas cineasta e roteirista, mas se você assiste a um filme como esse (ou como “THX 1138”, que foi o primeiro longa dele), percebe que ele sempre teve um bom olho para certas coisas e certas ideias de direção e visuais, sempre trouxe os comentários sociais tão valiosos para ele nas entrelinhas etc. E o filme se passa na cidade dele, Modesto, na Califórnia, tem personagens divertidíssimos inspirados em fases da vida dele mesmo e fala sobre a geração dele. É importante e muito legal descobrir esse George Lucas! Quero que as pessoas façam isso enquanto esse artista incrível ainda está por aqui firme e forte, recebendo Palma de Ouro honorária em Cannes e tudo!

 

Todos os filmes de Lucas têm um pouco do próprio. A mostra passa por toda essa extensa carreira. Quais os filmes que podem surpreender o público que está mais habituado com o “cinema pop” de George Lucas?
Kaio: O mais fascinante para mim é que George Lucas sempre foi, acima de tudo, um cinéfilo apaixonado. Ele pegou referências nos filmes de Akira Kurosawa, cinema europeu e westerns americanos para criar uma obra extremamente autoral e indiscutivelmente revolucionária. Os ecos estão no “THX 1138", estão no "American graffiti”, estão em tudo que ele buscou viabilizar como produtor - inclusive, em retribuição afetiva, investindo na “retomada" do próprio Kurosawa que tanto o inspirou, quando o japonês estava decadente e esquecido. Lucas é um homem moldado pelo cinema. Parte do objetivo dessa mostra é apresentar essa vastidão artística, possibilitar a descoberta de uma obra apaixonante que vai muito além de uma galáxia distante. Esse homem é tão presente na minha formação como cineasta que alguns amigos até dizem que me pareço com ele. É um baita elogio. Os documentários sobre seus processos criativos foram aulas fundamentais para a certeza de que eu faria e viveria cinema. Tenho certeza de que os cinéfilos presentes vão sentir isso. O maior barato dessa mostra será acompanhar novos públicos testemunhando “Loucuras de verão” e "Kagemusha, a sombra do samurai” numa telona. O próprio “THX”, tão à frente de seu tempo e tão esnobado até hoje. Uma nova esperança. A Palma de Ouro honorária em Cannes não foi gratuita, não é bobagem. George Lucas é magia do cinema, e celebração disso em tudo que realizou. Nada mais justo que celebrar!

 

 

Serviço: Mostra A Força de George Lucas / Datas: 18 a 25 de setembro / Estação NET Botafogo / Rua Voluntários da Pátria, 88, Botafogo, Rio de Janeiro / Ingressos neste link