O Empório é vivo!

Empório 37, em Ipanema, faz 40 anos cheio de surpresas e com boas lembranças

Por PEDRO RODRIGUES

Gabriel e Giovanna Itajahy, sócios do Empório

Ao procurarmos no dicionário a palavra “alma” encontramos a seguinte definição: composição imaterial de uma pessoa que perdura após sua morte; espírito. A alma é composta de diversas partes do seu ser. Afinal, somos seres complexos e vivos. Rimos, choramos, nos divertimos, entristecemos e, em algum lugar dentro de nós tem um pedaço onde somos eternamente jovens, rebeldes e felizes. Essa pequena parte desta alma jovem, rebelde e feliz do Rio de Janeiro está completando 40 anos nesse sábado (8). Desde 1982, o Empório 37 abre, religiosamente, na Rua Maria Quitéria, 37, em Ipanema, para muito chope, Rock and Roll e lembranças eternas dos seus frequentadores.

Para comemorar este aniversário da “casinha”, apelido dado pelos assíduos frequentadores ao bar, conversamos com os atuais sócios do Empório, os irmãos Gabriel, Giovanna e Ana Carolina Itajahy e a atual gerente Laís Vailan. Um papo bem legal sobre o começo do Empório, as mudanças durante estas 4 décadas, planos para o futuro e lembranças do saudoso gerente Vicente.

 

 

Entrevista

JORNAL DO BRASIL: Vamos começar do começo mesmo. A família Itajahy possui uma ligação muito forte com Ipanema. O Seu José, avó dos sócios, foi o dono da boutique Bibba, que ficava na própria Rua Maria Quitéria. Como foi a mudança de negócio, de uma boutique de moda, para um bar?

Gabriel Itajahy: A Bibba tinha 3 lojas na Maria Quitéria. A de moda feminina ficava na esquina, a infantil ficava no imóvel na frente do Empório, que era o local da loja de moda masculina. A infantil era muito diferente porque os atendentes eram todos anões que brincavam com as crianças, o teto da loja tinha animais de verdade,. pássaros e micos, principalmente.

Giovanna Itajahy: Era uma loucura. De vez em quando, um animal fugia e aparecia na loja um bombeiro para devolver o animal. Além disso, tinha um cowboy e uma bailarina atendentes. Enfim, a família sempre foi muito criativa.

Gabriel Itajahy: Então o nosso avô, sempre com ideias novas, resolveu mudar de negócio e abriu, na Maria Quitéria 37, o Empório Secos e Molhados. Onde era a loja infantil, ele vendeu o ponto e acabou abrindo o "Sushi Brasil", que foi um primeiros restaurantes japoneses do Rio. Isso foi em 1982. A ideia do Empório Secos e Molhados era ser um armazém com bebida e uma grande novidade que era a jukebox. E por ser um Empório, servimos queijos, embutidos e uns pratos da culinária Nordestina.

Ficamos 10 anos com a jukebox. Depois deste tempo, começamos a notar alguns problemas como o cansaço do público daquelas músicas, e reclamações de outra parte por ter a jukebox. Foi neste momento que nosso pai, Lauro, tirou a jukebox e colocou DJs. Ele nasceu em Ipanema e conhecia toda a galera jovem, que chamou para trabalhar no Empório. Assim, ele criou um ambiente único de trabalho com os amigos. Foi neste clima de renovação que o Rock and Roll entrou de vez na “Casinha”.

Giovanna: O rock era o caminho natural. Com a chegada do DJ, vieram as bandas de garagem e depois de 8 anos, em 1996, o Empório se consolidou como casa do rock.

Nota da reportagem: O timing para essa mudança foi perfeito. Em 1991, o rock estava em alta com a chegada das bandas de Seattle, como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden.

 

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A Bibba

A Bibba anunciou uma nova era no estilo carioca. Enquanto o mundo se recuperava do Vietnã, desencadeando a onda hippie, José Luiz Itajahy trazia o lado bom desta fase que mudou o jeito de vestir geral. Em lugar das elegantes poltronas de veludo e das vendedoras de preto e branco das lojas da época, havia roupas penduradas no teto, almofadões de estampa indiana e uma iluminação sutil. As garotas de 20 anos, as universitárias que corriam nas manifestações e as belas de Ipanema TINHAM que ter as camisetas justinhas, com bolsinho do lado esquerdo. PRECISAVAM das calças boca de sino, com triângulo na barra. Era um movimento irresistível de renovação na cidade, o anúncio da era das butiques que lançavam novas ideias para todo o país.

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Os sócios


JORNAL DO BRASIL: Quando você assumiram o Emporio?

Ana Carolina: Em 2014. O nosso pai teve uma conversa com nós três e foi bem claro, que se não tivesse ninguém para trocar o negócio, o bar iria fechar. Eu e Giovanna, na época, tínhamos uma lojinha no Humaitá e resolvemos fechar para tocar o Empório.

O Gabriel assumiu o bar, eu fiquei um ano na cozinha, e a Giovanna no atendimento. Aos poucos fomos melhorando o cardápio, vendo junto ao clientes o que funcionava e o que não estava funcionado.

Giovanna: Essas mudanças passam pelos ingredientes que começamos a utilizar. Todos os produtos são frescos e premium. Por exemplo, nosso chips de aipim é feito com o aipim que colhemos no nosso sitio no Sana.

Gabriel: Para o cardápio, tivemos um tio que trabalhou no restaurante Veríssimo. de Petrópolis. que nos ajudou na criação da massa de pizza feita com cerveja. Essa massa é superfina e deu muito certo. No bar, mudamos algumas coisas também como a marca do Gin e da Vodka. Uma vantagem que temos é não ter um sistema “engessando” a cozinha e o bar. O cliente de vez em quando chega e sugere uma mudança ou um novo ingredient, e se tivermos vamos em frente e servimos, sem problemas.

 

Pandemia 


JORNAL DO BRASIL: O Empório é um negocio baseado em pessoas. A pandemia foi um baque muito grande no mercado de restaurantes e bares. Em estudo de outubro de 2021, ainda na pandemia, 53% dos bares e restaurantes operavam com prejuízo. Como foi esse complicado período para o Empório?


Gabriel: Aquela primeira abertura [Diário Oficial 20 de outubro 2020 aqui] foi fundamental. Aquilo foi um alivio tão grande. Se passasse mais um mês, teríamos que devolver o ponto. Tivemos um desconto de 50% no aluguel, mas o aluguel é apenas uma de muitas contas.

Ana Carolina: O fechamento às 23h era engraçado. O pessoal chegava as 22h30 e, quando a coisa começava a esquentar, o bar tinha que fechar.

 

Vicente

Quem é frequentador antigo do Emporio 37, sempre terá um carinho especial pelo Vicente. O gerente/chefe do picadeiro/animador/segurança/amigo daquelas noitadas marcou época. Seu falecimento em agosto de 2011 foi um duro golpe. Conversamos um pouco sobre essa figura querida de todos.

 

 


JORNAL DO BRASIL: Como foi a chegada do Vicente ao Empório?

Gabriel: Meu pai, Lauro, conheceu o Vicente trabalhando em um boteco pé-sujo no Vidigal, lavando louça. Começaram a conversar e imediatamente ele fez a proposta ao Vicente para trabalhar no bar. Foi engraçado porque o dono do pé-sujo ligou para ele para dizer “voce não vai aguentar esse cara uma semana”.


Laís Vailan: Acho importante comentar que muita gente comentava que ele era muito ranzinza, mas todos gostavam muito dele. Era quase um rude-engraçado.


Giovanna: O Vicente ficou muito famoso. No enterro dele apareceu um mar de gente na porta do bar. Eram quase 3 mil pessoas. [video abaixo]. Ele era extremamente culto, conversava sobre todos os assuntos. Além de ter uma paixão por cinema. Ele ia direto para o cinema mesmo sozinho. Ele tinha essa parte teatral muito forte. Dentro do Emporio ele criava o personagem dele.

 

 

 


Programação - Empório 37, 40 anos

Endereço: Rua Maria Quitéria 37 - Telefone: (21) 3734-5834

 

SÁBADO 8/10

Primeiro piso:
20h às 23h GuZ
23h às 02h Carol Novaes
02h às 05h João Maizena

Segundo piso:
22h30 Banda Dub Clb
00h às 02h00 Alexizbcx + Bruce Wayne (violino)
02h às 05h Nicko e Léo Soares